O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 472 - Escrito em: 2000-11-07 - Publicado em: 2000-11-13


Promiscuidade generalizada


Copiar CDs pode se transformar em vício quase incontrolável

Muita gente pensa que, pelo simples fato de que um sujeito escreve sobre tecnologia, a casa dele é cheia de badulaques altamente sofisticados e de última geração. Nem sempre é assim. Outros acreditam também que a máquina particular de quem escreve sobre informática é necessariamente um computador de alto desempenho, rodando as versões mais recentes de todos os softwares, com os mais bodosos periféricos instalados e permanentemente ligado à internet através de uma velocíssima LP. Outro rotundo engano. Exemplo claríssimo tenho aqui em mãos: eu mesmo. Há alguns meses comprei um computador novo, cousa modesta. Meu único arroubo foi ter mandado que nele instalassem um gravador de CDs. Passaram-se os meses e, por falta de tempo de curtir o brinquedo novo, fui protelando a estréia do novo apetrecho. Até que, quando voltei de férias, tomei coragem e gravei o meu primeiro CD-R. Amigos meus já vinham fazendo isso há anos, mas você não faz idéia do que seja até ter um treco desses em casa e botar a mão na massa. É viciante, vira uma compulsão. Quando surgiram os CDs de áudio e os primeiros CD-ROMs com software, a comunidade ficou extasiada diante da qualidade sonora e da vastidão dos 650 MB de acesso fácil. Vozes cavernosas, porém, subiram aos pedestais e pontificaram rugindo que estava decretado o fim definitivo da pirataria de áudio e de software, pois um CD era virtualmente incopiável. E hoje tá tudo aí para quem quiser. O DVD segue o mesmo caminho e, seja qual for a nova solução irreprodutível, mais dia menos dia alguém vai chegar lá, quebrar as proteções e copiar o tal formato. No estágio atual das coisas, o gravador de CD-R transformou-se no mais descarado veículo para cópias ilegais de programas e de músicas. Com o MP3 então, entulhar um disquinho prateado com uma centena de músicas é coisa que se faz com os pés nas costas.

É claro que nem eu nem a querida leitora jamais usaríamos este avanço tecnológico para burlar direitos autorais de qualquer espécie -- apenas utilizamos o gravador de CD-R para produzir backups de segurança de nossos próprios programas e arquivos de trabalho ou lazer. Mas todos sabemos de incontáveis casos em que a criatura se transforma num copiador doentio, distribuindo CDs de música para todos seus familiares, amigos e até inimigos, espalhando software aos borbotões entre seus conhecidos, tudo isso numa ânsia incontrolável de compartilhar seus tesouros com os que lhe são caros. Estes frenéticos seres provavelmente começaram comprando a mídia virgem a R$ 5,00 nas lojinhas de shopping, discos de griffe -- TDK, Sony, Mitsui, etc. Mas a loucura foi crescendo de forma tão avassaladora que se fazia necessário comprar CD-Rs mais baratos para poder gravar mais, sem doer no bolso. Noites e noites em claro copiando enlouquecidamente. Nessa escalada, algumas pessoas foram abrindo mão até da qualidade do meio de gravação e livraram-se da escravidão das griffes, apelando para os onipresentes camelôs. Decerto sabiam eles que os dados gravados em CD-Rs vagabundos provavelmente teriam vida útil mais curta, mas nem se lixaram para isso. Começaram a comprar discos de R$ 2,00 e viram que os resultados aparentemente eram os mesmos. Não satisfeitos, passaram a escrachar, indo até as últimas conseqüências na promiscuidade digital. Caso típico é o de um conhecido meu que se tornou freguês constante do camelódromo da Rua Uruguaiana, no Rio, onde se compra 100 CD-Rs virgens marca Dr. Hank, sem label, a R$ 65,00, mais especificamente na Quadra B, nº 35, que é o endereço da já legendária barraquinha da Dona Rosana. Segundo esse colega, ela é um doce de senhora. Abaixa-se graciosamente, apanha debaixo do mostruário o pacotão cilíndrico lacrado com 100 peças e entrega-o sorrindo ao cliente que fica quase em nirvana por alguns segundos, hipnotizado pela cor verde garrafa típica de uma pilha compacta de CDs regraváveis. Este, por sua vez, sai do camelódromo ostentando um indescritível sorriso maligno e segue célere como um corisco, tropeçando pelas ruelas da cidade, rumando direto para frente do micro, para copiar mais uma pilha de CDs. Eita vício danado, é o que dizem.


Depois que voltaram a enfatizar a proibição de que se fale ao telefone celular dirigindo, o pessoal saiu atrás de uma solução simples e barata para a questão. A melhor saída são os dispositivos "handsfree" (mãos livres) ou aparelhinhos de viva-voz. A idéia é não permitir ao guarda de trânsito ver que você está falando. Na verdade, esses paliativos não atenuam o risco, pois sua atenção no trânsito continua sendo dispersa pela conversa. Mas seja como for, tenho recebido via email, de diversas origens, uma certa foto de uma dessas soluções handsfree, muito criativa por sinal. Ela pode ser vista em <catalisando.com/handsfree.htm>. Apesar de ser uma idéia até brilhante, não acho que vá emplacar como solução definitiva para o problema e você verá o porquê. Contudo, em várias mailing lists de que participo surgiu a seguinte questão: "Quem será a pessoa que aparece na foto usando o tal aparato?" A turma está em polvorosa, ávida por resolver este mistério, querendo que se faça até uma entrevista com o indivíduo. Está lançado, portanto, o desafio. Até o final deste mês de novembro, quem tiver talento para detetive, poder de observação, perseverança inquebrantável e primeiro me colocar em contato inequívoco e direto com a pessoa da foto, ganha inteiramente grátis uma plotadora Hewlett-Packard Draftpro EXL em estado de nova, tamanho A-zero, com manual, dois carrosséis de oito penas e alguns suprimentos. O frete fica por conta de quem arrematar o prêmio. A foto da plotter também pode ser vista na página acima. Mandar email para cá com subject ENCONTREI.


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