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GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 344 - Escrito em: 1998-03-25 -
Publicado em: 1998-03-30
Ferrari 550 maranello
Dono de provedor Internet fica milionário e compra carro dos seus sonhos
Internet não é só navegar, aprender e crescer intelectualmente. É também um lugar para se ganhar dinheiro, às vezes muito dinheiro. Há dois anos, um certo internauta analista de sistemas e dono de um notável tino para negócios, resolveu abrir um provedor Internet em São Paulo. Hoje, aos 25 anos de idade, amealhou uma verdadeira fortuna. O cara ficou simplesmente milionário e passou a viver a vida nababescamente.
Durante esse tempo, trocou muito e-mail com um tal Luca di Montezemolo, italiano também viciado em Internet que mais tarde revelou ser o presidente da legendária fábrica de automóveis Ferrari. Semana retrasada nosso internauta milionário voltou da Itália, onde passou as férias e foi visitar o Luca, trazendo pesada bagagem no vôo da Alitalia: uma Ferrari 550 Maranello 1998 <www.ferrari.it/vetture/oggi.e/f550.html> novinha em folha. Um dos melhores e mais caros automóveis disponíveis no planeta Terra, custando cerca de 500 mil dólares, pagos na ficha. Está sentindo inveja, leitora? Não a culpo, também estou. O interneteiro podre de rico, após desembarcar o carrão, revisá-lo e mandar poli-lo meticulosamente, abriu os portões elétricos de sua mansão nos Jardins e decidiu curtir a máquina. Laptop a bordo, rumo à sua nova casa de campo para passar o fim-de-semana, ele pretendia pegar a estrada e ouvir o ronco encantador da sua Ferrari estalando de nova.
Mas o trânsito de Sampa a gente sabe como é, sempre entupido, e com sinal vermelho aos borbotões (leia-se "farol" ou "semáforo"). Numa dessas interrupções, a Ferrari parou bem na pole-position num sinal fechado, logo de cara para a autopista em que o janota faria a estréia de seu novo equipamento. Acontece que, enfiando-se no meio do trânsito, um velhinho corcunda, vestido meio a la antiga, parou ao lado da Ferrari, pilotando uma motoneta Vespa de aspecto deplorável. Tanto o macróbio quanto seu veículo aparentavam ter no mínimo 90 anos de idade. No entanto, o velhote tinha um ar amistoso e parecia ser muito simpático. Aproveitando o curto tempinho do sinal vermelho, esticou o olhar percorrendo toda a lataria vermelha e reluzente daquela beleza, com ares de legítima admiração. Inclinou-se para o orgulhoso mancebo que estava confortavelmente instalado no assento ergonômico da Ferrari e disse em voz baixa mas bem articulada: "Mas que maravilha de automóvel você tem aí, hein meu filho!"
O almofadinha olhou para o idoso com ar superior e respondeu sorrindo: "É uma Ferrari 550 Maranello, 12 cilindros em "V", design de Pininfarina, soldas de carroceria com liga metálica Feran, suspensão independente nas 4 rodas com estrutura transversa em paralelogramo e freios Brembo ABS de quatro canais. Custa cerca de meio milhão de dólares. Gostou, né titio?"
"Mas é muito dinheiro, menino!", retrucou o velho. "Porque custou tão caro?" O internauta respondeu, sempre se gabando: "É simples, vovô. Esse carro vai de 0 a 100 em 4,5 segundos. A velocidade máxima é de 318,4 quilômetros por hora"
O vetusto piloto da motoneta fez aquela boca de pasmo e arriscou: "Posso dar uma olhadela aí dentro?" O rapaz sorriu e disse que sim. O ancião se inclinou desajeitado, sem desmontar da lambreta, enfiou a cabeça grisalha janela adentro e fungou sentindo o cheirinho de carro novo. Em seguida, admirou o painel arrojado, as linhas magistrais do design e o soberbo estofamento. Terminou sua rápida inspeção e disse: "Com a breca, é decerto um belíssimo veículo."
De repente o sinal ficou verde, e o rapaz, exibido como só ele, nem se despediu do velhote e decidiu mostrar na prática tudo de que sua Ferrari era capaz. Engatou a primeira apressado, cantou pneu, arrancou feito um louco com o pé embaixo e, em cerca de 23 segundos já estava na estrada a mais de 300 por hora.
De alma lavada, o rapaz inspirou fundo, ajeitou-se no assento, mirou o retrovisor e notou um pontinho atrás de si, bem ao longe naquela rodovia reta e antes vazia. Parecia que o ponto se aproximava, ficava maior! O veloz motorista nem teve tempo de reduzir um pouco a velocidade para ver direito o que era e, de repente: Whhhuuuuusshhh! Algum veículo o ultrapassara vergonhosamente, produzindo tal ventania que quase lhe arrancou os óculos escuros da cara. "Ora, diabos, o que poderia andar mais rápido que a minha Ferrari?" -- perguntou a si mesmo o revoltado indivíduo.
Passados uns poucos segundos, o embatucado e pintoso milionário notou à sua frente o mesmo ponto misterioso bem distante, desta vez se aproximando ainda mais rápido, vindo em sua direção. Whhhuuuuusshhh! Lá se foi o bólido, desta vez no sentido oposto ao seu. "Mas, epa! Macacos me mordam se não era o velhinho na Vespa!" Completamente aparvalhado, continuou falando com seus botões: "Não pode ser, como é que uma lambreta velha pode superar a minha Ferrari?" Mal acabou de resmungar e observou pelo retrovisor o diacho do pontinho se aproximando por trás mais uma vez. Acontece que desta feita o barulho foi outro: Whhhuuuuusshhh Kabluuuum!! Era o velhinho mesmo, e ele se arrebentara com a motoneta na traseira da Ferrari em alta velocidade. O rapaz, que no fundo tinha bom coração, nem pensou no prejuízo que teria e parou o carro, saltando apavorado para acudir o pobre vovozinho ferido. Ele o pegou com cuidado nos braços e disse: "Nossa mãe, o senhor está muito machucado! O que posso fazer pelo senhor?" O combalido velho, meio moribundo, tossiu, engasgou e disse: "Pelo amor de Deus, meu filho. Desenganche o meu suspensório do seu espelhinho lateral."
Depoimento para a matéria do Paulo Vianna:
Nos tempos em que tudo era por amor à causa
Colunista arrasou com o sistema da faculdade
Comecei a mexer em computadores como hacker quando cursava física nuclear. Era tempo de mainframe IBM e usávamos cartões perfurados. Eu pulava o muro da universidade às 3h para catar cartões JOB na lixeira, onde eram encontradas as passwords de acesso. Fui pego pela segurança diversas vezes usando contas não-autorizadas, chegando a ser suspenso pela universidade. Só que, com isso, fui ficando cada vez mais manhoso. Acabei abandonando a física e fui estudar análise. Depois consegui vaga como escravo de um doutorando e obtive acesso aos terminais TSO, rodando OS IBM. Escrevia em Assembler e Fortran, lia dumps de memória, mastigava JCL e levava pilhas de manuais para a casa da namorada. Quando implantaram o sistema Interact, fuxiquei manuais restritos e consegui listar todas as senhas do sistema. Foi a glória. Criei uma conta superpoderosa chamada BOI-VACA, que tinha todos os privilégios e fazia a festa dos amigos, pois criei-a com acesso franqueado para a galera. Logicamente fui pego novamente, mas dessa vez um de meus punidores ofereceu-me um emprego em suporte. Meu trabalho: impedir hackers de fazerem arruaça no sistema. Que piada.
- c.a.t.
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