O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

O chapéu é seu

Artigo: 544

Misterioso filme cult em Flash foi finalmente explicado

Publicado em:  2002-06-24
Escrito em:  2002-06-16

 

Há pouco mais de dois anos, começou circular pela internet um vídeo em Flash chamado "Hatten är din", uma peça enigmática e, ao mesmo tempo, hilária, em que algumas pessoas aparecem trajando vestimentas folclóricas e, ao fundo, ouve-se uma canção cantada aparentemente em árabe. É uma das coisas mais extraordinariamente bregas já vistas no mundo online. Vale dar uma paradinha e assistir a esta peça bizarra.

Passado o tempo, o tal filme acabou se tornando um cult na rede, sendo enviado de um internauta para outro como exemplo das loucuras que aparecem pela web. O vídeo está hospedado numa página na Suécia e as legendas, naturalmente, estão em sueco, o que aumenta o mistério para a maioria da população plugada.

Para nossa sorte, finalmente um dos criadores se dispôs a falar sobre sua obra. Ele se chama Martin, e é de Göteborg, na Suécia. Ele disse que nunca imaginou, quando o fez, que seu pequeno filme teria um impacto tão grande na internet. Estava certo de que apenas ele e seus amigos se interessariam pela brincadeira. No entanto, o tempo provou que estava errado. Mas Martin não reclama da fama que obteve e considera maravilhoso receber emails de todo canto do mundo em função da fama do "Hatten".

A motivação de Martin foi apenas aprender uma nova versão de Flash que tinha ido parar em suas mãos. Ele precisava de um exemplo de teste e foi assim que produziu o filme. As pessoas que aparecem no vídeo foram pinçadas de fotografias que ele encontrou na web. Ele espera que não se sintam ofendidas com a brincadeira, se é que algum dia vão saber que suas fotos ficaram tão famosas na rede.

Quanto à música de fundo, um cantor libanês chamado Azar Habib (também conhecido como A'azar Habib) compôs algumas canções no início da década de 80. Segundo um interessado no assunto, Ptek-Boscher, Azar Habib é uma espécie de cantor rebelde do rock'n'roll libanês que se tornou famoso na Suécia, graças à sua capacidade de misturar tradições musicais libanesas e suecas. (Veja aqui dois CDs seus: 1 e 2). Seu primeiro grande sucesso foi em 1985 com a controvertida canção "Bull-Ulla". Sua carreira tomou forte impulso até que, em 1988, atingiu seu ápice com "Hatten är din". A canção pode ser obtida em MP3 (4,85MB). Desde então, esta música virou mania e já foram produzidas dezenas de remixes, como a magistral versão produzida por AWP-Killa que, como muitas outras, pode ser obtida gratuitamente via AudioGalaxy.

Ninguém sabe ao certo porque Azar começou a atacar o mercado sueco. Um dos rumores é que em 1984 ele teria feito um curso de sueco durante um semestre na cidade de Katrineholm. No entanto, Pet Bagge, outro fuçador da "obra" de Azar, nega esta versão, insistindo que ele é um autodidata em sueco, tendo recebido no máximo algumas orientações através de um curso por correspondência.

Sobre a canção "Hatten är din", além de tradicional, é também uma dança sueca, um toque bastante eficiente para animar qualquer festa naquelas regiões gélidas. Funciona assim: o mais velho do grupo pega um chapéu quando a música começa. Quando Azar Habib começa a cantar, o chapéu deve passar para a cabeça da pessoa que estiver mais bêbada no momento. Esta criatura, provavelmente então altamente empolgada, começa a dançar no meio da turba. Pois bem, no momento em que é cantado o "Hatten är din" (O chapéu é seu), todo mundo berra o refrão e aponta para o bebum. E o sujeito canta "O chapéu é meu!", é claro. Em seguida, o chapéu vai passando pela cabeça de cada um, respeitando a ordem etílica. É uma tradição antiga e que nunca sairá de moda, dizem os suecos.

Martin obteve a canção que se ouve no vídeo, chamada "Habbeetik", de uma fita que conseguiu com um amigo. Ele explica que Azar Habib está cantando em libanês. Porém, como a vasta maioria dos suecos não entende chongas deste idioma, foi necessário apelar para a criatividade da turma. O resultado foi uma tradução fonética da letra da música, arranjando palavras em sueco que casassem tanto quanto possível com os sons cantados, chegando a um resultado surpreendentemente parecido, segundo avaliam os suecos.

Extremamente simpático em sua resposta por email, Martin atendeu ao meu pedido e providenciou uma versão em inglês da tradução fonética em sueco, cortesia de Eric Rowley, que obviamente perdeu a legitimidade sueco-libanesa do original. Assim, perdura o mistério sobre o que significa a letra original. Mas, quem sabe?, talvez este enigma também seja desvelado um dia. Continuamos pesquisando.

De resto, a mania do Hatten deu origem a uma nova subcultura sueca, como se pode ver no site Kramgo e também no NervKållaps (Colapso Nervoso), que lançaram as canções turcas foneticamente apelidadas "Ansiktsburk" e "Fiskpinnar". Um extensa coleção de paródias semelhantes em formato RealMedia pode ser encontrada no Türkhits e no similar norueguês Til Egget.

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