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Nosso mundo é diferente |
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Artigo: | 479 |
Uma declaração da independência do ciberespaço |
Publicado em: | 2001-01-01 | |
Escrito em: | 2000-12-27 |
"Ó Governos do Mundo Industrial, esgotados gigantes de carne e aço, eu venho do ciberespaço, a nova morada da Mente. Em nome do futuro, eu peço a vocês do passado que nos deixem em paz. Vocês não são bem-vindos entre nós. Vocês não têm soberania onde nos reunimos.
Não temos governo eleito, nem estamos propensos a ter um, portanto dirijo-me a vocês com uma autoridade não maior do que aquela com que a própria liberdade sempre se expressa. Declaro que o espaço social global que estamos construindo é naturalmente independente das tiranias que vocês querem nos impor. Vocês não têm o direito moral de nos impingir regras nem possuem quaisquer métodos para fazê-las valer de modo que tenhamos razões verdadeiras para temer estes métodos.
Governos derivam seus verdadeiros poderes a partir do consentimento dos governados. Vocês nunca solicitaram nem receberam nosso consentimento. Nós não convidamos vocês. Vocês não nos conhecem, nem conhecem o nosso mundo. O ciberespaço não se situa dentro de suas fronteiras. Não pensem que podem construí-lo como se fosse um projeto de construção pública. Vocês não podem. É um ato da natureza e cresce através de nossas ações coletivas.
Vocês não entraram em nossa grande e aglutinante conversa, nem criaram a riqueza de nossos mercados. Vocês não conhecem nossa cultura, nossa ética, nem os códigos não-escritos que já provêm nossa sociedade de mais ordem do que poderia ser obtida por qualquer de suas imposições.
Vocês alegam que há problemas entre nós que vocês precisam resolver. Vocês usam este argumento como desculpa para invadir nosso território. Muitos desses problemas não existem. Onde existirem conflitos reais, onde existirem erros, nós os identificaremos e os resolveremos à nossa maneira. Estamos formando nosso próprio Contrato Social. Este controle surgirá de acordo com as condições do nosso mundo, não do seu. Nosso mundo é diferente.
O ciberespaço consiste de transações, relacionamentos e pensamentos ordenados como uma onda estacionária na teia de nossas comunicações. Nosso mundo está ao mesmo tempo em todo lugar e em lugar nenhum, mas não está onde os corpos vivem.
Estamos criando um mundo em que todos podem entrar sem privilégios nem preconceitos de raça, de poder econômico, de força militar ou de local de nascimento.
Estamos criando um mundo em que qualquer um, em qualquer lugar, pode expressar sua crença, não importando quão singular seja ela, sem medo de ser coagido a se calar ou a se conformar.
Seus conceitos legais de propriedade, expressão, identidade, movimento e contexto não se aplicam a nós. Eles são baseados na matéria. Não existe matéria aqui.
Nossas identidades não têm corpos, logo, diferente de vocês, nós não podemos obter ordem através da coerção física. Acreditamos que a partir da ética, do auto-interesse esclarecido e do bem-estar público, nosso controle irá emergir. Nossas identidades podem ser distribuídas através de nossas muitas jurisdições. A única lei que todas as nossas culturas constituintes reconheceriam de forma geral seria a Regra de Ouro. Esperamos ser capazes de construir nossas soluções particulares sobre este fundamento. Mas não podemos aceitar as soluções que vocês estão tentando nos impor.
Nos Estados Unidos, vocês criaram uma lei, o Ato de Reforma das Telecomunicações, que repudia sua própria Constituição e insulta os sonhos de Jefferson, Washington, Mill, Madison, DeToqueville e Brandeis. Estes sonhos devem agora renascer em nós.
Vocês estão apavorados com suas próprias crianças, uma vez que elas são nativas num mundo em que vocês sempre serão imigrantes. Pelo fato de as temerem, vocês conferem às suas burocracias os poderes e as responsabilidades paternais que não têm coragem de assumir para si. Em nosso mundo, todos os sentimentos e expressões de humanidade, desde as humilhantes até as angelicais, são parte de um todo contínuo, a conversa global dos bits. Não podemos separar o ar que sufoca do ar sobre o qual batem as asas.
Na China, Alemanha, França, Rússia, Cingapura, Itália e Estados Unidos, vocês estão tentando destruir o vírus da liberdade erigindo postos de guarda nas fronteiras do ciberespaço. Eles podem evitar o contágio por um curto tempo, mas não irão funcionar num mundo que em breve será coberto pelos meios digitais.
Suas cada vez mais obsoletas indústrias da informação perpetuar-se-iam a si mesmas através da proposição de leis, na América e onde mais for, alegando serem donas da palavra pelo mundo afora. Estas leis declarariam que idéias seriam apenas mais um outro produto industrial, nem um pouco mais nobre do que ferro bruto. Em nosso mundo, tudo que a mente humana criar pode ser reproduzido e distribuído infinitamente de forma gratuita. O transporte global de pensamentos não mais dependerá de suas fábricas.
Estas medidas cada vez mais hostis e colonialistas nos colocam na mesma posição dos precursores amantes da liberdade e da autodeterminação, que tiveram que rejeitar a autoridade de poderes distantes e desinformados. Devemos declarar nossos seres virtuais imunes à sua soberania, mesmo que continuemos a consentir que vocês governem nossos corpos. Nós nos espalharemos por todo o Planeta, de modo que ninguém poderá aprisionar nossos pensamentos.
Criaremos uma civilização da Mente no ciberespaço. Que ela seja mais humana e justa do que o mundo que seus Governos antes fizeram."
Este manifesto foi escrito em Davos, Suíça, em 8 de fevereiro de 1996, por John Perry Barlow <www.eff.org/~barlow/Declaration-Final.html>.
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