O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 348 - Escrito em: 1998-04-20 - Publicado em: 1998-04-27


Prepare-se para usar os óculos do futuro


A leitora já parou para pensar no quanto é dependente desse monstro que fica lhe encarando enquanto trabalha no micro? Está cansada desse desajeitado monitor de vídeo que fica tomando precioso espaço sobre sua mesa de trabalho? Claro que sim. Ou então já está de saco cheio de ficar apertando os olhinhos para se fixar na tela esmaecida de seu laptop.

A Microvision Inc, baseada em Seattle, está comercializando sua inovadora tecnologia VRD (Virtual Retinal Display - exibição virtual retiniana), que permite que se aproveite o sistema visual humano, de modo que informações e imagens geradas eletronicamente sejam projetadas passando pela pupila e incidindo diretamente na retina do usuário, que fica com a sensação de estar visualizando uma imagem animada à distância de cerca de dez palmos.

Um dispositivo VRD produz um raio de luz de fraquíssima intensidade que faz uma varredura na retina, impressionando-a com fileiras de pixels. Este mecanismo é similar ao usado nas telas de televisão e de monitores de vídeo, sendo que nesse caso a tela é a própria retina da gente. Essa coisa da varredura nem se percebe numa TV, porque tudo se dá muito rápido. A imagem comum num monitor, que nos parece estática, na verdade está sendo constantemente atualizada por um raio catódico que fica varrendo a tela e impressionando-a com os gráficos. No VRD, o feixe luminoso efetua 30 mil varreduras por segundo, estimulando com precisão as células "cones" e "bastonetes" da retina. Assim, é possível criar uma imagem de alta resolução sem usar telas intermediárias. Com isso, caducam os cinescópios, os displays de cristal líquido e outras velharias. O objetivo da Microvision <www.mvis.com> é ser líder no mercado de produtos de display pessoal e de tecnologia de imagens para uma vasta gama de aplicações domésticas, profissionais e militares. Com o pequeno tamanho dos dispositivos VRD e suas características superiores de performance, esta tecnologia pode ser incorporada a uma variedade de implementos.

Um VRD consiste de quatro subsistemas principais. O primeiro é o processador de sinais, que recebe informações de uma fonte de imagens. Os sinais processados contêm informações que controlam a intensidade, a mescla de cores e as coordenadas para posicionar cada pixel que constitui a imagem final. O segundo subsistema é a fonte de luz de baixa potência, capaz de enviar a imagem pixel a pixel através da pupila. Visto que as imagens são coloridas, três fontes de luz (RGB: red, green, blue) são moduladas e intercaladas de modo a produzir um pixel individual da cor apropriada. Segundo a Microvision, a fonte luminosa de um VRD é inofensiva, sem danos à retina do usuário. [Hã-ham, tô sabendo...] Em seguida temos os scanners horizontais e verticais, responsáveis pela varredura, produzindo um rastro de luz na retina da vítima, digo, do usuário. Para completar a engenhoca, elementos ópticos refletivos e refrativos encarregam-se de projetar a imagem olho adentro.

A Microvision está empenhada na briga das patentes, com o objetivo de garantir sua supremacia. No entanto, apesar das idéias realmente inovadoras, o lobby dos fabricantes de monitores e de telas de cristal líquido é poderoso. Muito embora as vantagens do VRD sejam flagrantes, ainda vamos esperar um bom tempo para que a vejamos disseminada a um custo acessível.

Imagine você vendo sua novela predileta, lendo e-mail, visualizando faxes e surfando na rede usando apenas um par de óculos estilosos. Não daqueles bizarros, dos aficcionados por realidade virtual, que isolam o usuário num mundinho gerado eletronicamente. Um dispositivo VRD permite que você enxergue normalmente tendo a imagem eletrônica sobreposta à imagem natural, como se fosse uma camada a mais de visão.

Em termos de soluções pessoais, a opção mais comum de miniaturização vinha sendo uma variante do AMLCD (Active Matrix Liquid Crystal Display), a famosa tela de matriz ativa, largamente empregada nos laptops. Outras tecnologias bem aceitas para FPDs (Flat Panel Displays - displays de painel plano) vinham sendo os FEDs (Field Emissive Displays), AMELs (Active Matrix Electro-Luminiscent) e FLCs (Ferroelectric Liquid Crystal). Acontece que o custo e a complexidade dessas telinhas são demasiado elevados. Um minúsculo painel como este projeta pixels em direção ao olho em feixes paralelos que emanam de uma matriz eletrônica de pontos produzidos por válvulas eletrônicas ou elementos emissores de luz. O uso de técnicas de integração em larga escala (LSI - Large Scale Integration) é oneroso demais para peças de tamanho tão reduzido. A performance dessas pequenas telas também é comprometida. Um VRD, por sua vez, elimina a complicação, pois é o olho humano que executa a função da matriz de pontos, integrando visualmente os pixels numa imagem coerente e estável projetada na retina do usuário. Os protótipos já em funcionamento são assombrosamente práticos (mas caros). Um deles acopla-se a um par de óculos e outro pode ser embutido num telefone celular. Veja em <www.mvis.com/html/display.html>.


Outro artigo do CAT publicado no mesmo dia:

Ë bola na rede!!


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