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Tradição de Natal |
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Artigo: | 557 |
Ainda dá tempo de
sairmos comprando feito loucos. |
Publicado em: | 2002-12-23 | |
Escrito em: | 2002-12-19 |
Nunca foi tão fácil comprar presentes de Natal via web e a turma está aproveitando ao máximo o conforto do comércio online. Mas no meio deste fuzuê consumista, tanto online quanto offline, a gente às vezes se pergunta: De onde é que vem essa mania de dar presentes na época natalina? No repositório de "História Esquecida" do
Shagmail, Dennis Mueller foi atrás de um estudo do Prof. Michael Eric Dyson, da DePaul University, e trouxe luz a respeito desta agressiva moda capitalista ligada à tradição natalina.Será que essa coisa de dar e receber presentes no Natal é algo que sempre existiu? Teria sempre havido esta crua conotação comercial cercando a data? A resposta é um sonoro NÃO, mas precisamos voltar bastante no tempo para encontrar as raízes disso tudo.
Depois da morte de Jesus, o Cristianismo se espalhou pelo Império Romano. Mas para conseguir essa difusão era preciso enfrentar a cultura de César. A jogada esperta dos cristãos foi a criação de novas versões das festas e feriados romanos. Considerando que um dos eventos romanos mais importantes era a celebração do solstício de inverno, os cristãos caíram de boca em cima dele, um acontecimento cuja data quase batia com a do Natal atual. Afinal, eles precisavam competir com a imagem de César de salvador do mundo.
Pergunta:
Dá pra acreditar
em Papai Noel?
Resposta:Segundo o Prof. Dyson, não há fundamento bíblico para o Natal. Uma vez que os cristãos estavam querendo conquistar as almas dos súditos do Império Romano, lançaram mão desse festejo para conquistar culturalmente algo que jamais poderiam obter pelo poderio militar. Foi uma brilhante estratégia -- apossar-se de um ritual festivo pagão, transformando-o numa comemoração cristã.
O Natal virou, assim, uma grande celebração, mas lá pelo século XVII (epa, olha a influência romana ainda bem presente aqui!) a festança foi ficando cheia de excessos e comportamentos carnavalescos. As comemorações natalinas se transformaram num ataque aos poderes estabelecidos e num desafio às autoridades. Era uma atmosfera de agressiva mendicância, com muitos roubos perpetrados contra os mais ricos, ameaçando diretamente a sociedade estruturada de então, da qual os mais letrados e "santos" faziam parte. Por causa disso, os Puritanos ficaram com tanto medo daquela desordem, que o Natal foi simplesmente banido durante 22 anos, de 1659 a 1681.
Com a crescente urbanização dos espaços e expansão dos agrupamentos pré-metropolitanos pela Europa e depois pela América, a brutalidade do Natal só fez aumentar. Ao mesmo tempo, a emergente classe média foi aos poucos criando seus próprios mitos em torno do evento, deslocando a versão da festa que era baseada no regime de classes sociais para uma abordagem mais doméstica. A reboque da religião, conseguiram transferir o significado público-político da celebração para um enfoque pseudo-espiritualizado, redirecionando os festejos para um escopo mais direcionado para a célula familiar.
São Nicolau e os três meninos que fez
ressuscitar, depois de mortos por um
açogueiro que produziria filé da tenra
carne dos guris.Passou a haver trocas de presentes entre as famílias, atitude inspirada no suposto gesto dos Três Reis Magos e, quando se dava lembrancinhas aos mais pobres, o ato assumiu novos ares, passando a denotar uma atitude de caridade. Isso causou um forte impacto que só fez reforçar a fúria pelo consumo. E nisso entrou em cena a imagem de
São Nicolau, bispo de Mira (Lícia) no século IV, que deu origem ao "Santa Klaus" americano, vulgo Papai Noel. Até 1930, o bom velhinho era representado com roupas comuns, até que a Coca-Cola resolveu vesti-lo com um traje vermelho, dando a ele este visual rechonchudo, barbudo e grisalho que é hoje mundialmente conhecido. Sem falar no irritante e onipresente "Ho, ho, ho" que sazonalmente enche o saco de nove entre dez humanos não anestesiados. Papai Noel é, portanto, obra de uma multinacional, pronto, tá dito. E o Natal acabou virando este sonho capitalista que hoje se realiza também através de fibra ótica e que não mais constitui qualquer ameaça aos poderes estabelecidos, aliás, muito pelo contrário, só os fortalece. A autoridade hoje se preserva por trás dos conceitos de hierarquia e prosperidade.A tradição mais antiga nos fala de um menino que veio ao mundo em condições miseráveis, tendo seu nascimento anunciado por uma grande estrela. Sua mãe morava mal e estava à beira da sociedade. Mas mesmo assim o divino moleque teve um profundo impacto na história do planeta e sua mensagem de justiça e paz acabou levando a hierarquia política e religiosa de então a matá-lo antes dos quarenta, segundo a lenda. Nesses tempos perigosos, depois de darmos logout nos sites de comércio eletrônico em que fizemos nossas compras de final de ano, separemos um tempinho só pra lembrar do sacrifício deste camarada que, mesmo talvez não sendo uma verdade histórica comprovada, nos serve como exemplo de Amor e, por vezes, de Rigor.
Gravura de Antonio
Poteiro de Natal (1984)
Óleo sobre tela
100x120 cm
(acervo CEF)Os links, você encontra aqui, como sempre, pela data de hoje: <catalisando.com/infoetc/20021223.htm> e o que lhe desejo, você já deve saber muito bem...
... um feliz Natal e o melhor 2003 que nos for possível viver!
From: Luiz R. Barbosa <[email protected]>
To: Carlos Alberto Teixeira
Sent: Monday, December 23, 2002 8:04 AM
Subject: NatalOi! Um Feliz Natal e ano novo para vc também! Sobre o artigo de hoje no Informática: Meu pai, de tradicional família Paulistana (Almeida Prado) e nascido em 1902, sempre me contava que, quando criança, não havia a conhecida árvore estrangeira (cedrinho) com "neves" de algodão e outras frescuras importadas, como nozes e bacalhau. Na véspera do dia de Natal, só o presépio, e a ceia antes da missa do Galo e no dia 25 o almoço. Nada de presentes para ninguém! Somente no dia 6 de janeiro, dia de Reis ( que eu ainda peguei como feriado) é que se fazia um lauto almoço e se dava ás crianças pequenos presentes, como 3 bolinhas de gude, um pião de madeira, etc, em memória aos presentes que os Reis Magos teriam dado ao menino Jesus. Quem, como eu, cursou Adminstração de Empresas (2ª turma da EAESP da FGV) sabe que esse consumismo de Natal, dia do pai, da mãe, da secretária, dos namorados, etc... é criado e estimulado por campanhas de publicidade, com o fim único de mercadologia! A TV (programa do Olivier Anquier) de ontem trouxe uma reportagem muito boa sobre o verdadeiro Natal brasileiro tradicional, como ainda é praticado na cidadezinha de Silveiras, na Serra da Bocaina. Tchau, Luiz
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