O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Doce castigo
(última coluna semanal)

Artigo: 532

Deveria ser punição mas parece um prêmio

Publicado em:  2002-01-07
Escrito em:  2002-01-03

 

Acusada de monopólio, a Microsoft vem brigando na justiça americana há um bom tempo. No mais recente capítulo desta novela, chegou-se a um acordo, em que a empresa se veria obrigada a bancar um fundo de US$ 1 bilhão a ser aplicado em hardware, software e serviços para escolas em áreas carentes nos Estados Unidos. Que lê assim rápido esta decisão judicial até pensa: "Nossa, que paulada! Enfim, foi feita justiça." No entanto, analisando mais detidamente o tal acordo, veremos que ele irá intensificar ainda mais o mesmo monopólio do qual a Microsoft foi acusada. Para começar, o software que será instalado nas máquinas a serem doadas não será outro senão software Microsoft. Além disso, professores e alunos serão treinados para utilizar exclusivamente a linha de produtos da mesma Microsoft. Outro ponto curioso do acordo é que será a própria Microsoft que manterá controle sobre como o fundo será aplicado. Será que ela irá comprar máquinas rodando Linux ou outro sistema operacional qualquer? Obviamente que não, vai ser Windows mesmo e fim de papo.

Então vamos rever a coisa toda. Uma empresa é acusada de praticar monopólio e, como punição terá que distribuir uma fortuna em hardware e software para escolas, adestrando uma geração inteira de crianças e adolescentes no sentido de usar softwares fabricados por ela mesma. Parece piada, mas é exatamente o que está acontecendo: uma colossal campanha promocional dos produtos Microsoft no valor de US$ 1 bilhão, sendo que, de quebra, o tio Bill Gates ainda posa de benfeitor de estudantes empobrecidos.

Se pensarmos bem, a iniciativa de ajudar na educação é uma ótima idéia, mas o que deveria ser feito é entregar a grana diretamente às escolas, sob a estreita supervisão de um comitê, de modo que o próprio estabelecimento de ensino pudesse decidir adotar o sistema operacional que bem entendesse, e não necessariamente o Windows e sua família de ferramentas e aplicativos.

De modo a abrir os olhos da população e dos políticos americanos com relação à aberração que representa este acordo, um cidadão de nome Stephen Adler está promovendo um abaixo-assinado através da web. O foco principal é chamar a atenção do juiz Fredrick Motz, que preside o caso, levando ao conhecimento dele a insatisfação da comunidade com relação aos rumos tomados pelo caso. Mais de 1.340 pessoas já assinaram o documento via internet, tanto cidadãos americanos quanto estrangeiros. Assim como eu (fui o nº 1342) e outros aqui no Brasil, você também pode assinar, se quiser. Basta ir ao site, ler o manifesto e clicar em "Sign Petition". É preciso informar no mínimo seu nome, email, cidade/estado e país, mas não custa nada preencher todos os campos, de modo que o Steve possa traçar um perfil dos contribuintes. Naturalmente, quem tem a velha cisma com privacidade não vai querer informar tudo, mas se a leitora já passou dessa fase, então mande brasa. Aliás, troquei umas mensagens com o Steve e pareceu-me gente finíssima. Ficou muito contente em saber que a petição está recebendo atenção dos micreiros brasileiros.

A proposta feita no documento é que os fundos sejam aplicados em hardware, software, infraestrutura de rede e largura de banda na internet, sendo que os próprios professores e responsáveis em cada escola possam decidir de quais fornecedores irão adquirir os produtos e serviços. Para fiscalizar a aplicação da verba, Steve sugere a criação de um comitê composto por várias autoridades governamentais e acadêmicas. Independentemente da assinatura virtual via web, são oferecidos também, no site, modelos de cartas a serem enviadas em formato impresso via postal para os adversários da Microsoft no caso, para o juiz Motz e para os advogados. Cada carta dessas deve ser acompanhada das assinaturas que cada um puder coletar.


Apreciando algumas construções de areia aqui em Copacabana logo antes do réveillon, acabei me interessando pelo tema e caí na rede. Achei o site da notável australiana Jenny Rossen, aliás, uma jovem notável em todos os sentidos. Tornou-se conhecida como a Rainha dos Castelos de Areia e vem rodando mundo com sua arte. Porém, acho que nem a Jenny seria capaz de produzir a obra prima das estruturas arenosas, um pequeno monumento provavelmente erigido pelos sikhs no Paquistão, inspirados pelo atentado da tenebrosa terça-feira, 11 de setembro passado. 

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