O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Entrevista: CONRAD ROEBER

Artigo: Entrevista

Executivo da Spectrum Strategy

Publicada em:  2002-03-18
Escrito em:  2002-03-10

 

Conrad Roeber é um dos principais consultores da Spectrum Strategy, empresa multinacional de assessoria tecnológica e de negócios, com filiais no Rio e em Brasília. Foi o responsável por importantes pesquisas para o Governo britânico para implementação de sistemas de TV interativa e telefonia móvel. Atualmente está coordenando um detalhado levantamento de competitividade do mercado de jogos em computador na Inglaterra.

Integrou a comitiva da ministra britânica de Indústria e Comércio, baronesa Symons de Vernham, em sua recente visita ao Brasil, como consultor de um assunto que nada tinha a ver com games, mas sim com televisão digital, tema sobre o qual serão tomadas decisões importantes pelo Governo brasileiro, obviamente envolvendo pesados investimentos.

Conrad Roeber concedeu-nos esta entrevista na Pérgula do Hotel Copacabana Palace no Rio de Janeiro, em 8 de março de 2002, logo antes de um indescritivelmente delicioso almoço.


InfoEtc: Seu nome, Conrad Roeber, é inglês ou alemão?

C. Roeber: É alemão.

InfoEtc: Acho que encontrei na web um antepassado seu, Conrad Röber, nascido em 1677 em Seebergen, Alemanha.

C. Roeber: Puxa, deve ser gente minha mesmo, vou pesquisar depois.

InfoEtc: Considerando a atuação de sua empresa, a Spectrum Strategy, como firma de consultoria internacional em tecnologia, qual o propósito de sua visita ao Brasil?

C. Roeber: O Brasil é um dos mais importantes mercados na América Latina. Como já tínhamos presença nas áreas mais importantes do mundo, surgiu a necessidade de estabelecer operações na América Latina. Anteriormente tivemos uma relação com a Victori Telecom e este contato se desenvolveu até que surgiu a oportunidade de abrirmos um escritório aqui no Brasil, numa joint-venture com a Victori.

InfoEtc: Com relação aos estudos anteriores conduzidos por você no mercado britânico, focalizados em telefonia móvel, televisão interativa e atualmente com ênfase em computer games, qual será o centro de suas atenções aqui no Brasil?

C. Roeber: Será em todas estas áreas. A Spectrum atua no universo que abrange telecom, mídia e conteúdo, com foco especial na interseção destas três áreas.

InfoEtc: Qual foi sua atuação com seus clientes anteriores aqui no Brasil -- Abril, Brasil Telecom e Vicom?

C. Roeber: A Vicom já foi vendida. Os trabalhos para os outros dois clientes já terminaram há um bom tempo. Em termos gerais, prestamos assessoria no desenvolvimento de novos negócios para estas empresas, aconselhando-as sobre áreas futuras de atuação e prevendo, dentro do possível, as futuras fontes de receita através da análise de quais mudanças estão ocorrendo no mercado a cada instante, mudanças tecnológicas, de demanda e alterações legislativas, que sempre criam novas oportunidades. Este sempre é o foco de nosso trabalho. À medida que vamos conhecendo mais profundamente um certo cliente, começamos a lidar com tópicos mais complexos, tais como questões de implementação. Com a Brasil Telecom, por exemplo, trabalhamos extensivamente num grande número de frentes de atuação em seu negócio. No caso da Abril, trabalhamos quando a empresa ainda estava centrada na mídia impressa e começava a pesquisar outras formas de atuação.

InfoEtc: Como está vendo a situação econômica brasileira em termos de estabilidade? É ou não um mercado com a aparência sólida para o investidor estrangeiro na área tecnológica?

C. Roeber: É claro que todos estão nervosos com a situação econômica na América Latina desde os recentes problemas na Argentina, uma vez que os mercados são de certa forma integrados e se afetam mutuamente de maneira óbvia. Mas a visão geral é a de que o Brasil é uma das economias mais estáveis neste contexto. Certamente, com a visita ao Brasil da delegação comercial britânica do Departamento de Comércio e Indústria esta semana, estabeleceram-se ligações comerciais que encorajarão o investimento no Brasil por parte de empresas britânicas. Há o sentimento de que este é um lugar onde se pode fazer investimentos seguros. Todos concordamos que a economia brasileira tem um imenso potencial, é um país com vastos recursos naturais, grande população, um nível educacional crescente.

InfoEtc: OK, mas tenhamos em mente que, apesar de nossa imensa população, apenas uma ínfima parcela dela tem acesso a estas novas tecnologias.

C. Roeber: Certamente, a pobreza é enorme, mas em longo prazo as pessoas mais otimistas acreditam que esses problemas serão gradualmente resolvidos. Assim, o Brasil demonstra que tem um grande potencial.

InfoEtc: Sobre a TV digital, qual a situação dos poucos países em que ela foi adotada?

C. Roeber: Depende muito. A TV digital tem várias formas, através de satélites, cabos, microondas e terrestre (transmissão gratuita através de antenas convencionais). A solução por microondas não teve sucesso na maioria dos países em que foi adotada. Mas falando de forma geral, a melhor história de sucesso em TV digital, foi através de operações digitais via satélite, que é uma forma barata de transmissão e oferece uma enorme capacidade e por isso foi escolhida nos exemplos de sucesso nos EUA, na França e na Grã-Bretanha. O sucesso da TV digital depende de um grande número de fatores, entre eles a saúde do mercado, o preço dos serviços e de qual conteúdo estará sendo entregue através dessas transmissões digitais. Estes fatores juntos em cada mercado específico vão determinar o sucesso ou fracasso das operações num determinado ambiente.

InfoEtc: Dentre a lista de países em que se adotou a TV digital, temos EUA, Grã-Bretanha, Japão e Espanha. Porque especificamente Espanha nesse contexto europeu?

C. Roeber: Na Espanha o foco foi dado à transmissão digital terrestre, com 5 empresas competidoras. Como conseqüência disso, os negócios andam muito mal por lá, colocando em dúvida o futuro das operações, mesmo num mercado razoavelmente saudável como mercado espanhol. As operações de TV digital paga (PayTV) são extremamente onerosas e, com cinco competidoras em cena, acaba havendo uma luta muito forte pelo mercado e o lucro de todas diminuem sensivelmente, colocando todas em situação de alto risco. Na Grã-Bretanha, têm-se mais operações via cabo, além de satélite e terrestre. Lá também a luta é muito feroz entre os dois únicos competidores, a tal ponto que eles estão oferecendo de graça equipamentos, set-top boxes e antenas de satélite. Assim sendo, nenhuma das empresas têm tido lucro. Mas há previsões de que muito em breve essas empresas passarão a ser lucrativas. Mas ainda há muita preocupação sobre se as operações terrestres de TV digital irão sobreviver a médio e longo prazo. Há muito poucos assinantes.

InfoEtc: Onde é que realmente se ganha dinheiro com TV digital? É nos serviços, nos equipamentos, na infra-estrutura ou no conteúdo?

C. Roeber: Novamente depende da plataforma. Mas de forma geral, os lucros são obtidos através da venda de conteúdos especiais a preços especiais. Nesse ponto há pouca diferença entre a TV analógica e a digital, a não ser que na modalidade digital há uma capacidade muito maior de transmissão, exceto no caso das operações terrestres. Nos outros casos, sempre é possível vender um leque maior de opções para o espectador.

InfoEtc: E a TV interativa, como se encaixa nessa história?

C. Roeber: Justamente um dos diferenciais da TV digital é a interatividade e, este sim, é o verdadeiro Santo Graal no setor da televisão.

InfoEtc: Quais são as histórias de sucesso em TV interativa?

C. Roeber: Existem de fato algumas histórias de sucesso, sendo que a mais marcante delas é justamente a da Grã-Bretanha, que tem a mais avançada plataforma interativa em operação. Temos aplicações muito especiais, especialmente no setor esportivo. Esses programas utilizam as poderosas capacidades de processamento da plataforma. Por exemplo, quando se está assistindo a uma partida de futebol em TV interativa, é possível selecionar um dentre um pequeno conjunto de jogadores, e separar na sua tela uma área onde surgirá a imagem de uma câmara especial que estará seguindo exclusiva e constantemente este jogador. É possível então, escolher entre diversas câmeras que estão operando continuamente e em ângulos diferentes. Além disso, é oferecida uma opção de replay, em que se pode observar ações que tiveram lugar há poucos instantes. Assim, vê-se que não se trata de um serviço totalmente interativo, mas apenas oferecendo algumas opções de interatividade. Outro exemplo importante são os canais de compras, em que o espectador seleciona um produto e efetua sua compra interativamente através da televisão. Na verdade, atualmente cerca de 20% da receita desses canais de compra é proveniente de operações interativas. Basta escolher o produto e clicar no botão vermelho.

InfoEtc: Qual a percepção da spectrum com relação ao consumidor potencial brasileiro desta tecnologia?

C. Roeber: Bem, no Brasil quando se fala em TV interativa, normalmente o usuário pensa na transmissão gratuita, como a que existe atualmente na TV aberta convencional. No entanto, existe também a modalidade de TV digital paga, esta outra obviamente encarada pelas empresas como uma importância muito maior.

InfoEtc: Teria mais detalhes sobre a operação de TV interativa na Grã-Bretanha?

C. Roeber: Na Grã-Bretanha existem três plataformas em operação: cabo, satélite e terrestre. O governo de nosso país, quando se começou a digitalizar a televisão, permitiu que fossem oferecidos serviços pagos através da via terrestre. Aqui no Brasil, o governo só autorizou transmissões via terrestre de conteúdo gratuito.

InfoEtc: Quanto ao equipamento necessário para receber sinais digitais, é um aparelho diferente do convencional?

C. Roeber: Não, o aparelho é o mesmo, sendo que a ele se acopla uma set-top box. No momento em que as transmissões digitais se iniciarem, todos os consumidores que quiserem recebê-las precisarão ter a tal caixa.

InfoEtc: E com respeito ao padrão? Qual será o padrão adotado aqui no Brasil?

C. Roeber: Eu não ousaria me meter a adivinhar qual padrão vai ser o escolhido aqui. Porém, o único padrão que já está efetivamente em uso é o padrão europeu, o DVB. Nos EUA não houve ainda o lançamento efetivo de um sistema de TV digital em seu padrão ATSC. No Japão, o sistema ISDB ainda está em fase de desenvolvimento e não há ainda uma previsão em curto prazo de lançamento. O padrão europeu é o que está em uso na Espanha e na Suécia também. Assim sendo, qualquer país que tem interesse em adotar TV digital poderá fazer avaliações concretas de sistemas já funcionando de acordo com o padrão europeu. Existem problemas particulares com o padrão americano, que ainda não se comporta muito bem em áreas urbanas. O padrão japonês, por sua vez, é mais sofisticado em uma série de aspectos, pelo simples fato de ter sido desenvolvido depois. Mas como desvantagem, há o fato de que se torna bem mais arriscado em termos de implantação, já que não existe em lugar algum um sistema já operando de acordo com esse padrão. Seja como for, o governo brasileiro está interessado em selecionar um padrão que realmente funcione e que faça sentido para o mercado brasileiro especificamente. Um problema de importância fundamental e que está pesando muito na escolha brasileira é o fato de que as set-top boxes terão que ser produzidas em algum lugar. Esta variável tem um valor muito forte pois se pretende favorecer ao máximo a indústria nacional, tanto na produção de componentes quanto na fabricação dos próprios equipamentos.

InfoEtc: O que se vê então é uma briga bem quente.

C. Roeber: Sem dúvida, mas o que se vê é que as áreas do governo estão sendo bastante práticas e pragmáticas em seu processo decisório.

InfoEtc: Mas será que o momento atual não seria meio inoportuno para se adotar uma tecnologia tão avançada e que ainda não foi efetivamente testada em lugar nenhum apresentando sólido êxito? Não seria mais prudente esperar um pouco mais e deixar que as experiências nos país de primeiro mundo apresentem resultados mais palpáveis e positivos?

C. Roeber: No caso dos países do primeiro mundo, a pressa existe em função de uma vontade que se tem de desligar por completo sistema analógico antigo. Assim, as faixas de freqüência que atualmente são utilizadas para a TV analógica poderão ser realocadas para novas aplicações e novos serviços. Com este espectro liberado, serviços de telefonia móvel, por exemplo, poderão ser encaixados nessas faixas livres. Além disso, há a certeza de que os próprios consumidores se beneficiarão da filosofia digital, com as pessoas desfrutando de um melhor serviço de televisão. Da mesma forma que no Brasil, no momento em que as freqüências convencionais que televisão aberta analógica estiverem livres e o serviço já estiver sendo todo feito no modo digital, vai-se poder desligar todo o sistema antigo. Aliado a isto, existe a inevitabilidade de que mais cedo ou mais tarde será a filosofia digital que irá prevalecer, por ser uma forma mais eficiente de se transmitir informações.

InfoEtc: E quanto tempo se estima que esta transição do analógico para digital vá demorar aqui no Brasil?

C. Roeber: Entre 20 e 30 anos. Porém, o grande risco está justamente neste período de transição, em que terão que coexistir os sistemas analógico e digital. Para que um dia se possa considerar que o sistema digital será o único que precisará continuar operando, é preciso que a tal abordagem demonstre cabalmente possuir uma penetração igual ou maior que a do sistema analógico antigo. Gerenciar esse período de transição é justamente a parte mais delicada do processo.

InfoEtc: E como será o momento em que alguém terá que decidir de continuar o sistema analógico?

C. Roeber: Qualquer presidente do Brasil que esteja em pleno mandato no momento em que essa decisão tiver que ser tomada, certamente tentará adiá-la, pois se houver um percentual mínimo da população ainda dependendo do velho serviço analógico, e for sumariamente cortada a transmissão por este método, o governante obviamente se tornará bastante impopular em pouquíssimo tempo.

InfoEtc: Será que existe a possibilidade de que novamente algum gênio brilhante resolva criar um padrão específico de televisão digital a ser adotado aqui no Brasil e em nenhum outro lugar do mundo, a exemplo do que aconteceu por ocasião da adoção da TV colorida, em que algum louco idealizou o sistema PAL-M, que acabou por nos isolar tecnologicamente de todo o resto do planeta?

C. Roeber: Eu não acredito que nada desse tipo esteja sendo considerado para o caso da TV digital no Brasil. Seria muito custoso o desenvolvimento de um padrão específico para o Brasil. Na verdade, existe até uma intenção bem clara de se adotar um padrão mais ou menos de acordo com as escolhas dos outros países do Mercosul, de modo a propiciar uma razoável compatibilidade entre os sistemas.

InfoEtc: Certamente você está a par de situações passadas em que aqui no Brasil houve decisões precipitadas com relação à adoção de novas tecnologias ou abordagens comerciais, tudo isto motivado por lobbies muito bem conduzidos e que acabaram desviando aqueles que fariam as escolhas, fazendo-os atender a interesses que não necessariamente visavam ao bem da nação, mas sim a outras motivações. Exemplos não faltam: a abertura do mercado para fabricantes estrangeiros de veículos, a questão da lei do software, o projeto Sivam, a inundação do mercado com telefones celulares e suas antenas potencialmente perigosas, indo até a noção questionável de que é essencial que cada escola tenha um computador. E agora nos aparece a TV digital, como mais uma tecnologia quase que imposta externamente sobre nós. Será que não haveria outros problemas que mereceriam solução mais prioritária do que a adoção de uma tecnologia ainda não fortemente estabelecida em países muito mais economicamente saudáveis do que o Brasil?

C. Roeber: Pelas conversas que tivemos com seus governantes, há uma consciência muito grande da importância do passo que está sendo dado. Está também bem claro que, pelo fato de ser um processo longo, como já dissemos, é importante tomar uma decisão o quanto antes, pois depois dela ainda transcorrerão muitos e muitos anos até que a população sinta concretamente as conseqüências positivas dessa escolha. Todas as empresas, todos os fabricantes de TV e todos os broadcasters já têm que começar a planejar e entender quais serão seus parâmetros na nova realidade de negócios que se apresentará em função desta transição. Pensando assim, veremos que não está nada cedo para se tomar estas decisões. Talvez sim, possa se esperar apenas mais um pouco para ver o como se desenvolve esta luta entre padrões. Nesse sentido, o governo brasileiro está se encaminhando para uma decisão bem pensada e bem embasada nas informações de que dispõe no momento. O que certamente atrapalhou bastante este processo, foi o excessivo ruído deliberadamente causado pelos defensores do padrão americano, que tentaram fazer da questão um assunto que seria decidido pelos consumidores, que infelizmente não têm em média condições técnicas para realizar julgamentos nessa matéria. Tentaram assim insuflar a opinião pública, sem no entanto informá-la corretamente.

InfoEtc: Emendando o assunto da TV interativa com os jogos de computador, que são seu desafio atual, no sentido de que são objeto dos estudos que você está conduzindo para o governo inglês: de que maneira se dará a convergência de TV digital e telefonia 3G na direção dos games?

C. Roeber: Nos tempos atuais, os games são jogados em PC's e consoles, e constituem um mercado de crescimento estrondoso, transformando-se num produto verdadeiramente de massa. No Japão por exemplo, em 70% dos lares há pelo menos um game de console. Obviamente, o mercado japonês é totalmente atípico, pois a ânsia por novas tecnologias naquele país é simplesmente insuperável. Com o aumento da sofisticação tecnológica, esses joguinhos maravilhosos vêm se tornando capazes de coisas que jamais imaginaríamos serem possíveis. Além disso, eles estão ficando cada vez mais populares. Aliado a isso, está havendo uma expansão nas faixas etárias e dos perfis dos usuários típicos de games, numa clara indicação de que se trata de um mercado em franco crescimento. Quanto às plataformas que vocês mencionou, televisão digital e celulares 3G, elas representam um universo todo novo na realidade dos games, e certamente vão criar novas e amplas possibilidades nesta área. Os novos aparelhos celulares das gerações mais sofisticadas já incorporam uma série de facilidades voltadas para a implementação de games: telas coloridas e bons sistemas de som. As possibilidades que se abrem são tremendamente grandes. Não é de se surpreender que uma das aplicações mais populares na Grã-Bretanha em televisão interativa são justamente os games.

InfoEtc: Existe a possibilidade de que um jogador operando em um aparelho de TV interativa possa atacar ou se defender de um ou outro jogador pilotando um outro aparelho?

C. Roeber: Certamente que sim. A Microsoft e a Sony já anunciaram consoles que podem perfeitamente interagir em rede. No entanto, tudo isso depende exclusivamente da disponibilidade de acesso em banda larga. O embrião dessa nova coletividade no mundo dos jogos já existe em plena operação na Internet de nossos dias.

InfoEtc: Quanto aos resultados dos estudos que você está conduzindo agora, eles serão publicados logo?

C. Roeber: Certamente que sim, mas é importante lembrar de que é um estudo feito de maneira focalizada para a realidade empresarial e econômica na Grã-Bretanha, constituindo assim um caso especial de um fenômeno altamente abrangente. O mercado britânico é singularmente criativo não só nos jogos de computador, como também na moda, na música e no design . Nos games especificamente, de 50 títulos publicados, 30 deles foram produzidos na Grã-Bretanha. O relatório final da Spectrum sobre joguinhos também abordará a dinâmica do mercado mundial de games bem. Uma das conclusões mais importantes a que estamos chegando através dessa pesquisa é a constatação da imensa importância que os games estão tendo cada vez mais no mercado. Uma das mais importantes observações que fizemos é que antigamente o usuário típico de games era do sexo masculino, jovem e fanático. E os jogos passaram a ser projetados para atender a esse perfil, às vezes jogos até bastante complexos, propositalmente para desafiar este tipo específico de usuário. No entanto, está se observando uma mudança bastante significativa. Mais mulheres, mais idosas, e mais famílias inteiras estão passando a apreciar jogos de computador. Com isso, gradativamente estamos criando novos temas de interesse para esses setores específicos do nosso mercado, como por exemplo jogos de tapeçaria para senhoras. Os próprios games estão evoluindo, pelo que se vê .

InfoEtc: Com relação às conseqüências dos atentados de setembro passado, em que todos os mercados mundiais foram negativamente afetados. De que maneira os setores de televisão digital, telefonia móvel 3G e games sofreram com isso?

C. Roeber: Houve uma retração geral no mercado, naturalmente. Todos estão mais receosos no que tange a novos investimentos. Considerando que a bolha tecnológica já havia explodido antes dos ataques, o efeito dos atentados foi o de simplesmente concretizar de maneira clara e inequívoca que estávamos diante de um grande problema econômico. A única exceção foi no mercado americano em que, pelo fato de existir um medo muito grande de novos ataques, um número maior de pessoas têm ficado em casa, jogando seu joguinho preferido.


Esta entrevista foi registrada num minigravador Sony TCM-323 e transcrita sem digitação utilizando o software IBM ViaVoice Pro Release 7. Eu ouvia a fita no fone de ouvido e ia dando pausas, traduzindo ao microfone. O ViaVoice ia transformando o que eu falava em texto. Não tem 100% de precisão, mas 90% já está bom, obviamente, requerendo revisão no texto. O ganho de produtividade na transcrição é assombroso.

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