O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira
C@T

Roubo de identidades

Artigo: 558

 O caso TriWest e suas implicações

Publicado em:  2003-01-06
Escrito em:  2003-01-02

 

Logo na virada do Ano Novo, foi noticiado pela Associated Press um vergonhoso roubo de identidades e informações médicas de um site ligado ao Pentágono. Mas teria sido tudo isso uma grande armação?

Para quem não acompanhou o caso, no dia 14 de dezembro de 2002, ladrões invadiram a sede da empresa TriWest Healthcare Alliance, baseada em Phoenix, no Arizona. Estavam de olho em alguns computadores desktop da empresa, e roubaram apenas os "agadês" dessas máquinas, justamente onde se encontravam gravadas informações sobre 500 mil funcionários militares em serviço, suas famílias e aposentados, em 16 estados americanos. Segundo declaração do presidente da empresa, David J. McIntyre, Jr., divulgada no dia 31 passado, o roubo só foi descoberto dois dias depois e as informações surrupiadas incluíam nomes, endereços, números de Seguro Social (equivalentes ao nosso CPF), relatos de histórico médico e outros dados pessoais.

Foi oferecida pela empresa uma recompensa de US$ 100 mil a quem fornecesse pistas que levassem aos autores do crime. Segundo a Comissão Federal de Comércio dos EUA, "o caso poderá se tornar um dos maiores casos de roubo de identidade, caso os dados venham a ser usados." Ué? Só se usarem os dados? Ora, o roubo já não foi feito?

O incidente acontece num momento em que o Departamento de Defesa está em pleno processo de digitalização dos registros médicos de seu pessoal militar. Apesar de os hard-disks roubados supostamente não estarem diretamente ligados a este projeto de informatização, os dados que contêm podem ser utilizados indevidamente e causar prejuízos de toda ordem aos que tiveram suas informações expostas. Além disso, obviamente, há o risco potencial de que esses dados possam ser utilizados por organizações terroristas para obter acesso a áreas militares de segurança, justamente quando os EUA se encontram bem no meio da tal Guerra ao Terror.

O Pentágono está construindo uma rede visando a informatizar todo o sistema médico militar, armazenando os registros médicos de 8,7 milhões de membros ativos, aposentados e seus familiares. Já tendo sido testado com sucesso em quatro hospitais militares, o sistema pretende abranger sete unidades hospitalares espalhadas pelo país, para só depois ser expandido para o resto das unidades no mundo. Em resumo, se não tomarem cuidado com a segurança dessas informações, vai ser um chuá para os ladrões digitais de identidade.

Se uma pisada na bola como esta acontecesse aqui no Brasil logo iria aparecer alguém dizendo que era coisa de tupiniquim subdesenvolvido e indolente. Mas quando acontece lá nas terras do Titio, há quem se impressione e faça cara de assombro, imaginando como é que num país tão avançado, rico e preocupado com questões de segurança, pôde algo assim se suceder. É importante, porém, lembrar que o desafio de conferir segurança a informações digitais é tarefa difícil para qualquer um. É claro que, com montanhas de grana sobrando, é muito mais fácil prover os meios necessários para procedimentos de defesa de dados vitais ou secretos.

Pois bem, estamos diante de um caso grave mas aparentemente verossímil. Mas eis que entram em cena nos newsgroups ativistas da Usenet aqueles que se propõem a ler nas entrelinhas, buscando explicações ocultas e segundas intenções em tudo. É possível que essa turma tenha assistido demais a filmes de espionagem, mas até que merecem atenção duas das teorias expostas por esses camaradas.

Ambas hipóteses partem do pressuposto de que este caso todo teria sido uma grande farsa forjada para atingir um objetivo velado, aproveitando-se da exposição dada pela mídia. A primeira delas sugere que os tais agadês roubados teriam sido intencionalmente transformados em isca. Seriam um valioso tesouro que passaria a ser disputado a tapa pelos inimigos dos EUA. Desta forma, monitorando os canais de informantes e agentes infiltrados, qualquer interesse em ter acesso a esses dados roubados serviria de pista para ajudar no desmantelamento dessas organizações inimigas.

A segunda teoria é que o alvoroço causado pelo incidente da TriWest teria sido uma operação minuciosamente planejada, cujos resultados serviriam mais tarde como argumento para que aumentar a dotação orçamentária do governo dos EUA destinada a onerosas iniciativas de proteção a dados digitais governamentais secretos ou sensíveis. Evocando este recente caso, a teia do Grande Irmão teria condições muito melhores de se fortalecer, sufocando ainda mais o pobre cidadãozinho das terras do Tio Sam, que em tempos passados jactava-se aos quatro ventos de viver na "terra dos livres". Pelo jeito, a liberdade em excesso andou dificultando a vida dos governantes lá no norte. O lance, então, é aproveitar o clima de terror e arrochar um bocadinho mais as liberdades civis. Afinal, é muito mais fácil governar um povo acuado pelo medo.

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