O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 444 - Escrito em: 2000-02-23 - Publicado em: 2000-02-28


Sessão nostalgia


Sistema freenet oferece conta shell UNIX gratuita sem papelada

Quando ainda não existia a World Wide Web, nem email bonito via POP, a turma se virava na Internet usando UNIX em telas alfanuméricas e linha de comando mesmo. Era preciso ter braço, ler muito manual e virar noite para se navegar na Rede.Mas mesmo assim a gente se divertia a valer. FTP era o grande lance. Depois de passar horas vasculhando os diretórios pelo mundo afora através do bom e velho utilitário Archie e a gente sapecava a identificação "anonymous" e começava a febre dos downloads. Se um software interessava, o pessoal baixava o fonte, compilava e botava para executar. Tudo era de graça na rede e se alguém falasse em comércio na Internet era fuzilado no mesmo instante.

Se a leitora quiser sentir o gostinho desses áureos tempos, precisará de uma conta que permita acesso à shell do UNIX via telnet. Falei grego? Telnet é um programa de acesso remoto. Procure por "telnet.exe" no seu diretório Windows. Quando se acessa via telnet um computador ligado à Internet, é bem possível que você caia num menu de opções que nada mais é do que uma rotina escrita na linguagem shell do UNIX. Se você tiver acesso direto à shell, surgirá diante de si uma misteriosa tela preta com um prompt que poderá ser "%", "$" ou algo do tipo, e então você já estará dentro de uma legítima sessão de UNIX. Uma conta assim, normalmente, só se consegue se você estiver associada a uma universidade ou à equipe de administração de um site. Mas para nosso regizijo, o colega

Flavio Borup <[email protected]> apareceu com uma ótima jogada: uma conta shell grátis num sistema chamado SDF, com direito email do tipo <[email protected]>, permissão para FTP, espaço em disco e até uma espécie de ICQ via linha de comando. É um tanto lento o ambiente, mas vale o gostinho de dar uma pilotada em UNIX e matar a saudade. E para quem nunca teve oportunidade semelhante, mas gosta do cheiro puro de máquina e quer fuxicar as entranhas de um genuíno sistema tradicional ligado à Internet, a chance é essa. Existem diversos outros provedores freenet desse tipo, mas nenhum é tão livre de burocracia quanto o SDF. Basta se conectar ao seu provedor e ir para o prompt do MS-DOS, digitando o comando "telnet sdf.lonestar.org". Dê login com o identificador "visitor" e passeie à vontade pelo menu, começando com o comando help. Para criar sua conta, acione o comando é "mkacct" e siga as instruções.

Depois de já ter se cadastrado, experimente o comando faq, que abrirá uma lista bem abrangente de perguntas e respostas. Em seguida, use o comando de ajuda "man" (manual) para dar seus primeiros passos no UNIX. Experimente "man ls" para listar diretórios, "man mail" para mandar mensagens e "man lynx" para browsear a Web. Se quiser ler email com mais requinte, use os gerenciadores pine ou elm.

Você poderá também usar os utilitários genéricos tradicionais: ssh, irc, ft, lynx, nslookup e rlogin. Poderá também acessar newsgroups Usenet através dos leitores especializados trm, nn e tin, além de usar as ferramentas de desenvolvimento gcc, g++, gccx, f77 e lisp. Tenha acesso também ao nethack (happy hacking), netris (network tetris), w3m (browser web em modo texto) e com (chat online). Se você quiser redirecionar o seu email para a sua mailbox padrão, basta criar um arquivo texto de nome ".forward" (com o ponto antes mesmo) e escrever nele o seu endereço email original, numa única linha.

O SDF surgiu em 1987 funcionando num Apple IIe, onde rodava o "Magic City Micro-BBS", dedicado a um SIG (grupo de interesse especial) que reunia entusiastas sobre animação japonesa. O BBS se constituía de uma única linha ligada a um modem de 1200 bps, 128 kilo-nibbles de memória e dois drives de disquetes floppy. Naquele tempo, os Sysops desse BBS costumavam ligar para um outro sistema que era tocado por um funcionário da AT&T e que se chamava "The UNIX Connection", também conhecido como "attctc" ou "killer.dallas.tx.us". Era tão rápido e fácil de usar que fascinava a todos. Em 20 de fevereiro de 1990, o killer foi repentinamente fechado pela operação SunDevil e a rapaziada começou a sentir muita falta dele. Diante disso, os Sysops contataram o dono do killer e fizeram do MCM-BBS o seu substituto. Cerca de um ano depois, instalaram um AT&T System V UNIX num micro 386 e fizeram contato com os administradores UUCP na cidade de Dallas, de modo a estabelecer um fluxo de email passando pelo SDT.

Depois, foram adicionando novas linhas, com modems mais rápidos e arranjaram mais espaço físico na garagem de um amigo. Em meados de 1992, agitaram uma conexão com a ARPANET, a mãe da nossa Rede e daí por diante a coisa não parou mais de crescer, sem no entanto, fazer com que o sistema perdesse aquele visual romântico dos primórdios da Internet. Divirta-se!


Amanhã, dia 29, o programa Sem Censura da TVE (Educativa), em rede nacional, vai tratar só de Internet. Começa às 16h e tem duas horas de duração. Você pode participar via email <[email protected]>, pelo fax (21) 232-3271 ou pelo telefone (21) 263-3377. Veja no site <www.tvebrasil.com.br/semcensura> a relação de emissoras públicas afiliadas. Serão cinco entrevistados, abordando os seguintes temas: educação à distância, crescimento do comércio eletrônico, novos empreendedores, direito intelectual na Internet, jornalismo na Rede e ciber-religião. Dois debatedores ajudarão a esquentar o papo, sendo que um deles eu conheço desde neném.


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