O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira
C@T

Projeto 15 e o relógio

Artigo: 578

 Comemoração de 30 anos do curso da PUC

Publicado em:  2003-10-13
Escrito em:  2003-10-08

 

No dia 3 de setembro de 1973 foi dada a primeira aula no Projeto XV, vulgo P15, o curso de Tecnólogo em Processamento de Dados da PUC-Rio. Naquele tempo era raríssimo encontrar curso sério de informática aqui no Brasil. Desde então lá se vão 30 anos de sucesso, colocando um monte de gente boa no mercado pronta para a luta. Tive o privilégio de ser uma das crias do P15, onde me formei em 1984 e caí direto como analista de sistemas na Marinha.

Lembrar daquele tempo nos dá a justa medida do quanto mudou na área de sistemas. A primeira linguagem de programação que a rapaziada encarava era PL/I, hoje quase esquecida. No semestre seguinte era COBOL, com seus longos comandos quase literários. Microcomputador era artigo de luxo e a máquina que usávamos era o bom e velho IBM/370, através de cartões perfurados. Logo no primeiro laboratório, me envolvi com uma pequena galera na primeira pirateação de software da minha vida. O compilador PL/I da universidade era uma versão cabeçuda e sem luxos. (Explicando dum jeito bem simples, define-se compilador como um programa complexo que transforma os comandos escritos numa linguagem de programação em instruções codificadas em linguagem de máquina.) Acontece que certo professor tinha numa fita o mil vezes invejável PL/I Optimizing Compiler da IBM, um produto caríssimo. Montamos uma engenhosa armadilha e com ela conseguimos a password da fita do mestre. Através de cartões em JCL (Job Control Language) mandamos montar a dita cuja na unidade magnética e chupamos o compilador inteiro para disco, gravando depois em uma fita para cada um da turma. E passamos a chamar nosso compilador de Bueno. Não imaginam o status que era apresentar os trabalhos de classe em listagens de formulário contínuo especial ostentando no cabeçalho os dizeres do compilador comercial da IBM, o Bueno, sonho de consumo de qualquer programador novato bunda suja.

Bem, deixando este passado negro de lado, é tempo de comemorar os 30 anos do curso. Estamos convocando todos os alunos do P15, professores, ex-uns e ex-outros para uma grande festança já batizada de 30p15, que será no sábado, 2003-11-01, a partir das 20h00 no Paissandu Atlético Clube, Avenida Afrânio de Melo Franco, 330, Leblon. Estacionamento, segurança, DJ, fotógrafo e coquetel, ou seja, um arraso. Acesse o site do evento e pegue todos os detalhes: <http://www2.rsi.com.br/30p15>.


A leitora que gosta de gadgets precisa estar sempre alerta às oportunidades que de repente surgem para comprar um novo brinquedinho. Foi o que aconteceu com uma atraente jovem num aeroporto de Johannesburg, na África do Sul. Um cavalheiro baixinho vinha arrastando duas malas obviamente pesadíssimas e ela perguntou-lhe as horas. O homem suspirou, pôs as malas cuidadosamente no chão, olhou para o pulso e disse as horas à dona. Ela se impressionou tanto com o relógio do camarada que ele se sentiu envaidecido e começou a exibir o instrumento em detalhe. Mostrou a ela um display com os fusos horários de cada meridiano, fornecendo a hora local nas 86 maiores metrópoles do planeta. Cutucou mais uns botões e o arretado relógio simplesmente falou a hora de Dallas em alta e boa voz, com sotaque texano perfeito. Outro botão e irrompeu outro falatório, desta vez em japonês fluente, dizendo as horas. Para cada cidade, a hora era pronunciada no idioma local e um pequeno mapa surgia no display em alta resolução e com aqueles famosos milhões de cores.

Mais um ajuste e a telinha fez um suave morphing, convertendo-se num mapa detalhado de Johannesburg com um ponto luminoso piscante indicando a posição exata através de posicionamento por satélite. O sujeito pronunciou pausadamente um comando de voz e a imagem fez um zoom-out instantâneo, passando a mostrar o mapa do país inteiro.

Imediatamente a moçoila, que já não conseguia mais se conter, manifestou vivo interesse em comprar no ato o apetrecho. O homúnculo, que revelou ser o inventor do dispositivo, disse que ainda estava em testes e que não se encontrava à venda. Confessou que ainda havia pequenos bugs no módulo de recepção quadrifônica de rádio FM com sintonia digital. O som estava perfeito mas a tela precisava de leves ajustes, coisa ínfima. Quanto ao resto do sistema, tudo funcionava 100% ok, incluindo o sonar que media com alta precisão distâncias de até 125 metros, o pager com impressora térmica em papel e o mais impressionante: o relógio tinha capacidade de gravação de voz equivalente a 300 livros de tamanho médio. Ele mesmo, o dono, já tinha gravado no brinquedinho uma seleção de 32 de suas obras favoritas.

Foi aí que a jovem entrou em desespero. Tremia e quase babava. Precisava ter aquele relógio de qualquer jeito. Ofereceu US$ 1 mil e neca. Depois US$ 5 mil e o cara insistia no não. Pulou para US$ 8 mil, 10 mil e quando chegou aos US$ 18 mil, o mancebo olhou para o alto, fez as contas e lembrou-se que tinha investido no objeto US$ 8.500 em desenvolvimento e peças. Se vendesse este protótipo poderia construir um outro ainda melhor e teria o produto pronto para o mercado em apenas seis meses. Enquanto isso, a mulher já preenchia o cheque, esbaforida. O homem deu de ombros e topou a oferta, o que fez a gatona exibir o mais lindo dos sorrisos. O cabra tirou o incrível aparelho do pulso e deu-o a ela, recebendo o cheque. Ela agradeceu ofegante e já ia se virando para sair, quando o homem a mandou esperar e apontou para as duas malas que a tanto custo ele empurrava pelo saguão do aeroporto: "Não esqueça as suas baterias".

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