O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Faxina no armário

Artigo: 480

Se você tem alergia a poeira, não leia esta coluna hoje

Publicado em:  2001-01-08
Escrito em:  2001-01-04

 

Nesse clima de início de ano pintou aqui o ímpeto de abrir o armário lá do alto, onde ficam as velharias. Em casa de informata, esses itens empoeirados sempre incluem manuais obsoletos, livros técnicos totalmente desatualizados, disquetes mofados e muito hardware velho. Todo ano é a mesma lengalenga, mas em 2001 acometeu-me um ânimo especial: ir até o fundo do armário. Encontrar um monte de placas-mãe ancestrais, controladoras e seriais vetustas, e agadês macróbios é de algo emocionante, especialmente se, montadas e energizadas por uma fonte de alimentação bem barulhenta, as peças ainda funcionam. Presenciar um PC antigo dando boot e apresentando o prompt do MS-DOS 4.01 em menos dois segundos é algo que pode levar um cidadão sensível quase às lágrimas. O próximo passo são os disquetes. Dos pequeninos de 3,5 polegadas nem falo, pois apesar de ultrapassados, guardam ainda software de meia-idade. No entanto, os floppies de 5,25 polegadas, ah esses sim, contêm pérolas inestimáveis do período pré-cambriano. A namorada ficou possessa ao me ver virando noites a fio gargalhando com mensagens antigas de BBS, lendo arquivos-texto dos tempos da BITNET e da FidoNet, rodando programetos na tela preta, alfanumérica e desinteressante do DOS e executando joguinhos arcaicos ao som rudimentar de apitinhos e bips no speaker do PC.

Mergulhar assim no passado fez-me ver que eu era feliz e não sabia. Não que hoje não o seja, mas era tudo tão mais simples naquele tempo. Com um winchester de 40 MB tinha tudo de que precisava, fazia tudo que queria, me divertia e ainda ganhava dinheiro. Só mesmo analisando a evolução da informática tendo como base o ambiente em que se trabalhava há uns dez anos é que a gente percebe que tem algo errado no caminho que estamos trilhando. Estamos sendo enganados, sim, o tempo todo ludibriados e convencidos a acreditar que sempre precisamos de mais poder de máquina e de novas versões de software. Não é nada disso, pessoal. Nesse momento de revolta, se quiser extravasar, visite <catalisando.com/ira>. Mas muito bem, você quer se manter na crista da onda e não quer fazer feio na roda de amigos, quando todos discutem nuances do Windows ME e você ainda está usando o 95. Ok, é inegável que hoje a gente tem muito mais conforto ao micro. Mas qual o real benefício disso tudo? Apesar de o clock da sua CPU ter passado de 10 MHz para 1000 MHz em 10 anos, você não ficou 100 vezes mais produtivo nesse ínterim. Logo, certamente houve perdas pra você e, naturalmente, ganhos para alguém mais. E quem se deu bem nessa, nem preciso dizer.

Não me entenda mal a leitora, não me tome por um conservador ferrenho. Tirar um super PC de dentro da caixa estalando de novo é sem dúvida um prazer quase sexual. Checar o espaço livre dum agadê e ver que ainda tem dezenas de Gigabytes vazios é, de fato, uma sensação indescritível. Instalar uma nova versão dum programa, bem o sei, é uma adrenalina saborosa.

Se você começou a trilhar a senda da informática há pouco, provavelmente até no embalo da nossa querida internet, então o seu armário de tralhas terá coisas outras que não disquetes e hardware velhos. Os que já têm mais quilometragem nem precisam de incentivo para visitar os sites que lhes vou mostrar. Mas se você chegou agora e quer ver como eram as máquinas do passado, sugiro uma visita a um dos inúmeros museus de informática clássica existentes na rede. Por exemplo, a Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade de Virginia tem um excelente museu de computação em <www.cs.virginia.edu/brochure/museum.html>, criado e mantido pelo Prof. Gabriel Robins, graças às doações feitas por membros da faculdade. O acervo inclui peças raríssimas: fotos e manuais do IBM 704, computadores a válvula, cartões perfurados, antigos e gigantescos disquetes de 8 polegadas, um modem com acoplador acústico de 10 caracteres por segundo e até uma foto da fita DEC que contem o compilador Pascal original, escrito pelo Wirth. O site do museu da UVa oferece também links para vários outros museus de computação. É um passeio que merece horas de puro deleite.

Caso seja por software a sua fissura e tenham sido seus disquetes antigos carcomidos pelo tempo, então posso lhe dizer onde irá encontrar as preciosidades queridas, aquelas que foram devoradas pelos bad blocks. Existe um grupo de cultores dos áureos tempos, dedicados a colecionar o que chamam de "Abandonware", ou seja, software abandonado. A Meca dessas abnegadas almas é o Ring of Ages, que se encontra em <www.pheatsols.com/index.phtml>. É uma coleção de links para sites históricos onde são oferecidos de graça verdadeiros tesouros do passado -- aplicativos e, tanããã!, joguinhos. Curta no Abandonapps <http://abandonapps.cjb.net/> a emoção de baixar e rodar AutoCAD 2.02, Deluxe Paint 2.0, FDFormat 1.5, Lotus 123 v2.2, MS-DOS 1.1, PC Tools 4.11, TheDraw 3.3, Turbo Assembler 1.0 e até o histórico MS-Windows 1.0. Quanto aos jogos, você tanto pode downloadear um clássico como o Alley Cat em <http://luna.spaceports.com/~redstorm/download/Cat.zip>, como também jogar a versão online do tradicionalíssimo Asteroids, em <www.abandongames.com/onlinegames/asteroids/>, com primorosos efeitos sonoros. Para quem se amarra nessas coisas do passado, apenas uma recomendação, não visite esses sites com pressa. Vá pulando de um pro outro e lembre-se: os downloads são bem curtinhos e valem a pena.

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