O GLOBO -
Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 449 - Escrito em: 2000-04-05 -
Publicado em: 2000-04-10
Vingança assassina
Falta de cuidado de programadores causou mortes virtuais
Quando se define um software, é feita uma modelagem de entidades lógicas envolvidas, definindo também seus atributos e relacionamentos. Com base nisso, define-se o formato dos arquivos de dados e os procedimentos que determinarão o fluxo de informações no sistema. Pense num desses joguinhos em que o usuário é um boneco que sai feito louco por um labirinto, dando tiro em tudo que se move. O boneco é uma entidade, a parede do labirinto é outra, e a arma que ele usa é uma outra ainda. Antigamente não se definia completamente os atributos de uma entidade. Mas com a nova abordagem de programação orientada a objetos, cada entidade passou a ser totalmente descrita em suas funções, para poder ser semanticamente reutilizada em outras situações, redundando numa economia de esforços para as equipes de codificação.
Mas nem tudo são flores nesse enfoque. Meu amigo islandês Helgi Magnusson <[email protected]> repassou-me um fato real que foi divulgado há pouco menos de um ano, a partir de depoimentos de pessoas que testemunharam o episódio e de uma publicação denominada Defense Science and Technology Organization Lecture Series, de Melbourne, Austrália. Segundo o relato, a reutilização de código orientado a objetos andou causando dor de cabeça para as forças armadas australianas.
Os simuladores de realidade virtual vêm assumindo cada vez mais importância em programas de treinamento, como o de pilotagem de helicópteros de combate. Os programadores vêm aumentando o realismo dos cenários das simulações, incluindo paisagens detalhadas e, no caso da Operação Phoenix no estado australiano de Northern Territory (Território do Norte), adicionando grupos numerosos de cangurus, animais típicos daquela região. Os cangurus precisaram ser levados em conta nesta simulação pois os movimentos desses animais, quando assustados, podem revelar a posição de um helicóptero.
O chefe da Divisão de Simulação da DSTOLO (Defense Science & Technology Organization's Land Operations) havia instruído os programadores a modelarem minuciosamente os movimentos e reações dos marsupiais quando diante de um helicóptero em vôo. Sendo todos eficientes programadores e sempre com os prazos estourando, eles reutilizaram código originalmente usado para modelar reações de um regimento de infantaria sob o mesmo estímulo externo. Fizeram alguns ajustes e mudaram o ícone mapeado, transformando o soldado original num canguru e aumentando a velocidade de movimento da entidade.
Com o simulador pronto, os programadores prepararam uma demonstração inaugural do software para alguns pilotos americanos em visita. E para tornar as coisas mais divertidas, baixaram bastante o helicóptero virtual em movimento, de modo a encher o saco dos cangurus virtuais e vê-los sair em fuga. Os pobres animais digitais se espalharam assustados, como era previsto. Mas o fizeram de modo tão realista que os americanos visitantes se entreolharam com ares de aprovação.
Mas isso durou pouco pois, logo em seguida, os cangurus virtuais reapareceram em cena por trás de uma colina e desfecharam um certeiro ataque de mísseis Stinger contra o helicóptero, que explodiu imediatamente, encerrando a simulação com perda total de vidas humanas.
Na hora de reaproveitar o código da antiga entidade soldado, os programadores esqueceram-se de desativar os módulos que representavam a capacidade de contra-ataque dos combatentes da infantaria. Criaram assim, sem querer, terríveis cangurus assassinos.
Objetos de código reutilizados herdam os atributos da entidade original. Os programadores, embaraçadíssimos, aprenderam uma dura lição para a próxima feita em que usassem código orientado a objetos. Por seu turno, os americanos terminaram a visita com um novo e inesperado enfoque da vida selvagem australiana. E, no final das contas, os supervisores dos simuladores relataram que os pilotos em treinamento, daquele evento em diante, passaram a evitar terminantemente rasantes sobre cangurus, aliás, conforme deveriam ter feito desde o início.
A primeira edição do livro "Informática na Terceira Idade" foi o maior sucesso. Tanto assim que se esgotou rapidamente e o autor Gilson Nascimento <[email protected]> já agitou a segunda edição, desta vez pela Editora Brasport <www.brasport.com.br>, e cujo lançamento será depois de amanhã, dia 12, a partir das 19 horas na Livraria Ponte de Tábua, à Rua Jardim Botânico 585, lojas A e B. Se você não se lembra, o livro é um guia muito bem-humorado para quem pretende aprender informática depois dos 60 anos de idade. O próprio seu Gilson é o exemplo disso, pois começou a pilotar um PC aos 78, hoje já dominando os mistérios da Internet, fera na arte do email e dando até dicas em Web sites, como o <www.maisde50.com.br>. Já tendo sido entrevistado por um monte de jornais e revistas pelo Brasil afora, Seu Gilson encontra-se agora estudando propostas para lançar seu livro no exterior, pois teve gente comprando a obra e levando-a para tudo quanto é canto do mundo. Este simpático cearense de Maranguape, amigo do Chico Anísio, nunca imaginou que iria fazer tanto sucesso. Mas é batata, se a querida leitora for idosa e ler o livro, vai entender o porquê.
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