O GLOBO -
Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 470 - Escrito em: 2000-10-25 -
Publicado em: 2000-10-30
Fantasmas do passado
Como sua tranqüilidade pode ser abalada por arquivos que você já deletou
Lembra-se daquele emailzinho sem-vergonha que você um dia rascunhou, descrevendo em rudes detalhes a figura hedionda do seu chefe de seção? E aquele desenhinho asqueroso que você fez dele no Paintbrush e atachou à mensagem? É claro que você não é maluca e jamais chegou a enviar o tal email para seus colegas de trabalho. Sem que ninguém visse, você tascou um silencioso DEL nele. Ufa, que alívio. Imagine agora a sua cara se, seis meses depois, você visse a tal mensagem vividamente impressa à sua frente, na mesa do big boss?
Quem já está na estrada da informática há mais tempo, tem plena consciência de que, quando se apaga um arquivo, ele continua existindo fisicamente no seu agadê. A única diferença é que ele não pode mais ser acessado pelas vias convencionais. É bem verdade que existem formas simples de se eliminar efetivamente dados gravados. Desde os remotos tempos do MS-DOS, programinhas bem simples como o WIPEFILE regravavam o antigo espaço ocupado pelo arquivo com seqüências numéricas de zeros, ou qualquer outro valor que se desejasse. A máquina ficava meio lentinha, mas dependendo do grau de paranóia do usuário, valia a pena a lerdeza.
Dentre os arquivos supostamente apagados que mais dor-de-cabeça podem causar, caso um dia saiam de suas sepulturas, figuram as nossas queridas mensagens de correio eletrônico. Quanta gente já se viu encrencada quando confrontada com mensagens que imaginava já terem ido para o espaço há tempos!
Em diversas ocasiões nos EUA e na Grã-Bretanha, mensagens de alguma forma recuperadas das cinzas já serviram em juízo como motivo para demissão. Até mesmo meu herói, Bill Gates, já se viu em apuros quando mensagens privadas suas, supostamente deletadas quatro anos antes, foram usadas contra si como provas no processo do governo americano contra a Microsoft.
De acordo com certas correntes do mundo jurídico, a partir do momento que você usou a tecla DEL, sua intenção teria sido fazer desaparecer por completo a tal informação indesejável. Assim, os dados apagados jamais poderiam ser usados contra você no futuro, pois não teriam mais valor legal.
Se formos descer aos meandros da questão, pode-se chegar ao cúmulo de dizer que um computador registra um dado para sempre. Parece exagero, mas existem técnicas de alta complexidade que, se utilizadas em conjunto e na medida correta, podem recuperar informações magnéticas mesmo que tenham sido utilizados programas regravadores para apagá-las. Na faina de recuperar informações mortas, em primeiro lugar, é preciso que o buscador saiba fisicamente e com exatidão onde procurar no disco. Em seguida, são empregados macetes tecnológicos de ponta conhecidos como "disk-scavenging" e que podem incluir até métodos avançados de microscopia eletrônica. Com todo este aparato, é possível sacar dum disco velho informações que a princípio estariam soterradas sob várias instalações de sistemas operacionais diferentes e sobrescritas dezenas de vezes. Há casos em que foram recuperados arquivos dentro de um sistema Windows que já havia sido regravado com Solaris e depois reformatado com Linux. Outro agravante é que muitas vezes a informação de que você quer se livrar não se encontra necessariamente apenas no arquivo que foi apagado, mas também em outros arquivos temporários, arquivos de swap, no registro do Windows ou em algum outro buraco obscuro qualquer do sistema. De qualquer modo, porém, operações de busca dessa natureza são caríssimas e, decerto, delas só lança mão em caso de última necessidade ou extrema gravidade.
Segundo os defensores da intangibilidade dos dados deletados, é injusto punir um usuário pelo conteúdo de um arquivo que ele mesmo apagou. É como se estivéssemos penalizando uma pessoa por um pensamento que lhe houvesse passado pela mente, sem que tivesse o mesmo produzido qualquer ato ou palavra. Numa etapa inicial, antes de se promulgar uma lei que impeça o uso de dados eliminados, pretende-se pelo menos estipular um prazo limite que defina a vida útil legal de blocos de informação obtidas de arquivos digitais pretensamente apagados. O objetivo dessa campanha seria preservar os interesses de potenciais vítimas de injustiças. Por exemplo, um empregador poderia usar dados ressuscitados para pressionar funcionários e até, eventualmente, defenestrá-los.
Portanto, para não brincar com a sorte, adote pelo menos o hábito de compactar suas caixas de correio de vez em quando. Não estará a salvo, nem de longe, dos disk-scavengers. Mas pelo menos não estará dando moleza para qualquer fuçador de meia-tigela.
Gostaria de agradecer efusivamente a todos os abnegados colegas que participaram do mutirão para tradução do excelente texto sobre os perigos dos celulares: "IMPACTOS POTENCIAIS ADVERSOS DA TELEFONIA MÓVEL SOBRE A SAÚDE", de autoria do Dr. G. J. Hyland. O original em inglês pode ser encontrado em <www.emfguru.com/EMF/hyland/hyland.htm>. A tradução final está disponível gratuitamente na web, em <www.egroups.com/files/emfbr>. É um texto que vale a pena imprimir, ler com calma e repassar para um amigo ou parente querido. Sobre este controvertido assunto, continua rolando solta uma lista grátis de discussão em português. Para assiná-la, envie email para <[email protected]>.
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