O GLOBO - Informática Etc.
Carlos Alberto Teixeira - C@T

Adeus Sultão

Artigo: 510

Sysop do Eureka deixa um legado notável e boas histórias

Publicado em:  2001-08-06
Escrito em:  2001-08-01

 

No dia 28 de julho passado, sábado, perdemos nosso amigo Eduardo Haddad Filho, Sysop do Eureka-BBS. Em 1989, quando ardia a febre dos BBS na cidade, Haddad decidiu alocar um computador, na época bem parrudo, à tarefa de rodar o software gerenciador PCBoard e deixar a máquina permanentemente ligada ao telefone, aguardando chamadas de outros modems. Era o nascimento do Eureka, que foi tema de meu quinto artigo para esta coluna <http://catalisando.com/infoetc/005.htm>. No dia 31 de maio daquele ano, houve no Queen's Legs da Lagoa um encontro histórico em que as figuras que já há alguns meses papeavam pelo BBS vieram a se conhecer pessoalmente. Dali por diante este grupo começou a crescer e nunca mais perdeu contato. Há alguns anos, com o advento da grande rede, Haddad interrompeu o funcionamento do BBS mas abriu uma lista de discussões via internet reunindo a mesma rapaziada das antigas. O Eureka sempre foi, de certa maneira, a sala de estar do Haddad. Nunca cobrou nada pelo acesso ao BBS, mas também tinha o direito de pôr ordem no recinto e fazia questão que seus membros aderissem ao legendário Boletim 10, em que proibia palavrão e sugeria um procedimento cavalheiresco entre os freqüentadores.

Ávido leitor, de inteligência aguda e humor ácido, piloto de avião, engenheiro e empresário da indústria têxtil, o querido Haddad sempre demonstrou uma generosidade ímpar para com seus amigos. Para os inimigos, porém, ferro. EHF formou através do Eureka uma comunidade bem eclética que ainda hoje enche o board de mensagens com comentários uns sagazes, outros bem-humorados e outros instigantes. Ás vezes até exageradamente meticuloso e detalhista, Haddad ia tocando o BBS, e depois a lista, com um estilo todo próprio, típico de Sultão, que era seu apelido entre nós. Bom de garfo, aliás ótimo, tinha aquele jeito gorducho e bonachão que fazia juz à alcunha, mexendo os ombros, cabeça baixa e balançando as banhas quando dava aquelas risadas inesquecíveis. Deixa saudades o nosso Sysop de sempre. Manda brasa aí em cima, Sultão. O que parecia confuso cá embaixo, deve estar claríssimo pra você agora.


Mesmo num BBS ou numa lista séria e "clean", há espaço para algumas cuidadosas escapadelas. Foi o que ocorreu há algumas semanas lá mesmo na lista Eureka, em que nosso colega Silva Costa contou um caso muito interessante que, não importando que seja antigo ou inédito, vale reproduzir aqui. Um conhecido médico ginecologista de São Paulo, atualmente internauta ferrenho, após quase 30 anos duma carreira de sucesso, decidiu se aposentar. Estabilizado e com a vida ganha, queria se dedicar a algo que sempre sonhara mas nunca tivera oportunidade de realizar. Entrou na web e procurou pelo melhor curso de mecânica de automóveis que havia na cidade. Achou um em poucos minutos, ligou para lá e matriculou-se no ato.

Dedicado que era, destacou-se entre os alunos por sua assiduidade nas aulas, seu interesse na matéria e sua competência e rapidez na execução das tarefas práticas. Ao final dos vários meses do curso, era momento de fazer a prova final, que incluía um teste escrito e uma parte de mão-na-massa. Ele não conseguia esconder seu nervosismo antes da prova. Virou noites surfando por sites especializados na matéria, visando obter aquela dica crucial, aquele macete mágico. Será que se sairia bem dentre tantos colegas muito mais jovens e cheios de entusiasmo? Será que ele acabaria descobrindo que estava velho demais para apreender as noções e conceitos da mecânica automobilística?

Bem, hora do teste. O ex-ginecologista suava frio e tinha a boca seca. Teste escrito, tudo bem. Mas a prova prática, essa foi dificílima -- achou ele. Mesmo assim, realizou a tarefa pedida aparentemente sem erro e dentro do tempo estipulado. Foi para casa ainda meio nervoso e aguardou o resultado.

O sistema do curso era dar as notas como porcentagens, sendo 100% a nota máxima. O professor reuniu os alunos e foi distribuindo as notas em ordem crescente de pontuação. Nosso doutor foi o último a ser chamado. Zumzumzum na sala, todos se entreolhavam, suspense. E eis que o professor, com um sorriso, entregou ao grisalho senhor sua nota: 150%. O aluno quase não acreditou! Ainda zonzo, perguntou ao mestre o porquê da nota tão surpreendentemente alta. E o docente respondeu de imediato: "Nunca tivemos um resultado tão formidável em nosso curso. O senhor ganhou 50% por cento por ter desmontado o motor inteiro corretamente. Em seguida, ganhou mais 50% por ter remontado a máquina toda com perfeição e dentro do tempo pedido. E depois ganhou mais 50% por ter feito tudo isso... por dentro do cano de descarga."

[ Voltar para o índice de artigos de 2001 ]

[ O Globo | Informática Etc. | coluna mais recente | enviar email
página pessoal C@T
| assinar lista InfoEtc | assinar GoldenList do C@T ]


powered by FreeFind