É O MELHOR DOS TEMPOS, - de Robin Sloan |
No ano 2014 as pessoas têm acesso a uma variedade e profundidade de informações que seriam inimagináveis em épocas passadas. |
Todos contribuem de alguma maneira. |
Todos participam para criar um mundo de mídia vivo e pulsante. No entanto, a Imprensa, como você a conhece, deixou de existir. As fortunas do Quarto Poder se foram. As empresas de notícias do Século XX mudaram muito, uma reminiscência solitária de um passado não tão distante. |
A estrada para 2014 começou em meados do Século XX. |
Em 1989, Tim Berners-Lee, um cientista de computação do laboratório de física de partículas CERN, na Suíça, inventou a World Wide Web. |
1994 vê a fundação da Amazon.com. Seu jovem criador sonha com uma loja que vende de tudo. O modelo da Amazon, que viria depois a estabelecer o padrão para vendas pela Internet, é baseado em recomendações personalizadas automáticas – uma loja que pode oferecer sugestões. |
Em 1998, dois programadores de Stanford criam o Google. Seu algoritmo é um eco da linguagem da Amazon, tratando links como recomendações e, a partir deste fundamento, impulsiona a mais efetiva máquina de busca do mundo. |
Em 1999, TiVo transforma a televisão libertando-a das restrições do tempo – e dos comerciais. Quase ninguém que experimenta volta atrás. |
Naquele ano, uma empresa "ponto-com" iniciante chamada Pyra Labs lança o Blogger, uma ferramenta pessoal de publicação. |
Friendster é lançado em 2002 e centenas de milhares de jovens avançam para povoá-lo com mapas incrivelmente detalhados de suas vidas, seus interesses e suas redes sociais. Também em 2002, Google lança o Google News, um portal de notícias. As redes de notícias reclamam. Google News é editado inteiramente por computadores. |
Em 2003, Google compra o Blogger. Os planos da Google são um mistério, mas seu interesse pelo Blogger não é sem razão. |
2003 é o Ano do Blog. |
2004 seria lembrado como o ano em que tudo começou. |
A Revista Reason envia a seus assinantes um exemplar que traz na capa uma foto-satélite de suas casas, contendo informações personalizadamente direcionadas para cada assinante. |
Sony e Phillips lançam o primeiro jornal eletrônico do mundo produzido em larga escala. |
Google lança o Gmail, com um Gigabyte de espaço gratuito para cada usuário. |
Microsoft lança o Newsbot, um filtro de notícias sociais. |
Amazon lança o A9, uma máquina de busca baseada em tecnologia Google que também incorpora as recomendações da Amazon, sua marca registrada. |
E então, Google lança suas ações na bolsa. |
Com novo capital sobrando, a companhia faz uma grande aquisição. Google compra a TiVo. |
2005 – Em resposta aos recentes lances da Google, a Microsoft compra a Friendster. |
2006 – Google combina todos os seus serviços – TiVo, Blogger, Google News e todas as suas buscas em algo chamado Google Grid, uma plataforma universal que oferece uma quantidade funcionalmente ilimitada de espaço para armazenamento e largura de banda, para compartilhar e armazenar mídias de todo tipo. Sempre online, acessível de qualquer lugar. Cada usuário seleciona seu próprio nível de privacidade, podendo armazenar seu conteúdo com segurança no Google Grid, ou publicá-lo para que todos o vejam. Nunca foi tão fácil para qualquer um, para todos, criar e consumir mídia. |
2007 – A Microsoft responde ao crescente desafio da Google com o Newsbotster, uma rede de notícias sociais e uma plataforma de jornalismo participativo. Newsbotster gradua e ordena notícias, baseado no que estão lendo e vendo os amigos e colegas de cada usuário, permitindo que todos comentem sobre o que vêem. |
O ePaper da Sony é mais barato do que o papel real neste ano. É o meio escolhido para o Newsbotster. |
2008 vê surgir a aliança que desafiará as ambições da Microsoft. Google e Amazon juntam forças para formar a Googlezon. Google fornece o Google Grid aliado a uma tecnologia de busca insuperável. Amazon fornece a máquina de recomendações sociais e sua gigantesca infra-estrutura comercial. Juntos, eles utilizam os conhecimentos detalhados sobre a rede social de cada usuário, dados demográficos, interesses e hábitos de consumo para prover uma personalização total de conteúdo e de propagandas. |
A Guerra das Notícias de 2010 é particularmente notável, pois nenhuma rede de notícias dela participa. |
Googlezon finalmente dá um xeque-mate na Microsoft, oferecendo facilidades que a gigante do software não pode igualar. Utilizando um novo algoritmo, os computadores da Googlezon constroem novas matérias e artigos dinamicamente, pinçando sentenças e fatos de todas as fontes de conteúdo e recombinando-as. O computador escreve um novo texto para cada usuário. |
Em 2011, o dormente Quarto Poder desperta para tomar uma drástica decisão. A empresa The New York Times processa judicialmente a Google, alegando que os robôs capturadores de fatos da companhia são uma violação à lei de direitos autorais. O caso vai até a Suprema Corte que, em 4 de agosto de 2011 dá ganho de causa à Googlezon. |
No domingo, 9 de março de 2014, Googlezon lança o EPIC. |
Bem-vindo ao nosso mundo. |
EPIC vale por "Evolving Personalized Information Construct", um sistema pelo qual nosso vasto e caótico universo de mídia éfiltrado, ordenado e transmitido. Todos contribuem agora – desde entradas de blog, até imagens de câmeras de telefones, passando por reportagens em vídeo e investigações completas. Muitas pessoas são pagas também – uma pequena fatia do imenso faturamento da Googlezon, proporcional à popularidade das contribuições de cada um. |
EPIC produz um pacote de conteúdo personalizado para cada usuário, utilizando suas escolhas, seus hábitos de consumo, seus interesses, seus dados demográficos, sua rede social – para moldar o produto. |
Surge uma nova geração de editores-freelance, pessoas que vendem sua habilidade de se conectar, filtrar e priorizar o conteúdo do EPIC. |
Todos nós recebemos conteúdo de vários editores; EPIC nos permite mesclar e comparar suas escolhas sejam elas quais forem. Na melhor das hipóteses, editado para os leitores mais capacitados, EPIC é um resumo do mundo – mais profundo, mais amplo e com mais nuances do que qualquer coisa antes disponível. |
Mas na pior das hipóteses, e para gente demais, EPIC é meramente uma coleção de curiosidades, em sua maioria inverídica, um conjunto de informações inteiramente estreito, superficial e sensacionalista. Mas EPIC é o que queríamos, é o que escolhemos. E seu sucesso comercial abafou quaisquer discussões sobre mídia e democracia, ou ética jornalística. Hoje, em 2014, The New York Times deixou de estar online, num débil protesto contra a hegemonia da Googlezon, o Times se tornou um jornal exclusivamente impresso destinado apenas à elite e aos mais velhos. Mas talvez houvesse um outro jeito. |
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Vídeo: http://www.robinsloan.com/epic/
[2004-12-14]
- c.a.t.
http://catalisando.com.br