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Totalmente inesperada |
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Artigo: | 536 |
Não confie em planejamento de colunista. Às vezes embola tudo. |
Publicado em: | 2002-03-04 | |
Escrito em: | 2002-02-28 |
Hoje completamos 11 anos de Caderninho. Boa oportunidade para lhes dizer como tem sido prazeroso sentar aqui diante da tela em branco e, a cada edição, garimpar pela rede e pelas fontes, de modo a escrever algo digno de sua leitura. Às vezes uma coluna exige escavações supertrabalhosas, outras parece que o tema me cai dos céus. Inspiração? Ela pinta mesmo debaixo do chuveiro, pedalando ou caminhando na praia. Em algumas raras ocasiões lanço mão de experiências pessoais para elaborar um texto, mas na maioria dos casos coloco-me aqui diante da máquina como um completo ignorante sobre este ou aquele assunto. E, ainda assim, volta e meia me aparece uma leitora com aquele papo de "Ai, kéti, como você sabe essas coisas todas, hein?". Que sei o quê, minha senhora. Quase sempre tenho que aprender ali na hora, na base da paulada. Senão não sai nada que preste. Tem vezes que me aparecem uns assuntos tão cabeludos que nem consigo dormir direito. O jeito é pentear o tema com cuidado máximo, pois aí o risco de escrever asneira é altíssimo. Logicamente, nem sempre escapo de uma outra pisada. Afinal, perfeito só Allah. Ademais, a leitora não perdoa e, quando encontra furo, baixa impiedosamente o sarrafo, e com toda razão. Enche-se a caixa de emails, e então lá se vai uma manhã inteira apaziguando os ânimos, dando explicações e já escrevendo logo a retificação para a semana seguinte. Contudo, por sorte, isso não acontece com tanta freqüência assim, e vamos tocando o barco.
Seja como for, quando na pescaria dos temas deparo-me com um fato espetacular, curioso, engraçado ou construtivo, não imaginam a delícia que é mergulhar no assunto de cabeça, por mais complicado que seja, e ser capaz de esmiuçar a questão de um modo que até minha mãe consiga entender. Bem, confesso que às vezes recebo umas ligações na segunda mesmo, com ela dizendo: "Meu filho, hoje não deu." Desculpo-me e explico que, em casos assim em que aparece algum treco urgente que demanda uso de jargão, tomaria muito espaço em papel para explicar tudo em detalhes. E espaço aqui em nossas páginas é ouro. Aí, me perdoe santa mãezinha, mas é pauleira mesmo.
De resto, num retrospecto desses 11 anos, posso dizer que em termos de software, fui me transformando suavemente de consultor de sistemas em batucador de teclinhas, com rápidas incursões em artes plásticas, canto e locução. Na seção periféricos, comecei casado, inquietei, separei, galinhei, sosseguei e recasei, atualmente labutando incansavelmente para gerar sisteminhas novos. No gabinete principal, aí sim, as mudanças foram bem mais profundas. Levei tiros de laser nas córneas, dados por um doutor irresponsável; mordi asfalto caindo de moto e quebrando um monte de ossinhos e ossões; experimentei amnésia vulcânica sulfúrica; entupiu um pedaço do meu coração, precisando enfiarem lá dentro um anelzinho de inox que atende pelo nome de stent e, como se não bastasse, acompanhei o incontrolável êxodo de todos os meus fios de cabelo que ficavam sobre o telhado. Não deram ouvido aos meus apelos e fugiram todos, para sempre.
Férias mesmo aqui na coluna, só duas. A primeira vez foi em 1995, quando desbundei completamente e fiquei rodando durante meses como mochileiro lá no velho mundo, derrubando todas as pontes atrás de mim e, na volta, reconstruindo só as que valiam a pena. À partida dessa peregrinação, tive a bênção da Tia Cora que, mais do que tia, quase mãe, disse: "Vai, catinho. Se você voltar e quiser recomeçar, tem espaço aqui procê." Acho que ela sabia ver o futuro, pois voltei e recomecei. As segundas férias foram em 2000, após uma rica experiência profissional paralela que começou como um grande sonho, deu muito trabalho e terminou como uma triste decepção, em perfeitíssima sincronia com a bolha das pontocoms, e com uma ajudinha de aspectos sombrios da natureza humana. Dessa vez foram só 50 dias, mas deu para apreciar velhos e novos caminhos, rodando em estradas distantes com a minha vizinha, a namorada com quem depois me casei.
Nesse monte de reminiscências, só faltou um poderoso salamaleque aos BBS's e à internet, que serviram para fazer explodir minha cabeça (e a de todos nós) e, através dos contatos humanos e bons amigos que fiz por seu intermédio, crescer em mente, alma e espírito, com um agradecimento especial aos dois mestres que me puseram no caminho: Sr. Américo Oliveira, hoje Microsoft, e Sr. Peter Hohl, hoje Weavers.
E termina aqui essa coluna que saiu totalmente diferente do planejado, pois tinha em ponto de bala dois assuntos tecnológicos supimpas. Só que, na hora de escrever a data da publicação, notei que era aniversário, e acabou dando nisso. De resto, não deixarei de lhes oferecer alguns links, como sempre, no agateemiéli da data de hoje, <http://catalisando.com/infoetc/20020304.htm>. Viva os nossos 11 anos e, de coração, obrigado por ler o cat.
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