Artigo: 625 / Publicação: 2005-08-01
IMAGINE CUP 2005 EM YOKOHAMA
Estou escrevendo hoje para vocês aqui de um quarto de hotel em Yokohama, no Japão, onde está havendo a Imagine Cup 2005. É um evento que começou na semana passada e está terminando exatamente hoje, dia primeiro de agosto. Trata-se de um campeonato mundial de computação promovido pela Microsoft, com representantes de 40 países, uma moçada muito louca, mas no sentido bom da palavra – verdadeiros gênios. Uma fauna com espécimes em todos os formatos imagináveis, desde os típicos nerds sebentos até tecno-hipongos-bichos-grilo, passando por criaturas sisudas com aspecto sombrio de monges medievais e samurais oxigenados tatuados usando roupas de grife. Para nosso orgulho, o Brasil está muito bem representado, com conterrâneos nossos disputando em quatro categorias, alguns deles envergando orgulhosos a camisa da Seleção canarinho.
Como sou novato em viagens ao Japão, passo à leitora a impressão que estou tendo de, pela primeira vez, estar realmente no primeiro mundo, mesmo já conhecendo Estados Unidos, Canada e Europa. Em locais onde vão turistas, até se consegue falar e se fazer entender em inglês, mesmo que tenhamos imensa dificuldade em entender o inglês falado pelos japoneses. No entanto, saindo destes locais, a sensação que tenho é que sou analfabeto e retardado. Não consigo ler nada, não consigo entender nada e não consigo que ninguém me entenda. Para o básico do básico, tenho um bloquinho onde desenho as coisas que preciso, até agora com algum sucesso para que meus interlocutores tenham alguma idéia do que estou dizendo. Sobre entender japonês, a única coisa que percebi é que o camarada mais famoso e popular por aqui é um tal de Kudasai, que é mencionado o tempo todo nas conversas, nos alto-falantes e na TV, especialmente no final das frases. Mas o que encanta mesmo é a gentileza do povo japonês. Seja homem, mulher, idoso ou idosa, tanto faz, tratam o visitante com uma doçura incrível. Já sei que vou sentir muita saudade desse lindo país e dessa boa gente.
Pelo menos, terminando aqui o serviço hoje, ainda ficarei alguns dias rodando de trem-bala para um lado e para o outro. Depois de amanhã chega aqui o meu velho, Catpai, que topou se meter em apuros nessa bandas comigo, ele que é preletor da Seicho-No-Ie e sempre quis visitar os locais sagrados de sua seita aqui na terra do sol nascente.
Aqui na Imagine Cup 2005 são nove as categorias de disputa, sendo que temos finalistas brasileiros em quatro delas: projeto de software, soluções para Microsoft Office, jogos e desenvolvimento web. As outras catgegorias são: algoritmos, planos de negócios, tecnologia da informação, rendering e filmes de curta-metragem. Neste momento em que estou aqui a batucar nas pretinhas ainda não se sabe quem venceu as disputas, mas na semana que vem eu conto.
A equipe brasileira de Office Design é a Solvent-OD, com o Projeto ArtiFACTORY. É composta por André Furtado, Adeline Sousa, Madson Menezes e Raony Araújo, todos da Universidade Federal de Pernambuco. O André, aliás, é o grande entusiasta da comitiva brasileira. Cursando mestrado em Ciência da Computação, inscreveu-se em oito categorias e está aqui disputando como finalista em duas delas. É o único competidor do mundo brigando em duas modalidades, fazendo com que até os organizadores tenham que fazer alguma ginástica de modo que não haja sobreposição de horários nas apresentações perante os jurados. A outra participação do André é na equipe Solvent-SD, modalidade de projeto de software, onde atua junto com Gustavo Andrade, Leonardo Sobral e Igor Gatis, todos do Recife, também da Federal de Pernambuco. Aliás, o Igor, de tão fera que é, acabou de ser contratado pela Microsoft e começa lá em Redmond em janeiro próximo.
A Solvent-SD venceu 163 times brasileiros em pouco mais de seis meses de competição para chegar à etapa mundial. A equipe criou um sistema para melhorar a experiência turística. O turista-usuário, utilizando um dispositivo móvel, pode enriquecer sua experiência de viagem com a busca e visualização de pontos mais visitados, sons relacionados ao local, textos e até aproveitando a avaliação de outros turistas. O sistema pode ainda gerar na língua-mãe do usuário expressões locais para que ele possa arranhar um papo com os nativos do pedaço e, se quiser, encontrar amigos seus que estejam próximos. As prefeituras de Olinda e já estão de olho no aplicativo criado pela Solvent-SD, que tem recebido outras propostas para tornar o produto comercial.
Na modalidade de jogos visuais, temos um time do eu-sozinho, com Bruno Feu, da PUC de Minas Gerais. Nossa equipe em desenvolvimento web, Projeto Wazoo!, ficou em segundo lugar, ou seja, não vieram para Yokohama. Seus componentes, Eduardo e Roberto Sonnino, cursam o segundo grau no Centro Educacional de Mogi das Cruzes – Objetivo.
Bem, a leitora já percebeu que a turma de Pernambuco está bombando, e é isso mesmo. Uma de suas rivais mais perigosas teria sido a equipe da Índia, que acabou não podendo vir a Yokohama em função das terríveis enchentes que aconteceram por lá. Uma pena, pois teria sido uma briga boa. No que tange aos fenômenos naturais, as equipes aqui já enfrentaram três terremotos, sendo dois fraquinhos e um mais ou menos. Por sorte os belos prédios desta região high-tech do Japão são construídos para resistir a tremores e só sentiu os abalos pra valer quem estava nos andares mais altos.
Para a garotada que está aqui dando duro, a Imagine Cup é um ótimo atalho para aumentar a rede de contatos com pessoas de todo o mundo e dá uma boa ajuda para definir o futuro profissional de cada um. Bem, termino aqui por hoje, deixando minhas recomendações à leitora e lembrando que viajar pro Japão uma semana depois de pegar pneumonia pode ser uma boa jogada, pois economiza-se bastante com desodorante e polvilho Granado. É que o antibiótico cavalar mata tudo que é bactéria e a criatura fica sem inhaca e sem chulé.
[ Vide coluna seguinte também sobre esta viagem. ]
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