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Internet Planetária |
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Artigo: | 501 |
Quer mandar email para Marte ou para Júpiter? |
Publicado em: | 2001-06-04 | |
Escrito em: | 2001-05-30 |
Em pleno ano 2001, muitos esperavam que já estivéssemos bem mais avançados cientificamente. Quem viu o filme "2001 Uma Odisséia no Espaço" entende perfeitamente isso: estamos muito aquém do que se vê ali, principalmente no que tange à exploração espacial. Mas, lento que seja, nosso progresso rumo a outros mundos vai dando seus passinhos e a tendência é que neste novo século tenhamos um monte de engenhocas "Made on Earth" (fabricadas na Terra) espalhadas pelo espaço, entre naves, veículos robóticos, bases de apoio, dispositivos de aterrissagem, etc. Esses artefatos de alta tecnologia poderão ou não ser tripulados e ficarão baseados no espaço sideral aberto ou sobre asteróides, satélites naturais e planetas. Em cada uma dessas missões futuras configura-se uma necessidade de comunicação em que um grupo de entidades próximas entre si, humanas ou não, precisará trocar informações. Os estudiosos chamam cada um desses grupos de "cluster" (pron. clâster). Um cluster, por exemplo, poderá ser toda uma equipe trabalhando numa fábrica ou laboratório situado em Marte. Obviamente haverá necessidade de comunicação entre esse pessoal e a Terra, um outro cluster, só que bem maior. Eventualmente esta fábrica marciana poderá também precisar manter contato, mesmo que intermitente, com um terceiro cluster, digamos, um mini-complexo de sondagem de solo em algum satélite de Júpiter. Logo, se pensarmos na internet do futuro veremos que, diante de uma configuração assim composta, a coisa vai ficar bem encrencada.
Foi pensando nisso que lançaram há poucas semanas um documento da IETF (Internet Engineering Task Force) <www.ietf.org> descrevendo a internet interplanetária (IPN), um sistema de comunicações que irá prover serviços de rede por comutação de pacotes através de distâncias entre planetas, em apoio à exploração espacial. A idéia é construir uma superestrutura de dados que controlaria "pequenas" internets planetárias. Esta arquitetura usa muitas das técnicas hoje aplicadas no sistema de correio eletrônico, mas aplica-se mais a comunicações entre processos e está preparada para unir clusters muito distantes, em que o tempo de resposta é absurdamente longo. Mesmo viajando à velocidade da Luz, o atraso (delay) numa comunicação com Marte, por exemplo, pode variar entre 8 e 40 minutos, dependendo das posições orbitais do planeta vermelho e da Terra.
A internet interplanetária estará dividida em regiões -- "IPN regions", com diversas implicações nos futuros esquemas de nomes de domínios e roteamento de pacotes. As regiões vão ser identificadas pelo ultra-sufixo ".sol", como por exemplo em Marte (mars.sol), Saturno (saturn.sol) e assim por diante. O duro é definir como irão se comunicar duas regiões, considerando que o contato entre elas é intermitente e muito lento. O documento em si é fascinante e fará a leitora viajar na maionese junto com a equipe de autores, encabeçada pelo famoso Dr. Vinton G. Cerf <[email protected]>. A abordagem do texto é bem ampla e inclui segurança na IPN, sua rede backbone e o desdobramento dos clusters remotos. O documento completo está em <www.ietf.org/internet-drafts/draft-irtf-ipnrg-arch-00.txt>.
Trata-se de um projeto tocado pela NASA, pela DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) e por instituições como o Jet Propulsion Laboratory <www.jpl.nasa.gov>; The MITRE Corporation <www.mitre.org>; Global Science and Technology, Inc. <www.gst.com> e SPARTA, Inc. <www.sparta.com>. Tire um tempinho para visitar esses sites, pois são todos porretas. Para quem não se lembra, a DARPA foi justamente o berço da internet atual, um sistema de comunicações à prova de interrupções na rede. A mesma idéia se aplica à IPN, pois num dado momento pode existir um planeta inteiro entre o emissor e o receptor de uma mensagem, de modo que não se pode confiar em links contínuos entre dois nós da rede. Bem, não espere mandar email para Marte tão cedo, mas que os caras já estão queimando a mufa com a questão, já se vê que estão.
Ao contrário do que acreditávamos, computadores podem ocultar perigosas infecções em suas ferragens. A crescente onda de vírus que vem assustando a vasta comunidade de internautas pode, no máximo, apagar arquivos com terríveis conseqüências para quem não cultiva o singelo hábito de fazer backup. No entanto, as infecções a que me refiro não são as digitais, mas sim as verdadeiras mesmo. Computadores instalados em UTIs (unidades de terapia intensiva) nos hospitais, podem oferecer risco a pacientes em estado crítico. O Dr. Gregory Forstall do Centro Médico Regional McLaren <www.mclaren.org/mrmcitems/mrmchm.html>, em Michigan, EUA, enfatizou em recentes pesquisas a necessidade de se proceder a uma limpeza cuidadosa em computadores rodando nestes ambientes. Segundo relatório apresentado pelo Dr. Forstall à Sociedade Americana de Microbiologia <www.asmusa.org>, logo após a instalação de computadores na UTI de 23 leitos onde trabalha, foi encontrado no ambiente um fungo hospitalar chamado "Aspergillus fumigatus". Analisando amostras de poeira em computadores recém-instalados, mais especificamente em seus ventiladores e nas grades protetoras dos mesmos, foram também encontrados outros cinco tipos de fungos que também podem causar doença. Estudos similares na Grã-Bretanha chegaram à mesma conclusão, sendo que lá na terra da Rainha, por razões de grana, usa-se bem menos computadores em UTIs. País pobre é uma tristeza, mas pelo menos sofre-se menos com Aspergillus hardwariano. Aliás, se quiser ver a cara desse fungo que se parece, olhando assim rapidamente, com a do simpático Bart Simpson, visite <www.medstudents.com.br/imuno/asperg/asperg1.htm>.
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