O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Internet pelo ar

Artigo: 499

Protocolo definido há dez anos finalmente é implementado

Publicado em:  2001-05-21
Escrito em:  2001-05-17

 

Como todos sabem, a internet se baseia num protocolo chamado IP (internet protocol - Santa originalidade!) que não passa de um jeito de organizar, transmitir e receber pequenos pacotes de dados (datagramas) de forma que eles saiam de um ponto aqui e cheguem num outro acolá, podendo ser lidos no destino sem confusão. Com o avanço da técnica, mudaram alguns detalhes mas a diferença braba mesmo está no meio de transmissão e sua velocidade intrínseca, que varia desde uma linha telefônica (56 mil bits por segundo) até, por exemplo, uma linha ótica OC768 (40 bilhões de bits por segundo).

O colega Stephen Shankland <[email protected]>, da CNET, nos conta que um grupo de malucos adeptos do Linux resolveu experimentar um meio de transmissão jamais tentado antes na internet. Tal experiência encontra-se devidamente documentada nos alfarrábios oficiais da rede, sob a forma de um RFC (Request for Comments), a categoria mais solene de documentos que expressam as normas da internet. A coleção completa dos RFC's pode ser encontrada em <www.ietf.org/rfc.html>. Experimente acessar o site e pedir o RFC 1149. O título traduzido do documento é "Um Padrão para Transmissão de Datagramas IP em Portadores Aviários" -- já dá para desconfiar do que se trata. Isso mesmo, querida leitora. Os insanos definiram um jeito de transmitir pacotes IP usando pombos-correio. Escrito em 1990 por David Waitzman, o RFC 1149 não havia sido implementado até a histórica data de 28 de abril passado, quando os tais indivíduos lograram a primeira transmissão com sucesso, nas redondezas da cidade de Bergen, Noruega.

O teste foi executar o correspondente ao comando "ping", em que um nó da rede envia um pacote simples para outro. No caso, o pacote era um pedacinho de papel amarrado à pernoca do pombo. Nele estava impresso um datagrama IP que, quando chegou ao destino, passou por um scanner e foi lido por um software de OCR (reconhecimento ótico de caracteres). Participaram do emocionante experimento o Vesta Brevdueforening (clube local de pombos-correio) e Alan Cox, programador Linux da Red Hat. A heróica avezinha levou 1h42m para transmitir um datagrama de 64 bytes, indicando um desempenho absolutamente deplorável, como não poderia deixar de ser, e representando uma velocidade de transmissão de 0,08 bits por segundo, ou seja, 5 trilhões de vezes menor do que a de uma linha de fibra ótica OC768.

Obviamente o teste não passou de divertida brincadeira, mas acabou entrando para a História pois foi algo jamais tentado. Aliás, tentado sim, mas não conseguido. Em 1996, andaram bolando um teste na África do Sul, à guisa de campanha publicitária da Sprint mas, como não encontraram nenhum dono de pombo-correio, a iniciativa gorou.

Stephen prossegue seu delicioso artigo contando que, com suas habilidades navegacionais naturais, os pombos-correio vêm sendo usados de diversas maneiras em tarefas de comunicação. Na Primeira Grande Guerra, por exemplo, tornou-se famoso um pombo negro de nome Cher Ami, que foi condecorado com a medalha francesa Croix de Guerre por ter enviado com sucesso 12 mensagens durante o conflito. De acordo com o Smithsonian Institution, a mais importante missão de Cher Ami (Caro Amigo, em francês) foi enviar uma mensagem que ajudou o exército americano a encontrar a 77a. Divisão de Infantaria, um batalhão perdido no fragor da batalha. O fato heróico é que a audaz ave o fez mesmo após ter sido atingida por fogo inimigo. Saiba tudo sobre esse pombo irado em <www.si.edu/resource/faq/nmah/cherami.htm>.

Logicamente não soltaram apenas um pombo com o datagrama na perninha, foram vários. Mas o que mais atrapalhou o teste do RFC 1149 em Bergen foi a falta de seriedade dos pombos em questão. Quando foram soltos, passava por perto uma revoada de colegas seus, de modo que alguns animais mais relapsos desviaram-se bastante do rumo designado, instigados pelos folguedos de sua turma. Alguns poucos, talvez mais conscientes, caíram na real logo depois e retornaram à missão.

A aves eram soltas de suas gaiolas com intervalos de 7 minutos e meio, mas não me perguntem o porquê desse tempo, que permanecerá um mistério até que eu consiga contato com o clube norueguês.

Como em qualquer experimento que envolva gente de Linux, houve encrenca com a Microsoft, pra variar. Um certo pombo tomou o rumo errado e deu uma cabeçada no vidro duma janela próxima dali. O comentário imediato em inglês foi: "Oh no! Windows causing problems again."

Para que a leitora não fique com uma imagem negativa do acervo de RFC's da IETF (Internet Engineering Task Force), cumpre alertar que apenas 29 das milhares de normas são trotes de primeiro de abril, como é o caso do RFC 1149. Um documento de continuação a este, e igualmente anedótico, o RFC 2549, assegura a qualidade de serviço em redes via pombos.


O advogado Amaro Moraes e Silva Neto <www.advogado.com> conseguiu mais uma importante vitória contra o spam. Recebeu o OK do Ministério Público de São Paulo, informando que foram encaminhados os autos que compilou para o Secretário da Promotoria de Justiça do Consumidor. Se as coisas correrem nesse ritmo, muito em breve o "spam" (envio não solicitado de emails) será considerado ILEGAL em SP. E, daí para o resto do Brasil, será apenas um passo. Estamos torcendo! O Dr. Amaro é um especialista nessas questões e tem escrito diversos artigos, alguns deles até bem controvertidos, como o que explica que hackear sites é um ato legal. Os artigos podem ser encontrados tanto em sua página acima, como também no excelente site <www.ciberlex.adv.br/artigo.htm>.

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