O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 432 - Escrito em: 1999-12-01 - Publicado em: 1999-12-06


Cursor animado demais


Aplicação aparentemente inocente oculta lamentável baixaria

Se a leitora usa os cursores animados para Windows produzidos pela Comet Systems, é bom que sabia que eles silenciosamente realimentam informações sobre os seus hábitos de browser de volta para a empresa. Milhões de usuários no mundo todo foram surpreendidos por esta desagradável notícia. Cada vez que a usuária visita o site da Comet ou de uma de suas dezenas de milhares de empresas afiliadas, as informações que foram coletadas da máquina da incauta são transmitidas para a companhia, de modo a serem posteriormente analisadas e usadas não se sabe ainda como. Quem nos revela essa gritante invasão de privacidade é Lauren Weinstein <[email protected]>, do grupo de moderadores do Privacy Forum. Dentre os afiliados que também chupam os dados particulares do computador da vítima figuram sites direcionados a crianças, bem como sites de tirinhas e cartuns populares, como o do nosso Dilbert.

Segundo os caras da Comet, os dados coletados são "anônimos", não incluindo nomes, emails nem qualquer outra informação crítica. Não precisa ser nenhum gênio para perceber que práticas dessa natureza poderiam permitir um mau uso futuro dessas informações ou mesmo a coleta intencional de dados privados, mas o pessoal da Comet tem a cara-de-pau de afirmar que essas possibilidades são meramente teóricas e não realistas.

Quem usa um cursor animado normalmente não tem a menor idéia de que pode estar tendo dados seus retransmitidos para uma companhia. É uma bruta covardia, convenhamos. Quando Lauren sugeriu ao gerente da Comet que mandasse exibir um aviso na tela do usuário informando do fato, o cabra respondeu que quase ninguém gosta de ser perturbado assim no momento da instalação. Disse também que é raro ver alguém lendo de cabo a rabo uma licença de software, dessas que aparecem quando se o está instalando. Em suma, descartou que a Comet venha um dia a avisar o usuário da safadeza que está cometendo. No entanto, pelo menos, disponibilizaram instruções sobre como remover os tais cursores animados. Vá logo ao site, antes que ele suprimam essas dicas: <www.cometsystems.com/download/cleaner.shtml>. Quem usa Microsoft Internet Explorer precisará dar alguns passos adicionais para remover o maldito: <http://download.cometsystems.com/no_nag/nonag.asp>


Peguei um ônibus outro dia para a Região dos Lagos e conheci uma jovem estudante da PUC-RJ chamada Carol que mora em três cidades: Rio, Friburgo e Cabo Frio. Como ela consegue isso eu não sei. Mas, papo vai, papo vem, e acabei sabendo que ela também é criatura de Internet e, apesar de novinha, já tem boas histórias para contar. Dos causos que me narrou, destaco uma paixão digital que ela conheceu através da Rede. Não me lembro se foi via email ou numa sala de chat, mas fato é que pintou um rapaz que rapidamente a encantou pela forma com que escrevia. Ela também, charmosa como é, decerto fascinou o cidadão logo nas primeiras mensagens. Daí por diante se viram a trocar emails cada vez mais envolventes.

A história poderia ter sido apenas mais uma entre tantas outras parecidas, se não fosse pelo ritual da troca de fotos. Quando chegaram ao ponto de trocarem jotapégues, ele tomou a dianteira e, designer gráfico que é, teve uma sacada bem criativa. Enviou para a Carol uma foto sua devidamente photoshopada de modo a parecer fora de foco. No corpo da mensagem disse ele que, à medida que fossem se conhecendo melhor, ele iria nitidizando a imagem aos poucos. Carol me disse que, logo de cara, havia ficado meio aborrecida com aquele misteriozionho besta. Mas apreciou a originalidade do sujeito e pôs-se a matutar uma forma de dar o troco. No dia seguinte, enviou para o camarada uma foto tirada numa reunião de amigas, em que apareciam ela e mais de dez meninas lindas e produzidas em torno de uma mesa de restaurante. Obviamente não revelou quem era ela no meio daquele mulherio todo. E assim, a coisa se arrastou por um bom tempo. De tanto em tanto, ele enviava uma foto mais nítida e ela suprimia um dos rostinhos na foto do grupo. Ao final, sobrou apenas uma carinha e, do outro lado, a foto do rapaz estava em perfeito foco. Só então combinaram um encontro olhos nos olhos e começaram direto um tórrido namoro no mundo real. Infelizmente nesse ponto do enredo, o ônibus chegou ao meu ponto e tive que descer às pressas. Pelo jeito, nunca saberei o final da história, a menos que um dos envolvidos algum dia mo venha a contar.


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