O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Contágios e armadilhas

Artigo: 502

Fungos e safadezas atormentam a vida da querida leitora

Publicado em:  2001-06-11
Escrito em:  2001-05-31

 

Ao contrário do que acreditávamos, computadores podem ocultar perigosas infecções em suas ferragens. A crescente onda de vírus que vem assustando a vasta comunidade de internautas pode, no máximo, apagar arquivos com terríveis conseqüências para quem não cultiva o singelo hábito de fazer backup. No entanto, as infecções a que me refiro não são as digitais, mas sim as verdadeiras mesmo. Computadores instalados em UTIs (unidades de terapia intensiva) nos hospitais, podem oferecer risco a pacientes em estado crítico. O Dr. Gregory Forstall do Centro Médico Regional McLaren <www.mclaren.org/mrmcitems/mrmchm.html>, em Michigan, EUA, enfatizou em recentes pesquisas a necessidade de se proceder a uma limpeza cuidadosa em computadores rodando nestes ambientes. Segundo relatório apresentado pelo Dr. Forstall à Sociedade Americana de Microbiologia <www.asmusa.org>, logo após a instalação de computadores na UTI de 23 leitos onde trabalha, foi encontrado no ambiente um fungo hospitalar chamado "Aspergillus fumigatus". Analisando amostras de poeira em computadores recém-instalados, mais especificamente em seus ventiladores e nas grades protetoras dos mesmos, foram também encontrados outros cinco tipos de fungos que também podem causar doença. Estudos similares na Grã-Bretanha chegaram à mesma conclusão, sendo que lá na terra da Rainha, por razões de grana, usa-se bem menos computadores em UTIs. País pobre é uma tristeza, mas pelo menos se sofre menos com Aspergillus hardwariano. Aliás, se quiser ver a cara desse fungo que se parece, olhando assim rapidamente, com a do endiabrado Bart Simpson, visite <www.medstudents.com.br/imuno/asperg/asperg1.htm>.


Quem usa o tradutor multilingüe Babylon <www.babylon.com> desde o ano passado, e caiu na asneira de ir fazendo as atualizações recomendadas, arrependeu-se amargamente. A telinha de tradução agora ostenta sempre umas propagandas chatas e o software enfia à força um spyware no seu sistema. Se o usuário usa uma ferramenta como o Ad-Aware (saiu a versão 5) <www.lavasoftusa.com> para retirar o spyware, o Babylon simplesmente se recusa a funcionar. A dica dos usuários mais calejados do Babylon é fixar-se numa versão velha e não permitir upgrades. A versão 2.2 Build 15, por exemplo, é mansinha e não dá muita dor de cabeça. Ela tem as especificações "Dict = port", "Current upd = 7" e "Last update = 2001-01-10". É aquela versão que foi distribuída nos primeiros CDs de lançamento do Babylon. Hoje em dia é meio difícil de encontrar esta preciosidade, só mesmo quem tem o CD perdido numa gaveta ou empoeirando na estante. Aliás, se a leitora souber onde encontrar o Babylon 2.2 na web, por favor avise que divulgaremos aqui. A recomendação dos veteranos é não permitir que o Babylon se acione em tempo de startup da máquina. Ative-o apenas quando for preciso e desative-o logo depois. Quando você estiver em conexão com a internet, o Babylon certamente vai notar que sua versão é velha e vai querer lhe empurrar a nova. Diga não. Depois ele vai avisar que atualizou o dicionário. Ora pipocas, que tanta atualização é essa num dicionário inglês-português? Palavras novas? Traduções novas? Que nada! As "atualizações de dicionário" são na verdade o danado do Babylon instalando no seu sistema o spyware Cydoor <www.cydoor.com> e gravando no diretório \windows\system os arquivos cd_clint.dll e cd_load.dll à sua revelia, como sempre. Mas para cortar o barato dele é simples: logo em seguida à dita atualização do dicionário, rode o seu Ad-Aware, arranque o Cydoor de sua máquina e continue usando sua versãozinha antiga do Babylon sem o menor problema, pois que o bicho é útil, isso é indiscutível.

Conforme já foi dito aqui na coluna, desde que foi lançado o Babylon Single Click Translator (BSCT), já pairava a dúvida de como é que os caras iriam faturar oferecendo um serviço assim de graça. Os executivos vaselinas consultados enrolaram, enrolaram e juraram de pés juntos que nenhuma informação era chupada das máquinas dos usuários. Mentira, é chupada sim. Mas pelo menos, ninguém pode reclamar, pois está tudo escrito na licença do Babylon, aquela que ninguém lê, não é leitora? Lá diz que o sistema BSCT pode ser acessado por outras aplicações de software (leia-se Cydoor, etc.) e que sua funcionalidade pode ser alterada, reduzida ou limitada a qualquer tempo, o que de fato aconteceu nas versões subseqüentes. Reza também a licença que a Babylon pode prover terceiros com conteúdo fornecido por você, para fins de propaganda. Pode também coletar estatísticas e outras informações tais como parâmetros de registro seus, configurações suas, softwares instalados na sua máquina e controle diário do uso que você faz do Babylon. As informações que são tiradas de você servirão para marketing direcionado e co-registro em outros serviços. A licença ainda estipula que o usuário deverá estar consciente de que usando o Babylon poderá eventualmente ser infectado por vírus, worms, Trojans e outros agentes que podem demonstrar propriedades destrutivas ou contaminantes. Tudo isso está escrito na licença datada de 1997 e, a rigor, ninguém roda Babylon sem saber dessas coisas. Apenas um detalhezinho. Se a usuária aceitou a oferta grátis do Babylon justamente para traduzir, então como ela poderia ter consciência de todas essas armadilhas e riscos se a licença está escrita em inglês?

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