O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 450 - Escrito em: 2000-04-13 - Publicado em: 2000-04-17


Os irmãos matutos


Teriam Bitubí e Bitussí vivido uma infância feliz no interior de Minas?

No último mês andei promovendo pequenas pesquisas para saber qual o melhor e qual o pior site brasileiro para compras online e quantas pessoas nunca compraram via Web. Na primeira pesquisa enviei a pergunta aos 1627 lusófonos da Golden List, obtendo 168 respostas. Como melhor site houve empate: Siciliano e Zona Sul. Como pior, foi apontado o Submarino. Dentre os respondentes, 32% nunca haviam feito compras online. Ocorreu várias vezes o fenômeno em que um mesmo site era apontado às vezes como melhor e outras como pior. Com o Submarino isso aconteceu em várias mensagens.

E agora, na pesquisa que encomendei ao pessoal aqui na coluna há duas semanas, apenas 32 pessoas responderam, sendo que 12 delas nunca haviam comprado via Internet, ou seja, 37,5%. O melhor site foi o da Saraiva e o pior, novamente, o do Submarino. A distribuição estatística na segunda pesquisa ficou assim: Sexo - 65% homens, 35% mulheres; Residência - 90% no estado do Rio de Janeiro, 7% em São Paulo e 3% em Goiás; Estado civil - 56% casados, 37% solteiros e 7% divorciados; média das idades: 35 anos.

É claro que, com amostragem tão pequena na segunda pesquisa, o valor estatístico do resultado é muito fraco. Mas já dá para termos uma idéia. O caso do Submarino é peculiar, pois em ambas as pesquisas o site foi apontado por alguns participantes como o melhor site.

Com relação a todos os apontados como piores, as reclamações mais comuns dos respondentes foram quanto ao tempo de entrega e à dificuldade de trocar o produto em caso de defeito. Muitos usuários chegaram a entrar no Procom. Algumas empresas botam a culpa nos correios para justificar atrasos, mas essa desculpa é esfarrapada, conforme os próprios usuários comprovaram.

Ganharam ponto as empresas que tinham sites com navegação rápida, quanto mais coisa em modo texto, melhor. Exemplo: o catálogo da Livronet. Com relação ao pessoal que nunca comprou online, o motivo mais comum é o medo de fornecer o número do cartão de crédito. Nesse ponto, os sites que oferecem a opção de pagamento contra entrega ou via boleto bancário levam vantagem, pelo menos enquanto ainda existe esse medinho generalizado brasileiro com respeito à segurança na rede.


Era uma vez dois garotos: os irmãos BITUBÍ e BITUSSÍ. Parecem nomes de infantes matutos do sertão de Minas Gerais, mas não é nada disso. A leitora conhece bem as ondas mundiais da moda tecno-terminológica, com seus acrônimos e termos misteriosos que aparecem, ficam martelando na cabeça da gente por um tempo e depois somem sem que jamais se ouça falar deles novamente. Quem não se lembra do tempo em que só se falava em tecnologia PUSH, dizendo que seria a solução para todos os problemas na Rede? E da brilhante sacada do Network Computer, que acabou nunca pegando? Mais recentemente começou o frenesi mundial dos portais. Ninguém mais quer saber de abrir um site, a turma só fala agora em abrir um portal. Não é o máximo? Mas voltando à vaca fria, BITUBÍ é a pronúncia em inglês de B2B, ou seja, Business-To-Business (negócio/negócio), em contrapartida a BITUSSÍ (B2C) Business-To-Customer (negócio/cliente). B2C é o tipo de interação comercial a que estamos acostumados na Internet, ou seja, uma empresa negociando conosco, os clientes. B2B, por sua vez, é uma transação entre empresas, coisa com que o usuário final nunca precisará se preocupar, mas que promete movimentar fortunas nos próximos tempos. Faço questão de esclarecer este ponto porque já recebi muito email de gente perguntando onde é que poderia conseguir um tal programa chamado Bitubí para acelerar suas compras de CDs e livros pela Web. Mas isso é normal com termos novos, afinal, estamos aqui para esclarecer, é ou não é, leitora?

Recentemente, porém, surgiu um primo novo dos dois irmãos supra-citados, o BITUÍ (B2E), ou Business-To-Employee (negócio/empregado). A idéia é até bem boazinha e diz respeito à monstruosa torrente de informações via Internet que sufoca os empregados de uma corporação. Esse pessoal é obrigado a ler tantas páginas e emails desnecessários que acabam perdendo um tempão com coisa inútil. A idéia é gerenciar cuidadosamente o conteúdo que é encaminhado direta ou indiretamente aos funcionários das grandes empresas. Iniciativas como esta irão alterar para melhor a experiência Web de milhões de funcionários plugados em todo o mundo. É comum que uma grande companhia faça o máximo para transformar seus funcionários em máquinas de trabalho e nada mais. Conheço pessoalmente empregados de grandes empresas de software que passam o fim-de-semana pendurados na máquina esponjando informações que não tiveram tempo de digerir durante a semana de trabalho: memorandos, publicações internas, páginas Web por visitar e pilhas de dados digitais que enlouqueceriam qualquer um. Certa empresa chega ao cúmulo de entregar aos funcionários CDs de áudio para eles irem tocando no carro enquanto vão e voltam do trabalho. Mas não tem música não, é treinamento corporativo em áudio. Tudo bem, o cara fica afiadão, mas isso lá é vida que se leve?


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