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O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira

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Artigo: 615 / Publicação: 2005-03-14

QUE PAPELÃO! [ ... E SUA REDENÇÃO ]

Ilustração do honorável e mil vezes sábio Mestre CRUZ. Clique para ampliar.

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Em meados do ano passado viajei a trabalho para participar de um evento da HP nos Estados Unidos. Além das conferências, sempre há um pavilhão de exposições mostrando as novidades. E nele, qualquer visitante que se preze acaba preenchendo os famosos cupons de sorteio em vários dos estandes. Quem sabe o cara não dá sorte e fatura um premiozinho? Semanas depois, apareceu lá na minha portaria uma caixa. Colada nela, um papel da Receita cobrando uma taxa alfandegária. Nem me lembrei do tal sorteio e, como achei que fosse engano, mandei devolver o pacote. Uma semana depois a caixa voltou para mim com um carimbo "Alfândega paga" ou algo do gênero. Ou seja, o remetente pagou tudo. Abri a caixa feliz da vida e li a carta que veio junto. Eu tinha sido contemplado num sorteio e aquela bela câmera digital HP Photosmart 735 era minha mesmo. Será que eu estava começando a absorver um pouco da incrível e legendária sorte do amigo colunista Marcelo Balbio que, graças à sua boa estrela, papa quase todos os sorteios de que participa?
 
Bem, passou o tempo e fui convidado há poucas semanas a participar de um outro grande evento, agora em San Francisco, o Intel Developers Forum Spring 2005, com milhares de participantes e convidados vindos do mundo inteiro. No pavilhão de exposições, no estande de Digital Home da Intel, um amável cavalheiro conclamava os visitantes a preencherem um cupom de sorteio e, obviamente, não me fiz de rogado. Escrevi meus dados completos na papeleta e joguei-a no vidrinho.
 
Em 3 de março, último dia do evento, minutos antes da keynote de Justin Rattner, para minha imensa alegria, lá estava meu nome estampado no telão, sem erros de grafia, diante duma platéia com centenas senão milhares de espectadores. Ganhei um computador desktop Dell Dimension XPS absolutamente formidável, máquina tão cabeluda que o processador Intel dela ainda não tinha sido fabricado. O computador inteiro só seria montado em meados de junho, segundo me informaram depois.  E o melhor: eu não precisaria me preocupar, pois la machina seria entregue no endereço que informei, em Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil. Que alívio! E que felicidade. Ainda enviei emails para alguns contatos na Intel dizendo que, se houvesse necessidade, eu poderia fornecer endereços de um punhado de amigos americanos, de modo a facilitar a entrega. Voltei para o Brasil quase levitando e já com planos de, ao receber meu prêmio, repassar meu computador atual pro meu pai, pois a máquina dele está quase se desmilingüindo.
 
Pois acredite, leitora, seis dias depois de ter sido sorteado, recebi um email de um funcionário da Intel dizendo que, após verificar com o departamento jurídico da empresa, lamentava profundamente informar que não poderiam me entregar meu prêmio, pois o concurso exigia que o sorteado fosse residente legal nos Estados Unidos. Procurou justificar tal decisão alegando que o vencedor teria que assinar um termo formalmente aceitando as regras do sorteio, e que uma das regras incluiria esta restrição de residência. Que regras eram essas, que não foram informadas antes?
 
Mas o final da mensagem reservava a suprema surpresa, vinda daquele funcionário do maior fabricante de processadores do mundo, cujo CEO, Craig Barrett, tive o prazer de entrevistar durante a conferência. Sim, num arroubo de infinita generosidade, ofereceu-se a enviar-me uma camiseta da Intel, bastando que, para isto, eu informasse o meu tamanho. Seria uma daquelas camisetas que estavam sendo distribuídas gratuitamente às toneladas entre os visitantes lá no pavilhão? Ao final, após a oferta da camiseta, quase uma ofensa, despediu-se o funcionário com o famoso "sorry" e desculpou-se pela confusão.
 
Ora, confusão? Confusão de quem? Ninguém me falou sobre as regras antes que eu preenchesse o formulário. Não estavam tampouco tais regras expostas no estande nem em qualquer outro lugar do evento. Meu crachá ostentava claramente "BRAZIL". Além disso, no formulariozinho que preenchi tinha informado o meu endereço e o meu país. E, como se tudo isso não bastasse, meu sotaque tupiniquim indicaria imediatamente que eu não sou americano. Mas mesmo assim deixaram eu me inscrever no concurso e, mesmo sem levar muita fé, fiquei torcendo. Obviamente, jamais preencheria o cupom se soubesse que não teria qualquer chance de ganhar.
 
Além do anúncio gigantesco no telão, meu nome permaneceu até o final da exposição anunciado como um dos dois vencedores num pequeno cartaz no mesmo estande onde me inscrevi. Enquanto desmontavam a exposição ainda passei lá, pedi a uma jovem da Intel para levar o histórico cartaz e guardei-o como souvenir.
 
É muito difícil acreditar que num evento tão tradicional e, sobretudo, eminentemente internacional, tal palhaçada possa acontecer. Com tantos participantes estrangeiros, um restrição assim tão importante deveria ter sido divulgada de maneira competente. Aliás, foi tão pessimamente divulgada que até os funcionários da própria Intel, na hora em que sortearam, leram meus dados e nem se tocaram que um estrangeiro não poderia ser contemplado. O normal seria descartarem meu cupom de imediato e sortearem outro. Mas não, anunciaram-me aos quatro ventos como contemplado e, depois, o vexame.
 
A recusa em entregar meu prêmio, mesmo tendo sido meu nome amplamente divulgado num evento internacional de tal porte, com base numa obscura restrição constante num conjunto oculto de regras certamente não condizem com a sólida reputação que tem a Intel e certamente contribuirá pouquíssimo na preservação do alto conceito que tem a empresa entre o público brasileiro.
 
De tudo isso, ficou um gostinho amargo e desagradável.
 


[Atualização em 2005-06-15]

Dias depois de publicada a coluna acima, a Intel entrou em contato comigo informando que entregaria meu prêmio em julho. Em 2005-04-13 propus a troca do XPS por um notebook Dell Latitude 610 bem equipado. No dia seguinte, a Intel respondeu com um OK, informando que em algumas semanas eu receberia o notebook em casa. Sábado passado, 2005-06-11, a Intel cumpriu a promessa. Recebi a caixa tão esperada às 8h30 da manhã. A Intel, portanto, fez jus à sua ótima reputação, honrando o compromisso do sorteio que ganhei em San Francisco. Meu obrigado às equipes da Intel Brasil e da Item Comunicações, assessoria de imprensa da companhia, que fizeram a ponte com a matriz nos EUA. Veja as fotos do momento tão esperado, aqui.

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