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TRAUMA PROFUNDO |
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Artigo: | 517 |
Atentados ainda causam reações no mundo online |
Publicado em: | 2001-09-24 | |
Escrito em: | 2001-09-17 |
Não precisa ser veterano na internet para sentir na pele o entupimento da rede em função dos atentados nos EUA. Os sites de notícias ainda afogam o internauta com suas coberturas detalhadíssimas e maciças. Quanto ao correio eletrônico, as caixas de email de quase todos estão entulhadas de mensagens ligadas ao terrível assunto. A quantidade de material repetido que se recebeu durante essas semanas extrapolou tudo que já se viu até hoje. A começar pelas fotos: torres sendo atingidas, explosões, tomadas múltiplas dos aviões-bomba, desabamentos, escombros, gente se jogando dos prédios e cenas da destruição e do penoso resgate. Os mais sádicos enviam links para as fotos censuradas pela imprensa americana, retratando pedaços de gente em meio aos escombros. Não faltam também as mensagens com volumosos anexos em PowerPoint, aqueles emails enervantes com uma profusão de imagens tocantes, fonts embelezados e musiquinha de fundo, geralmente trazendo alguns dizeres pseudo-inspiradores mas geralmente bregas. Na comunidade brasileira de email, viu-se em plena forma o espírito brincalhão que, a despeito da seriedade do momento, não teve a menor parcimônia com piadinhas e charges de humor negro, algumas até bem cabeludas. Muitas dessas remessas chegaram a ofender seus destinatários, gerando um clima de animosidade, rompendo amizades e gerando discussão acirrada.
Boatos também sobejaram: teorias místicas, falsas comprovações de profecias de Nostradamus, análises astrológicas, rumores de mancadas politicamente incorretas da Microsoft, implicações numerológicas do número 11 e descobertas desconcertantes relacionadas ao processador de texto Word. Teve até gente fazendo interpretações sinistras da poeira dos desabamentos e da fumaça das explosões. Infelizmente houve quem se aproveitasse da situação para instalar ainda mais terror e pânico, divulgando ameaças de bombas em metrópoles pelo mundo inteiro. Pelo menos um desses celerados, bem feito!, foi preso em Cingapura. Não faltaram também os patifes, tentando arrancar dinheiro de gente bem intencionada.
Quem assina listas de email também não escapou. Aliás, as mailing lists grátis foram uma das ferramentas mais usadas para internautas expressaram suas opiniões, já que aglutinam comunidades bastante homogêneas no que tange à forma de pensar e aos gostos dos assinantes. A Usenet, por sua vez, mostrou-se mais caudalosa do que nunca, servindo de canal para manifestações de todo tipo, com os newsgroups mundiais completamente congestionados por pessoas procurando por parentes, amigos e conhecidos desaparecidos na tragédia. Quantos cartazes pedindo ajuda, quantas cartas emocionadas e quanto desespero. Nos newsgroups de UNIX, o humor ácido dos freqüentadores aproveitou o padrão de nomes de diretórios para espalhar o boato de que o FBI estava procurando qualquer um que tivesse em seu computador o arquivo /usr/bin/laden.
Nos webjornais estrangeiros, que geralmente oferecem uma área de fórum para que o leitor dê sua opinião sobre cada matéria, o que mais se viu foi uma ira muito grande, especialmente nos sites americanos -- desejo de vingança, indignação, ódio aos muçulmanos, sede de matar árabes, isso era o que mais se via e ainda se vê.
Nas salas de chat, os internautas mais ensandecidos se dividiam entre os pró e os antiamericanos. Os primeiros exaltavam os valores da pátria atingida e alguns defendiam ações drásticas, como o massacre de todos os árabes e muçulmanos vivendo em território americano. Na mesma linha, alguns se mostravam a favor do bombardeio nuclear imediato das cidades sagradas de Mecca e Medina, seguido do enforcamento do Bin Laden no "ground zero", local onde se erguiam as torres gêmeas. Já seus oponentes, os antiEUA, lembravam dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki e desejavam que o Tio Sam afundasse de vez, torcendo para que se abatesse imediatamente sobre a Califórnia o Big One, o grande e destruidor terremoto esperado para qualquer momento. Outros ainda torciam para que a China aproveitasse a ocasião para invadir Taiwan, tirando vantagem desse momento de fraqueza americana.
A tônica, portanto, foi de revanchismo, xenofobia e extremismo, geralmente com cores antiislâmicas. De forma geral, quanto mais jovem o internauta, mais besteiras expressava através de seus canais digitais. Para estes, Jihad virou palavrinha "cool" e retaliar usando armas químicas e nucleares ficou sendo a única solução.
Mereceram destaque alguns manifestos de uns raros cidadãos americanos mais conscientes que conseguiram se distanciar da comoção, tanto quanto possível, e elaboraram análises do momento atual, sem esquecer os antecedentes e equívocos que levaram até o ponto de ruptura que todos assistimos com grande surpresa e pesar. Alguns web links e textos ilustrando exemplos aqui mencionados podem ser vistos em <http://groups.yahoo.com/group/infoetc/files/atentados.htm>
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