Artigo: 594 / Publicação: 2004-05-24
A ÁRVORE DO CONHECIMENTO - Contrastes e desencontros nesses tempos digitais
Quando Armstrong pisou na lua em 1969, se é que pisou mesmo, alguém comentou como podíamos ter chegado tão longe na tecnologia, ao mesmo tempo que aqui na Terra ainda havia gente morando em cavernas e se comunicando por grunhidos. Vejamos agora mais um dos notáveis contrastes existentes na Humanidade atual, contrapondo a alta-tecnologia à alta-ignorância. De um lado, vemos um grupo de pessoas em que as relações humanas dependem em parte da internet, como é o caso dos freqüentadores das salas de chat, newsgroups, orkuts e listas de email, em que internautas, de sexos opostos ou não, estabelecem contatos e passam a se conhecer para, quem sabe?, chegar talvez a se relacionarem intimamente.
A investigação desse tipo de interligação humana através da rede tem sido tema de diversos estudos acadêmicos, como por exemplo um que foi publicado em abril de 2004, intitulado "Exploração sexual e alívio retórico: Examinando etos e identidade no site Playboy.com". Que tema cabeludo, não? O autor é Todd Frobish, professor assistente da Universidade Estadual Fayetteville, na Carolina do Norte, EUA. Sua pesquisa examina as funções do etos e da identidade em discursos persuasivos, especialmente os encontrados em comunicações interpessoais através de computadores. Mas, etos? Que diabo é isso? É o conjunto de características de um povo ou grupo que o diferencia dos outros. Neste trabalho, o autor faz uma abordagem antropológica da indústria de sexo online, focando especificamente no site da Playboy e colocando-o significativamente acima da grande maioria de sites de pornografia pesada, em termos de apuro estético e ausência de baixarias escrachadas. Muito bem, este é um dos lados do contraste a que me referi no início: uma extrapolação da idéia primordial do sexo, originalmente "projetado" para dar continuidade à espécie, mas transformado em símbolo de prazer, tanto carnal quanto virtual-digitalmente falando.
Do outro lado do contraste temos a notícia dum casal de alemães que, no mês passado, foi se consultar na clínica de fertilidade da Universidade de Lübeck, no norte daquele país. Contaram aos especialistas um caso que revelou ser absolutamente inédito pelo corpo médico da instituição. Após oito anos de casamento o marido, com 36 anos, e sua esposa, com 30, não conseguiam ter filhos. Fizeram então todos os testes de fertilidade e concluíram que nada tinha de errado com nenhum dos dois -- não havia qualquer obstáculo à concepção. Tudo se esclareceu, todavia, quando o doutor perguntou ao casal com que freqüência praticavam o ato sexual. A resposta, quase em uníssono foi: "Was?" (traduzindo do alemão: "O quê?") Sim, a leitora adivinhou. Eles nunca tinham praticado sexo. Aliás, nem sabiam o que era. E não eram retardados nem nada. Só que, tendo sido os dois criados num ambiente social e familiar religioso daqueles bem antiquados e repressivos, nunca ninguém chegou pra eles um dia e explicou que, para gerar neném, é preciso algo mais do que apenas se casar no civil e no religioso. Não é difícil imaginar a surpresa dos médicos diante do achado e, ainda mais, a agradável surpresa do casal ao freqüentar as aulas de terapia sexual recomendadas pelos especialistas. Quantas descobertas práticas interessantes devem ter feito, e ainda estar fazendo até agora, o doce casalzinho. A equipe da clínica, é claro, aproveitou a oportunidade para iniciar um estudo regional em busca de outros casais que apresentem a mesma pequena lacuna no quesito educação sexual.
Pois assim é o nosso planetinha. De um lado, trabalhos acadêmicos avançados sobre a vida sexual online dos internautas, e do outro, casais que nunca treparam na árvore do conhecimento, em busca dos frutos tão saborosos da intimidade conjugal.
Recente pesquisa realizada pela Osterman Research revela que apenas 46% das empresas americanas oferecem a seus usuários email seguro, ou seja, sistemas em que os empregados podem enviar e receber mensagens criptografadas a partir de seus computadores pessoais no escritório. Nos dias de hoje, com tanta tecnologia disponível e com tantos casos relatados de invasão de privacidade em mensagens de correio eletrônico, este percentual é quase vergonhoso. E olha que isso é lá no titio, hein. Imagine no Brasil. Tenho visto muita grande corporação aqui na terrinha em que a turma está se lixando para este sensível aspecto de segurança das informações. Bem, a pesquisa não pára por aí não. Nas firmas americanas que oferecem email seguro a seus funcionários, 32% dos usuários usam email criptografado com freqüência, 18% apenas ocasionalmente e 50% raramente.
Os links de hoje estão em catalisando.com/infoetc/20040524.htm
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