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O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira

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Artigo: 610 / Publicação: 2005-01-03

POR ONDE CIRCULA O DÓLAR?

Há poucas semanas encontrei no colchão da minha tia rica uma nota de dólar carimbada em vermelho com uma frase bem miudinha que me chamou a atenção, pois mencionava um endereço na web. Anotei o dito cujo, pus a nota de volta e fui direto pra máquina. Acabei divertindo-me um bocado e conto então à leitora a história por trás deste curioso site.

Em meados de 1997, o americano Hank Eskin se perguntou por onde teria andado uma cédula que ele tinha em suas mãos. Decidiu então bolar um jeito de seguir a vida útil de algumas notas de dólar usando a web como ferramenta. No final do ano seguinte, lançou a página "Where's George" e começou a cadastrar cédulas válidas no banco de dados do site, inserindo dados sobre cada uma delas: ano de impressão, número de série e denominação (1, 5, 10, 20, 50 ou 100 dólares americanos). A idéia era pôr essas notas novamente em circulação e ir acompanhando seu trajeto pelo mundo.

Para que um futuro participante pudesse localizar geograficamente onde teria encontrado uma nota já cadastrada, Hank deixou no banco de dados um campo para o "zip code" postal americano, equivalente ao nosso CEP. O zip code do Rio, por exemplo, é o do Consulado Americano aqui na cidade. Além disso, adicionou um rápido comentário sobre cada nota onde se pudesse informar seu estado de conservação, onde e como foi recebida, e deixando um espaço para texto livre, caso alguém quisesse contar alguma historinha sobre a cédula. E, para induzir os próximos donos a realimentarem o site, carimbou todas as notas que cadastrou com letras miúdas formando uma frase chamativa e curta que, traduzida, seria algo como: "Acompanhe a circulação desta cédula -- www.wheresgeorge.com". Depois disso, pegou o montinho de grana e saiu gastando normalmente no dia-a-dia.

A primeira coisa que me veio à mente era uma velha noção de que carimbar ou escrever em dinheiro seria crime. Mas, para minha surpresa, pela lei americana, se a cédula não for desfigurada e ainda puder circular, então está tudo na mais perfeita legalidade. No entanto, se o sujeito rasgar, amassar, mutilar ou perfurar uma cédula pode passar até seis meses em cana e/ou pagar 100 verdinhas de multa. Uma vez que, segundo o "Where's George", um carimbinho não dói, lá se foi então o tempo passando e mais gente alimentando o banco de dados. Quando uma criatura atenta recebia uma nota, e lia o carimbo, ia direto à web para saber por onde tinha andado a cédula. E, pode crer, é fascinante acompanhar o trajeto dos dólares no site. Depois que a leitora se farta de ler causos e curiosidades bobas sobre esta ou aquela cédula, sente um ímpeto quase incontrolável de contribuir para a base de dados do sistema. O próximo passo é óbvio: sair carimbando tudo que é nota de dólar que tiver em casa e também na casa dos parentes, amigos. Na falta do carimbo, a opção é sair escrevendo com letrinhas pequenas e caneta bem fina a mesma frase convidativa com o endereço do site. Vira quase uma mania, obsessão.

Há, porém, quem chegue a extremos -- os campeões do "Where's George" -- gente como Gary, da cidade de Wattsburg, na Pensilvânia. Ele começou a participar do "Where's George" em 2002 e já é o recordista disparado em número de notas inseridas no site -- 213.184 cédulas -- totalizando US$ 707.390. Dentre as notas que ele adicionou, 24.438 delas já chegaram às mãos de outras pessoas que, motivadas pelo carimbo, entraram no site e reforçaram o giro da informação. Pode-se ver na web o perfil desses super-usuários e percebe-se logo a importância ocupacional que o "Where's George" deve ter em suas vidas. Muitos deles chegam a ostentar em suas páginas um detalhado mapa dos Estados Unidos exibindo a distribuição estatística do paradeiro de suas cédulas, tudo codificado por cores e com legendas, o máximo em capricho.

Todavia, para ser verdadeiro expoente no sistema, não basta ter o maior número de cédulas cadastradas. Cada usuário registrado recebe uma pontuação mágica, calculada por uma cabeluda fórmula matemática que leva em consideração o total de notas adicionadas, o número de vezes que ela foi re-inserida por outros usuários ao longo do tempo e o nível de frenesi carimbador do participante, ou seja, a freqüência com que o usuário cadastra novas notas.

Segundo os registros do "Where's George", a cédula mais manuseada e acompanhada pelo sistema é uma nota de 1 dólar emitida em 1999 e que já teve 15 pontos de circulação registrados.

A leitora não paga nada se quiser participar da brincadeira, pois o Hank banca o site do próprio bolso, ajudado pela venda de banners e pelo comércio de mercadorias ligadas à mania de esquadrinhar cédulas pelo planeta afora. Para quem quiser pagar uma merreca como contribuição, Hank oferece uma versão mais sofisticada do site, exclusiva para os usuários pagantes.

Quanto à questão da legalidade de sair carimbando cédulas de dólar, embora no site pareça estar claríssima e irrefutável, ainda deixa decerto uma pulguinha atrás da orelha dos participantes. É que quase nenhum usuário se identifica por completo e o próprio site, que antes vendia um carimbo "oficial" de borracha, deixou de oferecê-lo há tempos.


Os links de hoje estão em catalisando.com/infoetc/20050103.htm

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