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O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira

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Artigo: 619 / Publicação: 2005-05-09

O NAVIO DOS NERDS

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Diante da mão-de-obra barata encontrada em países do Oriente, muitas empresas de atendimento a usuários de informática e desenvolvimento de software fecharam seus escritórios nos Estados Unidos e passaram a tocar todas as suas operações em países asiáticos. Trata-se da febre do "outsourcing", que teve como conseqüência o desaparecimento de milhares de vagas de emprego em TI na terra do Tio Sam, deixando os desempregados justificadamente zangadíssimos. Isso sem mencionar a evasão de divisas que sobreveio, prejudicando aquele país tão pobrezinho.

Estava eu matutando sobre este assunto, quando meu amigo Américo Oliveira me enviou informações sobre um grupo de empresários que tiveram uma idéia assaz interessante contrapondo-se ao outsourcing. A empresa se chama SeaCode Inc., e se localiza em San Diego, na Califórnia. O pulo do gato seria oferecer a economia de custo oferecida por uma empresa de outsourcing baseada, por exemplo, na Índia, mas cujas instalações estivessem a poucas horas de viagem dos EUA. Eles planejam estabelecer um time de desenvolvedores e especialistas em tecnologia a bordo de um navio que ficaria fundeado a cerca de 5 quilômetros de distância da costa de Los Angeles.

Há muitos anos o colunista John Dvorak, amigo do Piropo, já previa solução semelhante quando escreveu em seu blog sobre o "navio escravo das Índias", imaginando que haveria até um campo de golfe a bordo.

David Cook é um dos cabeças do grupo, o CEO da SeaCode, e tem em seu currículo o fato de ter sido comandante de navios-tanque da Marinha Mercante americana, antes de se meter no ramo de TI há 10 anos. O plano dele é adquirir um navio usado, reformá-lo requintadamente, e posicioná-lo costa afora de modo que lanchas rápidas possam chegar à terra em menos de uma hora e meia. De helicóptero, é claro, demoraria muito menos. A idéia é evitar a situação legal conhecida como "jurisdição H-1B", que regula a concessão de vistos a trabalhadores temporários nos Estados Unidos. Com o navio colocado em águas internacionais, a SeaCode permaneceria perto do país e poderia captar recursos de mão-de-obra do mundo inteiro, tarefa que a norma H-1B tem tornado muito difícil para empresas localizadas no território americano.

Para os futuros clientes da SeaCode, a saída também seria vantajosa, pois os salários pagos a especialistas estrangeiros que topassem a parada seriam bem menores do que os pagos a desenvolvedores americanos atuando em terra firme.

A leitora decerto pensará: mas onde é que esses funcionários iriam morar? Ora, no próprio navio, muito embora isto possa parecer dureza, mas não seria não. O (Capitão) Cook revela sua intenção de estabelecer a bordo de sua nau condições quase nababescas para os que aceitarem residir a bordo. Nas horas livres, os funcionários teriam à sua disposição toda uma avançada infra-estrutura de entretenimento a bordo. Além disso, considerando que cada empregado precisaria ser portador de um visto de turista para poder pisar em terra firme, ele poderia pegar uma lancha-taxi e ir se divertir na esbórnia em Los Angeles sempre que tivesse vontade, durante a folga.

O projeto contempla a contratação de 600 desenvolvedores e gerentes de projeto, que comporão uma equipe em turnos, atendendo ininterruptamente clientes localizados em qualquer lugar do planeta, ou seja, englobando todos os fusos horários. Este arranjo pouco usual permitirá às equipes terminar tarefas em metade do prazo convencional, sem perda de qualidade e mantendo o controle sobre o serviço. O chefe Cook prevê que, organizando a equipe em times menores, estes grupos funcionarão de forma super-coesa, formando quase uma família e, graças a isto, proporcionando níveis de motivação, integração e qualidade bem acima dos normais. Há quem acredite, no entanto, que depois de uns meses sendo obrigados a ver as mesmas caras todo dia, enfurnados num navio balouçante e adernante, os camaradas vão acabar se esbofeteando, isso na melhor das hipóteses.

O chefe de operações da SeaCode, Roger Green, admite que muitos poderiam pensar que a idéia da empresa seria beneficiar-se de mamatas que reduziriam seus pagamentos de impostos e outras taxas legais. Mas ele nega veementemente estas insinuações, afirmando que a SeaCode será uma empresa absolutamente legalizada e que apenas 10% dos recursos serão gastos com pagamento dos funcionários, que serão em sua maioria cidadãos não-americanos. O resto das despesas será com equipamentos, suprimentos, combustível e custos diversos, tudo adquirido nos EUA, segundo o executivo.

A SeaCode não pretende competir em desenvolvimento de sistemas simples, como os codificados em Visual Basic, mas sim em projetos corporativos de grande porte e que necessitem de código avançado e de um apurado acompanhamento de projetos. Além disso, pensam em contratar também trabalhadores americanos, com salários compatíveis aos que receberiam em terra.

Bem, vamos ver se os camaradas da SeaCode conseguem convencer algum investidor pesado e tocar adiante a idéia. Ficarei alerta e qualquer novidade eu lhes conto.


Os links de hoje estão em catalisando.com/infoetc/20050509.htm.

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