Os 10 mais incríveis motéis

Você pode fazer coisas que nunca imaginou em um motel. Ser atendido pelado por um garçom bem-humorado, por exemplo. Transar num elevador e, uau!, brincar em um fliperama com créditos livres. Mas também acontecem coisas estranhas, como perder sua garota na sauna ou descobrir que ela pode comprar, naquelas máquinas que aceitam moedas, um consolo preso a uma cinta e ter idéias... Nosso enviado especial conferiu todas estas possibilidades.

Por Carlos Alberto Teixeira
Ilustrações: Newton Verlangiere


STUDIO A
(São Paulo - SP)
Um banho de destilados

Noite de sábado é sempre aquela rotina de espera em motel, mas a gente se acostuma. Aqui no Studio A, a sala de espera traduz bem o clima excitante de segredinho e fruto proibido. Cada casal se senta apertado em sofás compactados entre divisórias baixas. Não se consegue ver a cara de mais ninguém sentado na sala. Há uns espelhos à altura dos olhos que, propositalmente, confundem nossa orientação. Mas para os que temem ser flagrados, há a opção de aguardar dentro do carro mesmo. Era o nosso caso, pois ela é tímida. Pensamos em fazer reserva, mas sairia por 630 pratas, o dobro do preço nominal. Optamos pela saída econômica. A chatice de aguardar foi atenuada pelos amassos dados durante a espera. Quando anunciaram que estava liberada nossa suíte Must, foi aquela alegria.
Estacionada a caranga na garagem dupla da 21, o acesso à suíte parecia uma entrada de agência bancária, com porta rotatória e tudo. Ultrapassamos esse detalhe e adentramos o primeiro ambiente, a pista de dança. Já tínhamos ouvido falar de festas nessa legendária suíte com até 40 pessoas. Tanta gente socada naquela miniboate de paredes negras deve gerar um número considerável de cotoveladas, encontrões e dedadas no olho ou sabe-se lá onde mais.
Mandamos vir logo o jantar e comprovamos que o tal Sérgio Arno, que elaborou o cardápio, é um craque da culinária. O visual zen da sala de jantar compõe uma agradável atmosfera japonezóide. Findo o repasto e tendo a gata misturado as biritas, mostrou-se mais alegrinha do que o normal, o que teve um efeito assaz oportuno.
Foi uma grata surpresa curtir, no andar de cima, o amplo ambiente espelhado da piscina, com suas pastilhas azuis e uma banheira de hidromassagem, que seria perfeita, se não fosse o caimento quase exagerado de suas bordas. Esse erro de design, somado ao estado etílico da gata que (apreciadora de passos funkeiros) não parava de mexer o popozão, fez com que os drinques caíssem na água por mais de uma vez. Batizados com aquela mistura de H2O e destilados, fomos conferir com quantos lados foi feita a gostosa cama sextavada. Nos divertimos a valer.


STUDIO A
São Paulo (SP)
R. Cel. Euclides Machado, 1023
Fone 11 3931 9000
VIP'S (São Bernardo do Campo - SP)
Uma noite do barulho

Tem coisa melhor do que fazer o proibido? No Vip’s não deixam entrar mais de um casal nem por decreto. Para burlar a restrição, usamos o truque mais velho da história moteleira. Eu e minha gata oriental malocamos dois casais na traseira do carro. Nosso destino: a suíte Vip’s, a melhor da casa.
O Vip’s tem lá suas razões para proibir multidões no quarto. Tende-se para a baderna, diz a gerência. Conosco isso não aconteceria, dado que somos gente fina e pós-graduada.
A turma pediu uísque e começou a enxugar. Eu, que bebo pouco, me animava por mim mesmo. Começamos a explorar a suíte. O belo colchão d’água logo atraiu um casal e um início de briga: a pós-graduada queria subir nele de salto-alto. Descendo a escada entramos no fabuloso ambiente do jardim e o outro casal ficou por lá mesmo, na piscina aquecida.
Enquanto nossos amigos se divertiam lá embaixo, eu e minha gata chegamos à suite principal. Ficamos de queixo caído. A suíte merece a fama que tem. Há um telão enorme e um rack de áudio, vídeo e laser disc. E a cama era, vejam só, feita para seis. Mas a birita tomou conta das almas e o terrível vaticínio da gerência se cumpriu. Minha gata, mamada de scotch, chamou aos berros os outros casais que chegaram em algazarra. O alvoroço invadiu aquela imensa cama. Entrei na bagunça, que estava ótima.
Sem que eu visse, um dos caras, totalmente doidão, voltou até o carro, pegou uma caixa de fogos de artifício e começou a estourá-los lá na piscina. Com a medonha barulheira, alguém chamou a segurança. Resultado: fomos gentilmente convidados a chispar fora. Vexame total.


VIP'S
São Bernardo do Campo (SP)
R. Maria Olinda, 70
Fone: 11 4332 6088
VIP'S (Rio de Janeiro - RJ)
Aniversário com o João

Parte do que lhes conto teve lugar antes que eu soubesse. Era uma surpresa ao meu aniversário. Decoradora, ela veio dias antes ao Vip’s sondar o ambiente. Optou pela suíte 32, a Millenium, que é exasperante de tão linda. Subindo da garagem, entra-se numa sala de jantar na qual já se insinua a vastidão cinematográfica desta suíte. São dois ambientes com camas sobre um deck estilo naval com faixas de madeira clara e escura. Não há privacidade entre ambos, o que pressupõe um casal guloso por variar de cama ou pares dispostos a trocas divertidas.
Quando ela fez a visita de avaliação era dia. Parecia que se estava numa ilha longínqua. Situado próximo à Zona Sul, do Vip’s não se vêem prédios nem se ouve o Rio. Nos fundos, a mata do Morro Dois Irmãos. À frente, o Atlântico e as Ilhas Cagarras. Chegamos às 10 da noite, curtindo o grude gostoso dos apaixonados. Me emocionei com as surpresas que ela preparou. Arranjo de flores, pétalas amarelas sobre a cama, incensos perfumando o quarto. No segundo andar, velas boiavam na piscina a céu aberto. As luzes externas foram apagadas e as estrelas lá de cima se acenderam. Ela trouxe uma camisola especial. Deixei-a usá-la por pouco tempo.
O jantar foi calmo e à luz de velas. Uma noite mágica. Que tal um chá? Chamamos o garçom. Pouco depois adentrou o impagável João, no Vip’s há 30 anos. Sisudo, pinta de maestro. Como a noite era nossa, puxamos papo. Era um boa praça e mestre na arte de contar histórias. Gargalhamos de perder o fôlego. Cafezinho servido, tchau, João. Escolhemos uma cama próxima ao janelão e dormimos como crianças.

VIP'S
Rio de Janeiro (RJ)
Av. Niemeyer, 418
Fone: 21 3322 1662
VIANNA CASTELO (São Paulo - SP)
O perigo da portinha 6

Fomos ao Vianna Castelo por propaganda de boca de um amigo que recebeu um mailing e resolveu experimentar. Entramos na mesma onda, atraídos pela fama da primorosa culinária e pelo reconhecido cuidado nos detalhes da casa. Nossa suíte era a presidencial. Chocólatra regenerada, minha ruivinha havia ouvido falar das trufas ali oferecidas e assim que as viu sobre o balcãozinho teve uma grave recaída.
Os espaços são pequenos mas aconchegantes. Usa-se muita madeira. Ervas aromáticas e o apuro decorativo nos fizeram sentir realmente em casa, impressão fortalecida pela impecável higiene dos aposentos. Subindo-se para o segundo andar, apenas é recomendável ter cuidado se o casal for de gente alta, pois dei uma vigorosa cabeçada no teto da escada. Azar de girafa. Ali também, o chão de vidro pregou um susto na guria. Particularmente, achei uma boa sacada, permitindo brincadeiras exibicionistas bem interessantes para quem estiver no primeiro piso.Já na área nobre da suíte, diante da cama principal e ao lado da TV, destaca-se uma surpreendente máquina de acessórios eróticos. É um sucesso, os clientes adoram os brinquedinhos, e quem não gosta? Funcionalmente leva jeito de máquina de Coca-Cola, aceitando qualquer cédula. Tem seis portinholas, cada uma oferecendo um minikit de apetrechos, dos quais a camisinha sabor morango obviamente dispara na preferência geral. O melhor das ofertas está na portinha número 1: creme para sexo anal sem dor. Antes do advento desse formidável ungüento, quem tentou sabe muito bem o trabalho que dava convencer uma jovem de que com jeitinho e devagar não dói. No nosso caso, o resultado foi inegavelmente prazeroso para a donzela.
O tempo só começou a fechar quando, logo depois, a engraçadinha demonstrou interesse na portinhola número 6: "cinta com pênis". Sutil, insinuou que eu poderia usar o tal creme com ela no papel ativo. Apressei o jantar e desviei o assunto para outros temas. No final, a comida estava tão boa que a guria olvidou por completo suas intenções funestas e logrei me despedir do estabelecimento de cabeça erguida.

VIANNA CASTELO

São Paulo - (SP)
Rodovia Raposo Tavares, km 21,37
Fone: 11 4612 2201
VILLA REGGIA (Rio de Janeiro - RJ)
Surpresas da internet

Conheci aquela menina na internet. Era uma louca ao teclado e tinha uma conversa muito quente, de modo que gostei. Mandou-me fotos. Era um avião. Tarde de sábado chuvosa, combinamos sair. Não conhecia lá muito bem a figura, mas ela era animadinha e disse que me faria surpresas. Topei no ato.
Chegamos ao Villa Reggia. O motel foi construído no prédio de um antigo armazém e as redondezas são o lixo do lixo da zona portuária do Rio antigo. Antes que entrássemos, me vendou. Aos trambolhões, cheguei à suíte 212. Logo que penetramos na antecâmara, minha venda foi retirada. Ao ver o piso xadrez, a mesa escura e uma pintura hedionda pendurada, saquei tudo. Era uma suíte sadomasoquista. O salão era alto, cilíndrico, todo preto, com uma cama redonda e pufes. Correntes estavam penduradas por todo lado. Distraído que estava, me surpreendi ao ver a garota nua.
O sexo foi bom e rápido. E antes que eu tirasse aquele sorriso bobo da boca, senti um lenço na minha cara. Tudo ficou escuro.
Quando acordei, estava peladaço em uma jaula no piso superior. Lá em baixo, a adorável donzela, com um biquíni de couro e metal, dava tapas e chicotadas num gorducho de rabo-de-cavalo. Devia ser o cara que me imobilizou com clorofórmio. Fiquei caladão. Não queria que sobrasse pra mim.
Depois da pancadaria, a dona se vestiu, olhou pra mim, soprou um beijo e foi embora. Entrou uma senhora, subiu a escada e soltou-me. Vesti-me e... sebo nas canelas! Internet por uns tempos, nem em pensamento.

VILLA REGGIA
Rio de Janeiro (RJ)
R. Sacadura Cabral, 136
Fone: 21 223 4104
BAMBINA (Rio de Janeiro - RJ)
A mulher do delegado

Havia uma incompatibilidade absoluta entre aquele carro barulhento chegando à triunfante entrada do Bambina e a discrição que sua proprietária queria manter. Ela era casada e estava nervosa com a escapadela diurna. O marido era delegado. Fomos recebidos como se estivéssemos numa limusine. Cortesia e eficiência são marcas registradas do Bambina, e seriam elas que nos salvariam mais tarde. Fomos direto para a piscina, no último piso. Ali passamos ótimos momentos e saboreamos o almoço, que estava um arraso.
Descemos para o quarto e enquanto assistíamos a um DVD e começávamos a retomar os trabalhos, tocou o telefone. Uma voz calma avisou que o maridão estava na recepção armando o maior rebu.
Acabou a festa, é claro. Minha linda acompanhante perdeu o rebolado. Tentava acalmá-la e pensar numa saída. Quando o cana estava chegando, foram atendidas minhas preces e intercedeu um senhor dizendo ser o dono do motel e o convenceu a tomar um café no bar da esquina.
Aí deu um estalo na garota. Com um incrível sangue frio, ligou para o celular do delega e começou a falar grosso. Onde ele estava? O que estava fazendo? A autoridade botou o galho dentro. Gaguejou desculpas. Era o momento perfeito para nos mandarmos. Já era noite quando ela me deixou em casa. Na minha presença, tornou a ligar enfurecida para o marido: por que ele ainda não estava em casa?

BAMBINA
Rio de Janeiro (RJ)
R. Bambina, 65
Fone: 21 539 0713
DALLAS (Belo Horizonte - MG)
Aventura de alta tensão

O ambiente da suíte árabe tinha o exotismo perfeito para que eu desfrutasse aquela lourinha mineira. Ela adorou a idéia e marchamos confiantes para uma noite das arábias. De cara, a mina estranhou as duas ovelhas, uma preta, outra branca, que decoram a antecâmara. Temendo estragar o clima, não lhe dei tempo de dizer um "uai", e a levei para a hidro. Enquanto a banheira enchia, apreciávamos a decoração. Gostamos da estátua do romano na biga, execramos os cáctus de plástico e não chegamos a um acordo sobre a pintura com camelos e criancinhas colhendo uvas no teto.
A gata retirou-se para se vestir de odalisca. Aproveitei para orientalizar a atmosfera ligando uma música árabe e acendendo incensos. Subi ao terraço e me impressionei com o requinte. A pia, os metais, o espelho, a limpeza e a piscina com uma tenda, era tudo um primor. Minha odalisca me chamou. Desci correndo. Aquela mulher valia um harém! Resolvemos nos concentrar para o segundo tempo na piscina. Lá, dois pares de sandálias Havaianas usadas nos aguardavam. Preferi os chinelos descartáveis plastificados.
Mas aquela gata maluca cismou de brincar de me caçar com chineladas. Ficamos feito gato e rato, eu escapando dela como podia. Foi aí que quase deu encrenca. Tentei escalar o muro da cobertura e gelei: a centímetros do meu nariz, uma caveira anunciava uma cerca eletrificada de 15000 volts. Sem ter como escapar, vi com o rabo dos olhos que do prédio ao lado era possível observar o que a lourinha fazia. E o pior: a cena toda era iluminada pela luz do escandaloso néon do "Caribe", o motel vizinho.

DALLAS
Belo Horizonte (MG)
R. Anchieta, 55
Fone: 31 3417 1404
HARMONY (São Paulo - SP)
Fliperama e Toboágua

O Harmony é um motel para todas as fantasias. Logo à entrada da suíte Nagoya, a mais recente e luxuosa do estabelecimento, uma bela mesa de sinuca se oferece a impensáveis oportunidades. Se a viagem do casal é mais contemplativa, o ambiente suave e o aquário na parede fornecem o ritmo perfeito para um amor em câmera lenta. O Harmony é um motel sem vastidões, em que cada porção de espaço é ocupada com boas idéias. A lista inclui itens como um escritório high-tech, onde desfrutamos da experiência meio tarada de transar num ambiente de trabalho.
Na piscina, um toboágua inspirava brincadeiras infantis. Tanto assim, que a minha gata logo se animou e ensaiou um pega-pega. Na perseguição, tivemos a idéia de subir a escadinha do toboágua e escorregar por ele. Mas, por pressa e incompetência, esquecemos de ligar a água que garante o deslizamento das nossas carcaças. O resultado óbvio foi um par de bundas levemente assadas ao fim do percurso dentro do tubo plástico verde.
Fomos nos consolar da má experiência no deck ao lado da piscina, onde há uma máquina de fliperama com créditos livres. Fosse eu adolescente, talvez trocasse alguns minutos com aquela beldade para tentar zerar o contador. Mas os instintos adultos me empurraram até a cama mais próxima, que tinha colchão d’água, o que deu margem a jogos divertidos e ondulantes. Assaduras esquecidas, fechamos a noite no tatame, a cama de palha entrelaçada.

HARMONY
São Paulo (SP)
R. Mário R. Pereira, 152
Fone: 11 3782 5033
CAMELOT (São Leopoldo - RS)
Uma parada providencial

Só de chegar de automóvel à noite no Camelot já vai dando um certo frio na espinha. Os caras conseguiram criar uma atmosfera medieval tão convincente, que você pensa que a qualquer momento vai surgir a cavalo um bravo Sir Galahad trajando elmo e armadura. Reservei a suíte Real, a 802, na ala Lancelot. O conjunto é um castelo de pedras vermelhas num bosque, com casamatas, torres, vielas e tudo mais. Sua gata vai ficar como a minha, amarradaça no visual. Logo de cara já tem um plus, o elevador privativo. Foi uma oportunidade e tanto de satisfazer a velha tara de transar no elevador. OK, não existia o perigo de alguém de repente abrir a porta, que é o tempero dessa fantasia. Mas não sentimos falta desse pormenor.A pitada de azar ficou por conta de algo que fez o elevador parar no meio do percurso. Não havia motivo para se preocupar. Em vinte minutos consertariam a ziquizira mecânica. Não pude resistir à molecagem de socar a porta do elevador e exigir que nos tirassem dali. Eles entenderam a piada e nos deram um bônus de duas horas como cortesia.
Já na suíte, o grande lance eram as duas jaulas, com direito a alças de metal e correntes barulhentas com que se prende o pescocinho da gata. Aquele clima de corte do Rei Arthur realmente hipnotiza e faz a imaginação voar longe. Mandamos vir um filé à parmegiana acompanhado do vinho certo. Estava meio friazinha a noite e a lareira pegou muito bem. O jantar foi impecável. Depois dele, a dúvida foi escolher entre a suíte de cama alta ou a de cama no chão. Uma vez que nossa atuação tinha sido aérea, tanto no elevador quanto nas jaulas, optamos pela cama baixinha.


CAMELOT
São Leopoldo (RS)
R. Pelotas, 101
Fone: 51 568 2260
SUNSHINE (Recife - PE)
Parque aquático

Se os arquitetos que fizeram as pirâmides do Egito, o Coliseu romano, o Seaworld da Disney e a Barragem de Itaipu se reunissem para produzir uma obra, o resultado seria o Sunshine, em Recife. Tudo ali é monumental. Para o meu gosto, exagerado. Muita gente gosta. Nos foi recomendada a suíte 92, Versailles, que já havia se tornado sonho de consumo da elite recifense. Altas surubas, diziam. Mas nossa aventura era só para dois.
O táxi já havia passado pela imensa entrada e a 92 não chegava nunca. Os amazônicos chafarizes, cachoeiras e borrifos me impressionaram de tal maneira que, num devaneio, achei que uma orca e meia dúzia de golfinhos saltariam por sobre nossas cabeças.
Uma horda de estátuas se erguia ameaçadora de dentro das águas. Sereias! Netunos! Dragões! Ficamos boquiabertos com o espetáculo, mas seguimos adiante. Depois de uma série de ângulos retos nas vielas internas do estabelecimento, o táxi parou. Saímos fora e deparamos com duas escadarias. Escolhemos a da esquerda e subimos rápido. Ela dava numa sacada que só oferecia uma visão dos chafarizes e cataratas. Procuramos por alguma passagem secreta e nada.
Descemos de novo e subimos a outra escadaria. Agora sim, lá estava a Versailles. Pegamos nossos óculos escuros. Sábia providência. As paredes de mármore branco multiplicavam os fótons emitidos pelos potentes refletores. Ofuscado, vi, incrédulo, um pianista mandando brasa no piano. Me aproximei do cara e, ué, não havia ninguém. Primeiro orca e golfinhos, agora o pianista... eu devia estar estressado.
Mas a gata era uma gostosura, nada quebraria meu entusiasmo. Passamos por pôsteres hollywoodianos, mais estátuas, réplicas de quadros de Renoir, por um tabuleiro de xadrez e subimos até a piscina no terceiro piso. Temi que o cansaço broxasse a gata e pedi rápido o kit churrasco. Sim, havia uma churrasqueira no deck de madeira junto à piscina. Curtíamos picanhas e maminhas quando ela gritou: "Uma cama na piscina!" Parecia mesmo. O fundo da piscina era de vidro e, através dele, via-se uma das suítes do andar de baixo. Na confusão de salas e saletas, não havíamos notado nem essa, nem outras duas suítes que a ladeavam.
Eu achava que em doze horas conseguiria dar umas três ou quatro bimbadas. Mas havia decidido: nada de repetir cama. Afinal, tinha de usufruir das suítes, dar uma pedalada na bicicleta ergométrica, correr na esteira e afundar nas hidromassagens daquele complexo esportivo-sexual. Enquanto isso, ela poderia treinar o gogó no videokê, ensaiar danças eróticas sob o canhão de luz ou rebolar diante do video-wall de nove telas.
Mas o que a encantou foi a câmera de vídeo conectada a uma TV gigante. Ela exigiu uma fita virgem para documentar nossas brincadeiras. Queria ser possuída nas almofadas diante da câmera. Foi uma transa legal, mas fiquei encafifado: já havia gastado um tiro sem usar nenhuma das camas. Deixei-a deitada e fui explorar o resto do pedaço.
Desci um lance de escada e fiquei tocando piano. Ela não apareceu. Fui nadar na piscina. Nada dela. Numa das suítes havia um Post-It colado no espelho. "Estou na sauna." Sempre com óculos de sol, encontrei a sauna. Abri a porta. Aquilo era gigantesco. Chamei minha amada. Lá do fundo, ouvi a resposta. Entrei na densa cortina de vapor. Ela também me procurava desesperada. Demos uma violenta cabeçada. A pancada foi tão forte que ouvi sinos. Era a moça da recepção ao telefone dizendo que nosso período havia terminado. Olhamos para as suítes intactas e choramos. A vastidão do Sunshine havia nos vencido.

SUNSHINE
Recife (PE)
R. Manoel de Abreu, 210
Fone: 81 3339 5622


A descrição dos motéis e seus serviços é rigorosamente verdadeira. Quanto às aventuras amorosas do jornalista, não colocamos a mão no fogo.
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