O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 436 - Escrito em: 1999-12-27 - Publicado em: 2000-01-03


O conforto das compras online


Vendas pela Web causam problemas para empresas de entrega

Nossos filhos ainda vão comentar à mesa no jantar sobre os tempos idos em que seus pais faziam compras indo pessoalmente às lojas. Imagine, dirão eles, ter que pegar o carro e ir até o shopping para comprar roupa, que chatice. Atualmente, quase não encontro mais gente internauta que nunca tenha comprado algum treco pela Rede. Há uns poucos que alegam medinhos infundados de enviar pelos fios de cobre o número do cartão de crédito, pelo risco de que o chupem de algum jeito. Bobagem, leitora. Quantas vezes você mesma estica essa mãozinha linda para o garçom entregando seu cartão para ele levar para trás dos bastidores e, se for um facínora, fazer várias cópias do boleto? E no posto de gasolina? Portanto, basta que não exageremos, fiquemos atentos aos extratos mensais e vamos ao consumo on-line!

Neste último Natal, as compras feitas via Web nos Estados Unidos superaram todas as expectativas. Quem atesta o fato é a turma da entrega: "Cerca de metade dos pacotes têm algum tipo de ‘ponto com’ neles. Parece que todo mundo está comprando alguma coisa on-line ultimamente. Estou trabalhando quase o dobro.", disse Scott Johnson, motorista de entregas da UPS (United Parcel Service) em Doraville, Georgia, EUA. A empresa ainda não tem os números oficiais com relação às entregas deste Natal, mas espera-se que tenha batido o recorde de 18,1 milhões de pacotes entregues na véspera de Natal em 1994. A UPS faz em média 12,5 milhões de entregas por dia e este novo possível recorde seria em grande parte atribuído à explosão de vendas a varejo via Internet.

Os números estonteantes indicativos do crescimento no comércio eletrônico vêm forçando as empresas de entregas a encontrarem saídas criativas. A UPS precisou contratar 90 mil temporários para as entregas deste Natal e, pela primeira vez, empregou famílias inteiras em expediente integral, para cobrirem suas próprias vizinhanças. Em alguns casos, a companhia distribuiu carrinhos elétricos de golfe, daqueles que se vê nos filmes perambulando pelos campos gramados transportando até dois jogadores junto com seus tacos, tralhas e equipamentos. Segundo Rick Robertson, gerente distrital da UPS no estado da Georgia, os temporários se esmeraram no trabalho, circulando de carrinho pelas redondezas entregando os pacotes a domicílio e muitas esposas deram o toque doce à coisa, decorando os silenciosos veículos com motivos natalinos.


O jargão da Internet continua dando briga. Tenho visto leitoras iradas com essa mania de se dizer "atachado", com respeito aos arquivos anexos a mensagens. Estão certíssimas, pois o termo é uma autêntica aberração. Mas não há o que fazer, atachado já pegou. Site também pegou, a despeito dos louváveis esforços de próceres como o meu amigo Piropo, que ainda luta bravamente pelo "sítio". Uma leitora mandou-me email muito zangado dizendo que não existe a palavra atachado e que o termo estaria "erradésimo". Na mesma mensagem, fez diversas reclamações, dizendo que a tarifa telefônica estava "carésima" e depois passou às amenidades, contando que a festa de Natal que ela passou num iate estava "animadésima". Seria melhor que ela usasse sem culpa os neologismos da Rede e se dedicasse um pouco mais ao estudo dos superlativos absolutos sintéticos. Como prova de estima à gentil leitora, passei no scanner as páginas da gramática do Cegalla que tratam do assunto e mandei pra ela via email o jotapégue... atachado.

Outra moda é escrever Internet como "internet", ou seja, como substantivo comum. Pode até ser que cole, mas acho melhor aguardar um pouco mais. No linguajar das redes e da informática sobejam exemplos de termos que corajosamente se mantiveram maiusculizados ao longo dos anos: Bitnet, Centrex, Centronics, Ethernet e Windows, entre outros. Por ora, fico com a velha grafia Internet mesmo, mas não digo que desse prato não comerei. Se pegar a moda...

Sou partidário dos que lutam por preservar nossa língua pátria, mas sem exageros. Até os mais caxias escreveram "bug" do milênio. Qual de nós nunca "ressetou" o micro ou "deletou" um arquivo? Vamos lá, pessoal, pega leve. Agora, o que não pode é o que fez uma leitora muito querida, amiga de coração, que prefiro manter incógnita. Ela tem dois endereços email, um de casa e outro do trabalho, numa poderosa multinacional com sede na Zona Sul do Rio. Ela faz parte da Golden List, uma lista grátis para onde envio esquisitices que vou encontrando na Rede (quer participar também, leitora?). Acontece que cadastrei essa amiga com os dois endereços e ela começou a receber no escritório textos sobre curiosidades em trigonometria esférica e sobre hábitos sexuais da libélula Ninja do Iêmen. É natural que tenha me pedido para remover seu email profissional da Golden. Mas vejam só como ela escreveu, supra-sumo do esnobismo anglicista: "Você poderia retirar este e-mail address da sua lista e deixar só o outro. Este é do meu trabalho e não está em compliance com a nossa politica [sic] de e-mail. Grata." É claro que continuo gostando de você como antes, amiga, mas se te pego, te encho de cascudo.


Um ótimo ano vintecentos para todos!


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