O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Links e colunas

Artigo: 541

Chegando perto do formato ideal para notícias na Web

Publicado em:  2002-05-13
Escrito em:  2002-04-28

 

Logo que os jornais tradicionais migraram para a web, o primeiro impulso foi simplesmente importar os conceitos estéticos e funcionais diretamente do papel para a tela, com algumas mínimas adequações. Uma das bobeiras cometidas neste processo tem sido a subutilização do conceito de hipertexto, tão facilmente implementável bos browsers. Em muitos sites de notícias, ainda é bastante pobre a utilização de hiperlinks embutidos no corpo da notícia, muitas vezes sob a alegação de que é antiprodutivo quebrar o ritmo da leitora enquanto ela digere a matéria. E quebra mesmo, não se pode negar, pois infelizmente o internauta médio não costuma manter aberta a subjanelinha histórica do browser, aquela que exibe, em ordem de visitação, os últimos sites acessados. Com isso, quando sai clicando em um link após o outro, muitas vezes a leitora depois nem se lembra direito de onde estava o artigo original que a levou tão longe. Para se precaver contra este efeito realmente indesejável, alguns sites oferecem hiperlinks que abrem sempre uma nova janela de tamanho um pouco menor do que o da janela corrente, apenas o suficiente para que a leitora perceba que ainda continua lá atrás o primeiro texto que estava lendo. É claro que este truque pode ir por água abaixo logo no click seguinte, com a abertura de um novo janelão em tela cheia, confundindo a leitora desatenta. Há também casos que representam o oposto, sites que enfiam tantos hiperlinks no texto de seus artigos que o visual se torna irritante, especialmente quando cada link é sublinhado e numa cor gritantemente diversa da do texto comum. Pelo que se vê, então, o negócio é seguir a filosofia chinesa -- trilhar o caminho do meio -- nem abolir os links, nem abusar deles.

Outro fator também muito importante no tratamento visual de notícias na web é o comprimento da linha de texto. Quando se lê um artigo, lá se vai o olho para a margem esquerda no início do primeiro parágrafo e começa a varredura percorrendo linha a linha da esquerda para a direita (a menos que seja um texto em hebraico ou árabe, em que se lê da direita para a esquerda). Com linhas longas demais, o efeito óbvio é que a criatura pode se perder no movimento ocular rápido de retorno para capturar a linha seguinte. Daí serem os jornais impressos em colunas estreitinhas, otimizando os movimentos de varredura das linhas. Mas e na web, gente fina? Cadê as colunas na web?

Quando os jornais tradicionais se webzaram, a turma se preocupou primeiramente em atulhar o visual com detestáveis banners, boxezinhos e animações. "O texto que se dane", pensaram os gananciosos webmasters de antanho, "o negócio é faturar!". Com isso, o texto foi se minhocando no espaço que sobrava (exemplo típico: esta página), encaixando-se do jeito que desse e quase causando cãibra na musculatura ocular da pobre leitora. E, nessa de pega, estica e puxa, acabou se perdendo na web o visual regrado e sólido que temos no bom e velho jornal impresso. Basta que a leitora atente para esta página que está lendo agora, caso seja O Globo em papel. Uma figurinha aqui, uma fotinha ali, uma ilustraçãozinha apimentada do Cruz acolá, mas se olharmos para o texto em si, veremos que ele se deita bonitinho no papel, é respeitado e esteticamente enfatizado. Um primor visual.

Precisava que alguém surgisse para pôr ordem na casa e redimir o papel das colunas de texto na web, e esse alguém foi John Weir, autor do caprichado layout multicolunas do IHT Online, a versão na web do International Herald Tribune. A leitora babará o vestido se visitar o site e clicar em qualquer manchete. A tela se abre verificando rápida e silenciosamente o tamanho da sua janela corrente e com o texto disposto em três colunas cuja leitura não exige que se use a barra de rolagem vertical do browser. Para continuar no texto, clica-se no "next page" e a página se vira como num jornal tradicional. A coluna mais da esquerda e a mais da direita funcionam, em toda sua extensão, como grandes links. Se clicar em uma delas, em qualquer ponto do texto, ocorre uma paginação no sentido natural da leitura, seja voltando, seja indo adiante. No rodapé de cada página, além da usual opção de exibir em formato para impressão, é possível regular o tamanho do font e mudar a exibição para o modo não colunado e com rolagem vertical.

O trabalho de John Weir é exposto em seu site Smoking Gun, onde há demonstrações das várias funções estéticas que criou para a web e uma boa oferta de utilíssimos "bookmarklets", minúsculas ferramentas escritas em JavaScript e acionáveis como se fossem bookmarks comuns, com a função de facilitar a navegação usando browser Internet Explorer ou Netscape. O portfólio de clientes deste habilidoso webprogramador é invejável: Apple Computers, Cisco Systems, IBM, Levi Strauss & Co., Sega of America, Sun Microsystems, Silicon Graphics e United States Post Office, apenas para citar alguns. Sobre os bookmarklets, invenção do genial matemático Steve Kangas, vale a pena visitar a biblioteca completa, com mais de 150 peças gratuitas. 

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