O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 441 - Escrito em: 2000-01-31 - Publicado em: 2000-02-07


Os encantos da lowtech


Nem abusando da alta-tecnologia, nem vivendo como homem das cavernas

Diante da impressionante revolução tecnológica que nos vem engolindo, alguns revoltosos ocupam espaço, mesmo que mínimo. Numa galeria chamada Shedhalle <www.shedhalle.ch>, situada em Zurique, Suíça, está sendo lançado um novo projeto, o LowTech, que significa "baixa tecnologia" e coleta diversas iniciativas criativas, questionando produndamente o desenvolvimento atual em tecnologia e economia.

Segundo os organizadores do evento, as condições econômicas atuais exercem forte pressão no sentido da permanente produção de bens e aparatos que não objetivam primordialmente os interesses de seus potenciais usuários, mas sim as necessidades crescentes de consumo e lucro, inerentes ao sistema vigente. Uma vez que a alta tecnologia vai se tornando gradativamente mais complicada, as pessoas comuns são freqüentemente dominadas por sentimentos de impotência e acabam por submeter-se à situação, geralmente a contragosto. Em paralelo, as aplicações das máquinas e sistemas de hoje em dia vão se tornando cada vez mais opacas.

O argumento dos que ainda estão ferrenhamente engajados na filosofia LowTech é que, não raro, a alta-tecnologia produz muita coisa inútil. Eles perderam a crença de que o progresso vai ser atingido através da tecnologia por si só. Todavia, não se mostram totalmente avessos a ela, como o fazem os "neo-luditas". Sua saída é fazerem uso de máquinas, apetrechos e soluções tecnológicas simples e/ou antigas. Alegam que podem comprar estes itens por um preço bem menor ou às vezes de graça e que podem usar essas engenhocas sem precisar estudar manuais gigantescos. Os fãs da LowTech muitas vezes se vêem às voltas com máquinas primitivas, que já foram até retiradas do mercado para dar lugar a máquinas novas e geralmente bem mais caras. Se essas novidades são realmente úteis ou não, pouco importa para a indústria. Não se discute que existe um tanto de nostalgia nesse recurso de se usar equipamentos, programas e técnicas já descartadas ou fora de moda.

O evento, que começou no Shedhalle em 28 de janeiro e irá até 19 de março de 2000, está apresentando várias iniciativas e artistas LowTech, manifestações de interesse subversivo, baseadas em concepções dissidentes do que é tecnologia útil, incluindo palestras, filmes, vídeos, computação, fotografia e música. É uma resposta sem estresse dada aos mitos tecnológicos correntes e aos desejos de uma vida mais simples. Participam do evento: Sadie Benning, Critical Art Ensemble, etoy, Linsenfrei, KONSUM Art Server <www.konsum.net>, Kristin Lucas, Ralf Palandt, David Pfluger, Redundant Technology Initiative e VinylVideoTM. Até o momento em que foi escrita esta coluna, o site do Shedhalle ainda não mencionava o evento, mas o webmaster me garantiu que hoje já deverá estar no ar.

Manifestações alternativas na Web, como esta, são anunciadas na excelente lista NetTime, que pode ser acessada em <www.nettime.org>, ou enviando mail para <[email protected]>, com corpo da mensagem "INFO NETTIME-L", sem as aspas.


E agora, algo totalmente diferente. Quero que a leitora experimente a mesma emoção que senti quando visitei um site quase inacreditável. Há tempos vinha ouvindo falar sobre um gigantesco repositório de fotografias em baixa resolução que incluiria quase todas as pessoas que possuem documentos no mundo, 88,4% das pessoas, para ser mais exato. Senti-me bastante desconfortável ao descobrir que, em poucos minutos e sem problema algum, pude obter uma foto antiga minha nesses arquivos. É uma foto bem velha e sua nitidez deixa bastante a desejar, mas fico pensando nos tortuosos caminhos que ela percorreu até chegar a este site. Anote com cuidado o endereço: 

http://thecenter2000.com/access_public_records.htm

e veja se sua foto também está lá, mas visite o site por sua própria conta e risco, pois ainda não se sabe se os acessos são monitorados ou não. O questionário é curto e em inglês. Quando pedir "Your 1st 3 digits of your SSN", pode digitar 000, pois somos estrangeiros (para eles). Marque a caixinha antes de "Check to search all states". Informe seu primeiro nome em "First name" e seu nome de família em "Last name". Clique no botão Search. Se o sistema encontrar diversas pessoas com nomes parecidos, ele chama o quatro procedimento, em que pede o ano de seu nascimento em "Enter the year you were born: (4 digits)". Digite o ano e clique o botão Submit. Sua foto aparecerá na página seguinte.Envie um email comentando o site, com subject FOTO, dizendo o que achou do site, o que ele representa para você em termos de invasão de privacidade e contando sobre a emoção que sentiu, leitora. No meu caso, posso assegurar: não gostei nem um pouco. O único ponto positivo é que na foto eu ainda tinha cabelo, muito cabelo.


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