O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 338 - Escrito em: 1998-02-12 - Publicado em: 1998-02-16


O enigma dos cubos


Hoje a coluna C@T fala de um treco tão doido que a turma do caderninho decidiu trazê-la para a capa. É que, fuçando numa lixeira do Globo On, achei um saquinho amassado com 18 peças plásticas de formato idêntico, só diferindo na cor. Parecia um brinquedo, um quebra-cabeça ou um joguinho. No saco havia simplesmente uma etiqueta dizendo <www.spacecubes.com>.

Quando cheguei em casa, meti-me a experimentar, despretensiosamente, as peças. Espalhei-as sobre a mesa e, junto com dona Marlene, minha mãe, pusemo-nos a tentar montar, a quatro mãos, alguma coisa que se parecesse com um "cubo espacial". Depois de quase uma hora de muitos e acabrunhantes fracassos, conseguimos fazer o primeiro cubo. É incrível, porque as peças não têm rosca nem ímã e, na primeira tentativa, parece que não vão se encaixar de jeito nenhum. Mas encaixam-se sim, e o cubo final é sólido e bem engatado. O desafio seguinte era fazer um cubo sozinho. Demorou mas consegui. Logo percebi que tinha nas mãos algo provocante, difícil e... viciante.

Se o quebra-cabeça já é fascinante, a página dos caras é um show. Os SpaceCubes são formas espaciais, isto é, tridimensionais, e seu website também é em 3D, graças aos belos modelos escritos em VRML (Virtual Reality Modelling Language, ou Linguagem de Modelagem de Realidade Virtual), padrão em voga para meta-arquivos gráficos 3D, endossado em 1995 pelos gigantes da indústria. O FAQ no site <www.vrml.org/consort/ FAQ.html> é o lugar ideal para obter informações sobre esta norma.

Para ver as imagens 3D no site dos SpaceCubes é preciso baixar, por exemplo, o CosmoPlayer VRML 2.0, plug-in da SGI, em <http://cosmo.sgi.com>. Você poderá visualizar as peças em sua tela e movê-las, girá-las e aproximá-las à vontade usando o mouse. O CosmoPlayer requer Netscape Navigator 3.01, Communicator 4.0x, com NS plugin, ou Internet Explorer 4.0 com ActiveX control. Se você tiver um plug-in antigo para VRML 1.0, não poderá ver patavina no site dos cubos, pois lá é tudo escrito em 2.0.

A própria Silicon Graphics exalta o site dos SpaceCubes como um dos mais brilhantes exemplos de utilização de VRML, em especial a animação "SpaceCubes story", um loop animado com 50 segundos de duração e ocupando apenas 30Kb.

Construir o primeiro cubo é apenas o início da encrenca. Existem várias maneiras de adicionar novos cubos ao primeiro. Estruturas tricúbicas podem ser montadas com as seis peças que vêm no kit básico e têm até nomes próprios. Seus recordes mundiais de tempo em montagem são: Cube (quatro segundos), Link (20s), Chain (29s), Knot (29s) e, finalmente, o pesadelo dos aficcionados: The Blob (59s). Existe uma outra configuração chamada HyperCube que fica fora do rol das tricúbicas, pois utiliza 12 peças para formar um único cubo louquíssimo. Seu recorde de montagem é de 75 segundos.

Para tornar-se um SpaceCube Guru, o indivíduo tem que construir o terrível The Blob. Quando você vê a foto da tal coisa, sente um arrepio na espinha - é realmente o fim da picada. Confesso que ainda não consegui, mas também não tentei a fundo. Em cada lugar a que chego com as peças, se começo a montá-las junta logo a maior galera interessada e o pessoal começa a experimentar, a perguntar e a se divertir. Quem consegue atingir sucessivamente as etapas Cube, Link, Chain, Knot e Blob vai adquirindo o direito de ostentar um "badge" (crachá) na sua home page particular, alardeando a conquista. Os badges, que na verdade são pequenos GIFs animados, podem ser obtidos no site dos SpaceCubes. Os cubos nunca foram estudados acadêmica nem cientificamente. Nada se sabe da matemática envolvida (simetria, geometria e topologia), nem da física (propriedades estruturais aplicáveis a outros campos de conhecimento), nem da engenharia estrutural.

David Brown, o criador dos SpaceCubes, começou a se interessar por quebra-cabeças na época em que surgiu aquele famoso cubo colorido de Rubik. Quando se formou engenheiro, na Universidade de Nottingham, já tinha um monte de esboços de formas geométricas. Em 1986 construiu um protótipo e começou a produção no ano seguinte. Vendeu bem, mas David resolveu se dedicar à sua carreira em Unix. Mudou-se para Luxemburgo e depois para Genebra, na Suíça. Quando foi contratado pela Silicon Graphics, dedicou-se a VRML e, como aplicação, usou seus cubos mágicos. Entusiasmado com os resultados, montou uma equipe e lançou seu produto na Web em setembro de 1997. David recusa-se a divulgar sua fonte de inspiração para inventar os SpaceCubes. No entanto, ele não nega influências extraterrestres nem emanações astrais sobre sua própria mente. Está cheirando a jogada de marketing?

É possível comprar o kit pela Internet com toda segurança. O pacote custa US$ 4 mais despesas de correio. Você recebe o kit em casa em menos de um mês. Se você comprar os SpaceCubes e quiser realmente vivenciar a experiência completa, evite por enquanto visitar as páginas de hints (dicas) no site. Com as fotos aqui publicadas, é possível montar seu primeiro cubo sem precisar de ajuda. Existe um macetezinho na montagem, mas só tem graça mesmo se você encara a parada e descobre o truque sozinho.

Agora leia, por favor, o desdobramento desta matéria.


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