Artigo: 590 / Publicação: 2004-03-29
FLASHMOB - Supercomputação ao alcance de todos
Imagine um evento em que um monte de gente, cada um trazendo sua maquineta, seja debaixo do braço, seja num carrinho de supermercado, conecta suas máquinas umas nas outras de modo a formar um poderosíssimo cérebro eletrônico interligado. Pois é justamente o que vai acontecer no próximo domingo, dia 3 de abril -- um evento histórico. Vai ser na Universidade de San Francisco, nos EUA, o FlashMob I, a formação de um grande sistema interligado de computadores, com o propósito de criar um dos 500 supercomputadores mais poderosos do planeta. Cada um pode levar quantos computadores quiser. Quanto mais gente e mais máquinas, mas forte ficará o supercomputador.
Um computador Flash Mob é uma supermáquina composta de centenas ou mesmo milhares de computadores comuns conectados a uma rede local de alta velocidade (10 Gigabits), todos trabalhando como um único sistema, compartilhando memória. A idéia de interconectar máquinas nem é tão nova assim, mas desse jeito que eles vão fazer é novidade, pois será um supercomputador temporário e montado todo num mesmo dia, à medida que os componentes forem chegando ao ginásio Koret na USF, se apresentando, recebendo seus kits de conexão e se pendurando no cluster (= conjunto de computadores), com o objetivo de trabalharem todos juntos num mesmo problema computacional.
Clique aqui na foto para ter idéia do quão inflamado
de máquina pode ficar um ginásio desses.Qualquer um pode participar, basta que seu computador tenha no mínimo um Pentium III ou equivalente AMD com 1,3 GHz, 256MB de RAM, uma conexão de rede 100 Base-T e um drive de CD-ROM. Não importa o sistema operacional do boneco, pois eles vão fornecer um CD espertíssimo que vai dar boot e carregar todos os programas apenas em memória, sem gravar um bit sequer no HD. Quando um participante chegar ao ginásio será designado a um "Capitão de Hub" que vai encaminhá-lo ao ponto onde deverá ligar sua(s) máquina(s). E para avaliar a performance do cluster, será utilizado um software de benchmark chamado
Linpack, usando para classificar os 500 supercomputadores mais poderosos.Já houve projetos anteriores em que se construíram grades de computadores. Um dos mais famosos é o projeto
SETI@Home, que analisa sinais cósmicos em busca de inteligências extraterrestres. Quanto aos ditos supercomputadores pesadões e de metal, eles existem desde os tempos da Segunda Grande Guerra. A revolucionária novidade é montar um super-sistema constituído assim rapidinho e usando computadores pessoais comuns. As vantagens de um supercomputador FlashMob são simplicidade e preço. Um "super" convencional precisa ser construído num prédio especial, com refrigeração específica e um monte de filigranas técnicas caríssimas. O super computador Apple na Virginia Tech, por exemplo, usou 1.100 máquinas Apple G5 duais de 2 GHz, e custou US$ 5,2 milhões.Além disso, como sabemos, os supercomputadores convencionais são em grande parte controlados por organizações governamentais, instituições acadêmicas de pesquisa, grandes estúdios de animação e computação gráfica e, mais recentemente, corporações envolvidas em engenharia genética e em decifrar genomas. Assim sendo, a grande massa de usuários de computadores fica de fora dessa festa, pois os problemas computacionais atacados por estes oligarcas digitais são altamente específicos e cheios de restrições. Um sistema FlashMob vai justamente contra esta tendência, democratizando o poder supercomputacional. A idéia é permitir que um punhado de doidões se junte para formar um cluster visando a estudar qualquer problema que desejem. Por exemplo, seu uma turma de faculdade bolou um novo modelo matemático para o buraco na camada de ozônio, os estudantes poderiam marcar um FlashMob para o dia seguinte, montar um cluster bem forte, e deixar rodando suas simulações sem depender de burocracias, longas filas, autorizações, verbas ou pilhas de formulários a preencher. Problemas computacionais não faltam: cura do câncer, AIDS, poluição, previsão do tempo, e por aí vai.
Muito embora seja uma idéia bem excitante, é bem possível que as agências governamentais venham a se sentir incomodadas com ela. Imagine um punhado de inimigos desta ou daquela nação (adivinhe qual), reunidos num grande galpão afastado, rodando um supercomputador FlashMob para realizar simulações de bombas nucleares. É claro que vai dar caca.
Seja como for, é um experimento científico válido que tem por trás de si pelo menos uma tese acadêmica em preparação, e que certamente vai originar uma penca de artigos publicados em tudo que é canto.
O evento vai começar às 10h00, indo até às 16h00. As portas se abrirão às 8h00 e às 11h00 o ginásio será evacuado e trancado, com todas as máquinas já interligadas e funcionando. Ninguém poderá entrar, nem desplugar sua máquina antes do experimento terminar. Para encher o tempo, haverá um conjunto de
atividades no campus. Para maiores detalhes, leia o FAQ, em inglês -- mas nada que um Babelfish não resolva.
* Esta foi uma dica do velho amigo e mestre
Alexandre Grojsgold. Os links de hoje estão em catalisando.com/infoetc/20040329.htm
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