Álibi natural Por Carlos Alberto Teixeira
Frutas podem salvar um encontro. Tarde
fresca, patroa em casa e eu na selva urbana. Brecha no serviço
e aquela jovem simpática se mostrando tão gentil no
escritório. Alguns olhares e fui forçado a levá-la para onde
pudesse apreciá-la com a devida calma. Havia uma lojinha de
frutas ao lado e comprei uvas frescas. Acomodamo-nos no quarto
e começou a demorada brincadeira com as uvas. Adorável o
efeito dessas frutinhas geladas numa bela moça de pernas
abertas e ávida por ser delicadamente degustada.
Achávamos que o mundo era nosso e o tempo também. Mas
estendi demais o prazer do paladar e acabamos tendo que
encerrar a tarde sem apreciar detidamente o prato principal.
Sem reclamações, porém. Mas preciso contar-lhes sobre os
apertos que afligem quem usa bigode, cavanhaque ou barba.
Atestam as donzelas que os pelinhos até adicionam um quê às
carícias nas intimidades delas, mas há um preço a ser pago.
Nada sério se a semideusa possui aroma suave. Ao final, bastam
água, sabonete e umas esfregadelas vigorosas onde a cara nos é
peluda. Mas se a amante é intensa, sabor forte de fêmea, não
há ensaboada que dê jeito. Você sai achando que o mundo
inteiro tem o cheiro da sua amante.
Era tarde e a
esposa esperava para o jantar. Momentos de pânico, mas eis que
me veio a inspiração: volte à lojinha de frutas. Num lance
rápido, lá fui eu e retornei ligeiro com uma manga bem grande
e madura. A jovem observava mas não entendia direito o lance.
Pus-me a chupar às pressas a fruta, meio animalescamente,
melando-me todo de propósito. Deixei o sumo doce penetrar bem
na barbicha, fazendo frente ao adorável perfume denunciador do
que andei fazendo naquela tarde. A guria compreendeu e sorriu,
olhando-me como se eu fosse o maior cafajeste da cidade. Uma
agüinha final no rosto e saímos os dois, cada um para o seu
canto, eu com a alma lavada e a barba sutilmente perfumada
pela manga salvadora. |