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O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira

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Artigo: 598 / Publicação: 2004-07-19

MICROSOFT ESTÁ PARA FECHAR?

Fale com seus amigos e veja o que eles usam em suas máquinas. Dificilmente vai encontrar alguém que não seja usuário de software Microsoft. Em sua maioria, pelo menos aqui no Brasil, estarão usando versões piratas de Windows, Office, etc. Mas nas empresas, onde a fiscalização bate em cima, usa-se em geral versões honestas. É quase um idioma universal -- falar windowês. A gente reclama, esperneia, se enraivece, mas tá lá, firme e forte, clicando nos ícones do Sr. Gates. Obviamente há os heróis, que fazem questão de escapar do lugar-comum. Mas pense um momentinho: e se a Microsoft sumisse do mapa?

Há uma semana o amigo do Piropo, John C. Dvorak, colunista da revista PC Magazine, escreveu um artigo (link alternativo) que me derrubou da cadeira. Reproduzo aqui a tal peça, avisando logo para que a leitora também não se esborrache no solo. Dvorak lembrou que Bill Gates certa vez disse que só continuaria tocando a Microsoft enquanto estivesse se divertindo com isso. E questiona: será que ele ainda está se divertindo? Tudo bem que Gates, Ballmer e os outros grandes na empresa estejam cheios da grana. Mas e a constante animosidade e os ataques públicos, tortas na cara, processos judiciais... será que isso tudo já não os teria deixado de saco cheio? Não estariam eles pensando em fechar a Microsoft? (Foi neste ponto que eu me estabaquei da cadeira).

Dvorak se pergunta: por que motivo uma empresa, com US$ 70 bilhões em caixa e muitos outros bilhões nas contas do CEO e dos fundadores, decidiria cortar custos para economizar alguns bilhõezinhos? Ou os chefões estão vendo encrenca pela frente, ou a ganância lhes subiu à cabeça, ou então estão pensando em fechar a espelunca.

A Microsoft já está economizando fábulas transferindo empregos para países de mão-de-obra mais barata e, nos EUA, utilizando serviços de estrangeiros com permissão para trabalhar, que ganham bem menos. E os gastos com pesquisa e desenvolvimento, onde estariam sendo aplicados? Dvorak alfineta, dizendo que o produto mais mundano da MS, o Internet Explorer, é um amontoado de código velho e tem mais buracos que um queijo suiço. Ele nos manda ir ao Help/About do dito cujo e observar que o software ainda é baseado no velho Spyglass que, por sua vez, baseia-se no paleolítico Mosaic. Incita-nos a notar também que o copyright do IE é de 1995 a 2001. (Ora, raios! Não é que é mesmo?) Será que isso quer dizer que não tem havido qualquer desenvolvimento realmente novo em cima do bicho desde então? Seriam apenas esses remendos que a gente vê a toda hora? A outra gozação do articulista é recomendar-nos a clicar em "Acknowledgements" (agradecimentos), desafiando-nos a ler até o fim a lista ultralonga de créditos. Como é que tanta gente pode ter trabalhado num só produto de software?

A impressão de Dvorak é que a Microsoft estaria se movendo apenas no embalo, faturando horrores, certo, mas navegando só enquanto der, com um possível objetivo mais adiante: fechar suas portas. Ele reconhece que a idéia é meio ridícula e as centenas de comentários em seu site comprovam esta impressão. No entanto, grandes companhias interrompendo suas atividades não é algo novo -- já aconteceu antes. Ele lembra os primeiros temos da microinformática, em que a empresa Process Technology simplesmente fechou. Achava-se que a firma tinha quebrado, mas no final das contas ficou claro que os donos apenas se encheram e pararam com a brincadeira.

O audacioso Dvorak faz em seu artigo uma análise das ações da MS e imagina que, se ela continuar no processo de mudar tudo para fora dos EUA e conseguir levantar mais algumas dezenas de bilhões de dólares, poderá numa boa pagar seus acionistas e fim de papo. Tchauzinho. O impacto local nos Estados Unidos seria mínimo, como também o seriam os processos legais contra a empresa por ter fechado. Os funcionários seriam espalhados pelas novas companhias menores que se formariam a partir das divisões da Microsoft. Seria só o trabalho de dar novos nomes às firmecas e distribuir o cacau entre todas.

A teoria do Dvorak é meio maluca mas, no final das contas, os chefões continuariam bilionários e não teriam que um dia ver a Microsoft rolar tristemente ladeira abaixo, seguindo o inexorável destino dos grandes impérios. Não há como discordar do imaginativo articulista quando diz que um acontecimento assim seria um dos mais notáveis e interessantes episódios da história dos negócios em todos os tempos. O pior que aconteceria seria o Tio Bill levar umas escovadas de leve pelo Departamento de Justiça americano e zé fini. De acordo com Dvorak, é isso mesmo que a Microsoft deveria fazer: fechar. A maioria dos usuários se agüentaria com o Windows XP por mais uns três anos. A empresa lançaria ainda mais uma versão do sistema operacional, o Longhorn, e, quem sabe?, ofereceria para o domínio público todos os fontes de seus softwares, numa cutucada final contra o Linux.

Esse Dvorak... esse cara fuma o quê, afinal?


Os links de hoje estão em catalisando.com/infoetc/20040719.htm, mas como acho que a leitora vai querer comentar sobre este assunto, peço que o faça no Catalisando, na seção "BLOGS GLOBO ONLINE", onde deixei hoje uma chamada para esta coluna. Aliás, meu obrigado ao Hugo Magliano pela dica deste estarrecedor artigo do velho Dvorak.

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