O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Java versus .Net

Artigo: JavaOne

Evento JavaOne é mais uma batalha de uma guerra que terá muitos mortos e feridos

Publicado em:  2002-03-25
Escrito em:  2002-03-20

 

Está ficando cada vez mais sangrenta a briga entre as plataformas de Web Services [vide box] para médias e grandes corporações. De um lado a Sun, com sua já consagrada filosofia Java. Do outro, o .Net (pronuncia-se "dot net"), plataforma em que a Microsoft está investindo US$ 5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, mais do que o dobro do orçamento inteiro da Sun.

A coisa vai esquentar por ocasião do 2002 JavaOne Conference, evento que terá lugar em San Francisco, de 25 a 29 de março. A Sun vai concentrar todos os esforços no sentido de solidificar ainda mais a presença de Java no mercado. A Microsoft conta com seu fenomenal poder econômico mas, por enquanto, ainda encontra sérias dificuldades em desbancar o Java, que tem fervorosos seguidores: os webmasters de cerca de 25 mil sites já em plena atividade. O que preferirão eles? Reaproveitar o investimento já feito em Java ou começar quase do zero com .Net?

A estrela do evento JavaOne será o lançamento da versão 1.4 do J2EE (Java 2 Platform Enterprise Edition) que, entre outros avanços promovidos pela Sun e seus parceiros, pretende facilitar a vida das grandes empresas ansiosas por explorar as novas tecnologias em Web Services, tanto para construção de novas aplicações quanto para integração das já existentes.

O lado fraco da Sun nessa disputa é que ainda lhe falta de um bom arcabouço em gerenciamento e segurança, algo prometido para breve. A plataforma .Net, pelo menos, garganteia que é bamba nisso. Alguns acreditam que seja apenas "slideware" da Microsoft, termo sucedâneo do "vaporware", e que denota software que por enquanto existe apenas nos "slides" das apresentações dos marketeiros. Contudo, apesar de já ser sabido que não se pode confiar lá muito nessas declarações microsoftianas, tem muito webdesigner "maria-vai-com-as-outras" que não tem peito para se manter em sua linha filosófica de trabalho e acaba virando casaca para os modismos de Redmond. E, mais importante, essas criaturas não estão sozinhas, pois os chefões por trás delas geralmente também não têm tutano para seguir caminhos pouco trilhados. Afinal de contas, sendo responsáveis por grandes orçamentos em sistemas, se optarem pelas soluções adotadas pela grande maioria e derem com os burros n'água, pelo menos poderão dizer que foi todo mundo junto para o buraco. É o velho pensamento do "quem tem sul tem medo"...

Estima-se que três quartos das corporações já engajadas em pesquisa e projetos-piloto envolvendo Web Services estejam tendendo a usar J2EE ou outros produtos javófilos, oferecidos por empresas como BEA Systems, Hewlett-Packard, IBM, Oracle e SilverStream.

Todo esse xodó por Java é fruto de um primoroso trabalho de catequese por parte dos fabricantes javistas, que chegaram juntinho aos gerentões de sistemas e demonstraram que seus produtos tinham escalabilidade e eram seguros. Para a turma do Bill virar o jogo, só mesmo empatando muita grana em marketing para provar por A+B que o .Net, além de seguro e escalável, também pode trabalhar em coexistência pacífica com aplicações Java em servidores UNIX.

Na corrida entre .Net e Java, a Microsoft está na frente, graças à sua saúde financeira, que possibilitou desenvolver mais rapidamente uma plataforma altamente complexa. A comunidade Java ainda não implementou funções para Web Services no núcleo da plataforma, mas pretende fazê-lo assim que o mercado se solidificar, decisão prudente e sábia segundo alguns. Quanto ao gigantismo microsoftiano, este já é bem conhecido e costuma gerar problemas. Talvez tenha sido profético o comentário feito em novembro de 2000 pelo analista Madhu Siddalingaiah, da empresa de consultoria SEA Corporation. Disse ele: "A Microsoft anunciou o .Net como uma plataforma inovadora, mas o que estão realmente fazendo é oferecer aos desenvolvedores um par atualizado de algemas".


JavaOne Conference

O evento começa hoje no Moscone Center, em San Francisco, indo até sexta-feira. As palestras principais, os "keynotes", serão dadas pelos mais graduados executivos da Sun Microsystems, da Oracle e da Sprint PCS. Scott McNealy, CEO da Sun desde 1984, fará o keynote do dia 26. Paul Saffo, futurólogo e historiador, diretor do Institute for the Future, será a estrela no keynote do dia 28.


Web Services -- o que são?

Cada vez se fala mais em "Web Services", assim como se fosse nome próprio mesmo. A esta altura, traduzir o termo para "serviços web" seria o mesmo que traduzir o nome do Louis Armstrong para Luiz Braçoforte, ou Jimmy Cliff para Jaime Penhasco. Mas afinal, o que são os Web Services?

Um sistema é composto de várias peças que devem funcionar em conjunto. Nos softwares tradicionais, o acoplamento entre os componentes era muito frágil, ou seja, para as peças se encaixarem umas nas outras havia tantas restrições e detalhezinhos que o acoplamento podia ser feito de um jeito só, sem variações, tudo baseado em estruturas fixas de dados. E o pior: a colaboração entre os diversos componentes era estática. Qualquer mudança que fosse necessária num sistema desses era o maior auê: as peças deixavam de se casar, e para acertar tudo novamente era uma trabalheira dos diabos. Para resolver problemas assim, os desenvolvedores de software apelavam para a destreza de seus técnicos e para a força bruta, contratando um montão de gente para consertar o pepino.

Com o aumento da escala, do volume, da demanda e da velocidade com que muda o mercado, estes problemas saltaram aos olhos, causando web sites lentos, travados e pouco ágeis com relação às alterações funcionais que são típicas de um ambiente dinâmico de mercado. Os sistemas foram perdendo a capacidade de responder rápido a novas oportunidades de negócio e às ameaças da concorrência. Precisava-se de uma forma mais ágil de produzir aplicações para a web, e que estes sistemas fossem mais fáceis de se alterar.

O jeito de construir software foi caminhando sempre numa mesma direção: o encapsulamento. Começou ainda nos tempos da linguagem Cobol, com o conceito de programação modular. Eram módulos funcionalmente independentes que conversavam entre si graças a um esquema bem comportado de trocas de dados, visando um objetivo comum. Depois veio a programação orientada a objetos, sendo cada objeto uma extensão do conceito de módulo. Um objeto bem definido e bem programado poderia ser reutilizado em outra função parecida, sem necessidade de qualquer alteração em seu código.

O passo seguinte foi dado em função das exigências típicas das aplicações na web: o encapsulamento de serviços. Cada serviço é uma ampliação do antigo conceito de objeto e, da mesma forma, se um serviço for bem especificado e codificado, poderá ser usado novamente numa outra parte do software sem precisar mudar nada. Sim, chegamos lá, esses serviços foram chamados de Web Services, possibilitando ligações dinâmicas entre componentes. Web Services são comportamentos funcionais encapsulados que se comunicam com outros serviços através de API's (application program interface) de mensagens, que são recebidas e processadas pelos outros componentes que colaboram na rede.

É uma nova abordagem arquitetônica -- sistemas orientados a serviços -- baseada na noção de se construir aplicações através da descoberta e da interligação orquestrada de diferentes serviços disponíveis em rede, de modo que a integração entre as aplicações seja dinâmica. É a realização do sonho dos desenvolvedores de sistemas para a web. Assim, pode-se definir Web Services como aplicações modulares e autocontidas, que podem ser descritas, publicadas, localizadas e acionadas através de uma rede, no caso, a nossa querida World Wide Web. Segundo esta filosofia, tudo são serviços. Basta definir direito seus detalhes de implementação e a forma com que se comunicam com outros serviços, que tá tudo pronto. É só rodar.


Evolução do conceito de Web Services:


Links adicionais:

JavaOne site oficial:
http://servlet.java.sun.com/javaone/sf2002/home/index.en.jsp

Normas para Web Services:
http://www.w3.org/2002/ws/

Comparação entre .Net e J2EE tendendo para a Sun:
http://java.sun.com/features/2000/11/dotnetvsms.html?frontpage-banner

Outra Comparação, esta tendendo para a Microsoft:
http://www.gotdotnet.com/team/compare/
(Menciona a Pet Shop)

Mais uma comparação, também microsftiana:
http://msdn.microsoft.com/net/compare/default.asp

Transição de Java para .Net:
http://www.gotdotnet.com/team/java/

Microsoft diz que ganhou o concurso Pet Shop:
http://www.microsoft.com/india/msdn/vslive/petshop/j2ee.asp

Pet Shop .Net FAQ:
http://www.gotdotnet.com/team/compare/petshopfaq.aspx

Mais sobre Pet Shop:
http://msdn.microsoft.com/net/compare/default.asp

Resultado da competição Pet Shop, site pró-Microsoft na Índia:
http://www.microsoft.com/india/msdn/vslive/petshop/default.asp

Mais sobre a briga Java X .Net:
http://www.theregister.co.uk/content/4/23879.html

Semelhante ao anterior, só que exige registro no CBR:
http://www.cbronline.com/cbr.nsf/100/4C32B5A7DF41A0BD80256B510015FC9D?Opendocument&Highlight=2,Gavin+Clarke

Análise do .Net feita pela Sun:
http://java.sun.com/features/2000/11/dot-net.html

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